Cerca 1,74 milhão de pessoas vivem no Sertão pernambucano, o que é quase 20% de toda a população do estado. A região tem 56 municípios e será o foco da última etapa da análise sobre quais partidos estão governando mais prefeituras e largam na frente para a disputa das eleições de 2022. Dois partidos têm amplo domínio no Sertão: o PSB do governador Paulo Câmara e o MDB do senador bolsonarista Fernando Bezerra Coelho. Partidos tradicionais da direita, como PTB, DEM e PSDB perderam espaço e viram avançar siglas como o Avante e partidos bolsonaristas como o Republicanos, o Podemos e o PSL. Na esquerda, o PT manteve sua importância e viu PCdoB e PDT voltarem à cena.
Até dezembro o PSB era a sigla dominante na região, comandando 20 prefeituras e 487 mil pessoas. O partido, no entanto, tinha apenas um dos seis municípios com mais de 50 mil habitantes: Arcoverde. Mas o PSB tinha sete dos 13 municípios sertanejos com população entre 30 mil e 50 mil. O partido perdeu cinco dos 20 municípios, mas conquistou outros cinco, mantendo-se com 20 prefeituras. Perdeu cidades relevantes, como Arcoverde e Petrolândia; mas ganhou Salgueiro e Bodocó; e conseguiu manter as prefeituras de Afogados da Ingazeira, Sertânia e São José do Egito, por exemplo. No balanço final, manteve o número de prefeituras, subiu o quantitativo populacional governado para 500 mil, mas perdeu o posto de partido mais relevante para o MDB.
Em Pernambuco o MDB é historicamente liderado pelo senador Jarbas Vasconcelos e por seu amigo, o deputado federal Raul Henry. Mas em 2017 o senador Fernando Bezerra Coelho entrou para o MDB e tem disputado a liderança do partido internamente. Hoje ele é líder do governo Bolsonaro no Senado. De maneira informal, FBC comanda as articulações do MDB no Agreste e Sertão, enquanto Jarbas e Henry ficam com o litoral e zona da mata.
O MDB tinha apenas quatro prefeituras no Sertão, mas já era segunda sigla mais relevante da região, governando mais de 400 mil pernambucanos. Isso porque além de Cabrobó (34,3 mil habitantes), Lagoa Grande (25,6 mil) e da pequena Itacuruba (4,9 mil), o partido também tinha – e segue tendo – a prefeitura de Petrolina (350 mil habitantes). Sob comando de FBC, o partido subiu de quatro para 10 prefeituras sertanejas. Manteve Petrolina, perdeu Cabrobó, mas conquistou Arcoverde (74,5 mil habitantes), Tabira, Tacaratu, Lagoa Grande (todos entre 25 e 30 mil habitantes) e outros. Agora o partido governa 575 mil sertanejos, sendo o maior nesse quesito.
O MDB também foi o partido que mais cresceu em contingente populacional que governa no Sertão, com uma ampliação de 160 mil pessoas. O PSB cresceu pouco mais de 12 mil. O PSL tinha apenas uma prefeitura – Araripina, de 84,5 mil habitantes –, mas conquistou Trindade (30,5 mil) e agora governa para 115 mil sertanejos, sendo o 3º partido mais relevante na região. O Partido dos Trabalhadores (PT) tinha quatro prefeituras: Serra Talhada (86,4 mil habitantes), Orocó (15 mil) e as pequenas Granito (7,5 mil) e Calumbi (5,7 mil), mas perdeu esta última, mantendo-se como quarto partido mais relevante do Sertão pernambucano, governando para 109 mil pessoas.
A dentista e ex-secretária de Saúde Márcia Conrado, prefeita da maior cidade governada pelo PT; e seu vice Márcio Oliveira (PSD). Ao centro, o ex-prefeito Luciano Duque (PT). / Comunicação PT
O quinto partido mais relevante no Sertão agora é o Avante (antigo PTdoB), que não tinha qualquer prefeitura na região, mas conquistou cinco na eleição de novembro e agora governa para 88 mil pessoas. O maior município sertanejo conquistado pelo partido é Cabrobó, de 34,3 mil habitantes. Os bolsonaristas Republicanos (da Igreja Universal) e Podemos (antigo PTN) são outras siglas que não tinham prefeituras, mas passaram a figurar na cena política – mas sem a mesma relevância do Avante.
O Republicanos conquistou três prefeituras – Jatobá, Betânia e Brejinho, todas com menos de 15 mil habitantes – e agora governa para 35 mil sertanejos, sendo o 10º partido mais relevante do Sertão pernambucano. O Podemos conquistou apenas Santa Terezinha (11,8 mil). Duas siglas do campo progressista também conquistaram seu espaço. O PCdoB venceu em Ibimirim (29,5 mil habitantes) e o PDT em Moreilândia (11,3 mil).
Quem também tem muito a comemorar é o PP. A sigla tinha apenas uma prefeitura, a de Ibimirim (perdida para o PCdoB), mas conquistou outras três: Santa Maria da Boa Vista (42 mil habitantes), Manari (21,4 mil) e Santa Cruz da Baixa Verde (12,6 mil). Isso significa um acréscimo de 47 mil pessoas na população governada pelo partido, o que coloca o PP como o terceiro partido que mais cresceu no Sertão (atrás apenas do MDB e do Avante). A sigla agora é a sexta mais relevante na região, governando para 76 mil sertanejos. O sétimo partido mais relevante é o PSD, que perdeu um dos quatro municípios que governava, mas manteve-se com responsabilidade sobre 75 mil pessoas.
O PSD ainda espera decisão da Justiça Eleitoral sobre Tuparetama, município de 8,2 mil habitantes. Por lá, o prefeito Sávio Torres (PTB) foi reeleito com 54,6% dos votos, mas possui condenação por improbidade administrativa, o que levou o Ministério Público Eleitoral (MPE) e o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) a considera-lo inelegível, com base na Lei da Ficha Limpa. O opositor Dêva Pessoa (PSD) teve 43,9% dos votos, mas pode se tornar prefeito.
O partido de Sávio Torres, o PTB, está justamente entre os maiores derrotados do Sertão pernambucano. O partido tinha sete prefeituras, governando para 135 mil pessoas, sendo o quarto mais relevante na região. No entanto, na eleição de novembro, o PTB foi derrotado em seis das sete cidades. A única em que conseguiu reeleição foi justamente Tuparetama, que pode perder na Justiça Eleitoral. A única nova cidade conquistada foi Petrolândia, de 36,6 mil habitantes. Em situação um pouco melhor está o PSDB, que governava para 91 mil habitantes em dois municípios, mas perdeu a prefeitura de Manari (21,5 mil) e manteve Ouricuri (69,5 mil) e agora é apenas a oitava sigla mais relevante do Sertão pernambucano.
Outras siglas da direita simplesmente desapareceram do Sertão. Alguns tinham apenas uma prefeitura e foram derrotados. O PMN perdeu Santa Filomena (14,5 mil habitantes), o Solidariedade perdeu Jatobá (14,8 mil), o Patriota (antigo PRP) perdeu Floresta (32,9 mil) e o DEM perdeu Bodocó (38,2 mil). Mas nada se compara com o estrago que as eleições fizeram no PL no Sertão do estado. O partido, que tenta ganhar musculatura para lançar candidatura própria ao Governo do Estado, era o terceiro mais relevante da região, governando para quase 190 mil sertanejos em nove prefeituras. Mas em novembro o PL perdeu todos os municípios e desapareceu da cena política sertaneja.
Edição: Vanessa Gonzaga