Ofá é uma palavra de origem Yorubá, que significa arco e flecha. E com a ideia do arco e da fecha serem as ferramentas de caçar histórias e construir novas narrativas sobre a trajetória e vida da população negra que nasce a Casa do Ofá, no Sítio histórico de Olinda. O projeto é de Kemla Baptista, pernambucana radicada no Rio de Janeiro, que é mãe, contadora de histórias, pedagoga, atriz e empreendedora social.
Segundo Kemla, a Casa do Ofá será a primeira casa pensada para educação antirracista de Pernambuco voltada especificamente para as crianças. “Muitas pessoas já fazem muitos trabalhos importantes relevantes, consistentes relacionados à cultura afro-brasileira, mas ter um espaço voltado para a criança desde a primeira infância para que ela possa ter experiências, descobertas e aprendizados sem o aspecto escolar e sem o olhar escolar (nada contra), sem o peso da escolarização, é a primeira”, diz.
A Casa será a materialização do projeto “Caçando Estórias”, que é o primeiro canal no Youtube que apresenta as africanidades para crianças. “Eu precisava ter um espaço em que eu pudesse receber as pessoas, receber as crianças, montar uma biblioteca e fazer coisas que eu não conseguia fazer sem ter uma sede. Surgiu uma casa muito legal, que o proprietário alugou a baixo custo, em Olinda. Então, a Casa do Ofá nasce antes da pandemia, no final de 2019, não sabíamos sequer o que era covid-19. Pegamos essa casa que estava desocupada há muitos anos e que estava completamente sucateada para construirmos juntos. A ideia era ter feito a reforma em 2020, mas, não foi possível, só consegui fazer algumas coisas bases, como colocar pia, caixa d’água e afins, com os meus próprios e poucos recursos”, conta.
Para a educadora e mãe, mesmo com as dificuldades impostas pela pandemia, a Casa do Ofá tem uma missão bastante urgente e, por isso, precisa começar a funcionar. “A Casa do Ofá é fundamental, ela é urgente. Ano passado vivemos o ápice do que é o racismo no Brasil. Vimos diversos casos até o finalzinho do ano de ofensas, ataques, de ódio que não podem acontecer, mas, que acontecem. Sabendo disso, entendemos que para construir uma nova postura e uma nova visão de cidadania e de respeito e de equidade, é necessário trabalhar com a criança. Possivelmente essa nossa geração que está aí ou a dos nossos pais tivessem vividos experiências afrobrasileiras de qualidade, mostrando as relevâncias dessas tradições, possivelmente não estaríamos hoje tendo que discutir que ser preto é positivo e que nossas histórias importam sim”.
O desafio é concluir os reparos e conseguir abrir as portas para as crianças e as atividades. Para ajudar nesse processo, está aberta uma campanha de financiamento coletivo, a famosa vaquinha. A meta é arrecadar R$ 4 mil para a compra de materiais de construção e também para conseguir arcar com as despesas dos profissionais que vão trabalhar na obra.
A pretensão é que a casa ofereça encontros de Mediação de Leitura e Musicalização com o projeto Caçando Estórias, brincadeiras com o corpo através da Capoeira, danças africanas, danças populares brasileiras, circo, atendimento terapêutico e psicopedagógico para crianças e famílias, roda de contos com piquenique no quintal e ainda abrigar um ateliê Afro Lúdico do Caçando Estórias. A casa também receberá gratuitamente crianças e famílias moradoras das comunidades do entorno do sítio histórico de Olinda, mas, só deve iniciar após o processo de imunização coletiva contra o coronavírus. Para contribuir, basta acessar o link e contribuir com quantias a partir de R$25.
Edição: Vanessa Gonzaga