Vivemos um desgoverno que naturaliza e parece torcer pela morte
Minha maior vontade hoje era chegar neste final de 2020 podendo comentar sobre boas notícias, como uma suposta contenção do avanço da pandemia e sobre eventuais planos de vacinação. Entretanto, infelizmente, não é possível. A pandemia avança em ritmo acelerado e aqui, no Brasil, vivemos um desgoverno que naturaliza e parece torcer pela morte de ainda mais brasileiros.
Para explicar com dados o que quero falar, pedi autorização do Brasil de Fato para incluir alguns gráficos que ajudem na visualização. O primeiro deles, que segue abaixo, mostra o aumento na média móvel de mortes em todo o mundo desde o início do ano. Nele, é possível observar o aumento progressivo e consistente nesta mortalidade desde meados de outubro.
Seguem na mesma linha os gráficos abaixo, que tratam, respectivamente, desta mesma curva da média móvel de mortalidade na Europa e nos Estados Unidos.
Percebam que em ambos os casos, a média de mortalidade já é maior que o pior momento no primeiro pico, por volta do mês de abril.
Agora vamos para o gráfico brasileiro. Vocês perceberão que ainda não chegamos ao pior nível, atingido anteriormente no final de julho, mas estamos apresentando também um crescimento consistente e contínuo. Neste ritmo, pode não demorar para que tenhamos novamente um trágico número de mortes diárias, superando a casa das mil. Inclusive, se considerarmos o intervalo de tempo entre o maior pico no mundo até então, que ocorreu no final de abril, e o maior no Brasil, que ocorreu no final de julho, não é difícil visualizar que o nosso cenário para fevereiro e março pode ser tenebroso.
É preciso, inclusive, ter em mente que as mortes de agora são reflexo de adoecimentos e espalhamentos do vírus que vêm acontecendo nas últimas semanas. Logo, é preciso agir com ainda mais vigor agora para diminuir o impacto para os meses de janeiro e fevereiro.
Fazer propaganda pedindo para as pessoas usarem máscaras, não aglomerarem e lavarem as mãos é importante, mas estão longe de ser a solução para o problema. Governos estaduais e municipais precisam tomar medidas firmes, já que o governo federal é inoperante. E tomar medidas firmes é mais do que mandar fechar estabelecimentos ou afirmar que comprarão as vacinas. É preciso garantir condições também de sobrevivência para quem precisa sair de casa para sobreviver.
Não podemos deixar de bater nesta tecla. A situação é grave, mas há espaço para diminuir a pancada. Todo este prognóstico é dinâmico e pode mudar, se tivermos ações governamentais concretas. Sem isso, os números escancaram a nossa situação. Ainda há tempo para salvar a vida de dezenas de milhares de brasileiros.
Todos os gráficos acima foram feitos por mim no site Our World in Data, que faz um importante monitoramento da pandemia em todo o planeta.
Edição: Vanessa Gonzaga