Segunda cidade mais populosa do estado de Pernambuco, Jaboatão dos Guararapes acumula diversas problemáticas urbanas e atuais. Na semana passada a cidade viveu um episódio de violência que chocou o município. Na última quarta (20), uma Agente Comunitária de Saúde foi violentada sexualmente e assaltada dentro da Unidade de Saúde da Família (USF), na comunidade de Comportas, zona rural da cidade. A vítima não será identificada para manter sua segurança e optou por não dar entrevistas sobre o caso.
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Nesta manhã desta sexta (29), aconteceu um ato contra a violência e em defesa dos Postos de Saúde de Comportas, em frente ao Posto de Saúde Estrada São Bartolomeu. Movimentos populares, como o Fórum de Mulheres de Pernambuco, Coletivo de Mulheres de Jaboatão, Movimento dos Trabalhadores por Direitos (MTD), moradores do bairro e representantes de alguns sindicatos reivindicam o investimento em políticas de segurança e nas unidades, como também no cuidado e na valorização dos trabalhadores e trabalhadoras. Depois das movimentações em frente ao Posto, foi escolhida uma comissão de moradores, sindicalistas e movimentos feministas para se reunir com a gestão municipal durante a tarde.
Para Amanda Salazar, que é assistente social e moradora de Comportas, o caso de violência com a agente comunitária é uma consequência de vários fatores e ausências. “Nós vivemos em uma batalha para continuar morando nos sítios. Sofremos diariamente com a especulação imobiliária. E as pessoas estão ficando sem saída. Algumas foram vendendo suas terras para empresas e elas foram construindo galpões. Empresas têm suas vigilâncias patrimoniais. Só fazem a segurança do muro pra dentro. Não temos mais uma segurança cidadã. Não tem mais as pessoas nas ruas, então Comportas se tornou uma área violenta. Tem gente que diz que isso é desenvolvimento, eu não concordo”, diz.
A área onde aconteceu o crime é composta por sítios e há algum tempo as residências estão perdendo lugar para as empresas. Comportas é hoje um local estratégico para diversas empresas que têm escolhido sua localização para implementar galpões, fábricas e depósitos. Isso pela proximidade com o Aeroporto, com Suape e com a BR 101, vias importantes para o escoamento de materiais para outros lugares.
“Nosso sentimento é de medo. Estamos cobrando segurança, que é dever do Estado, queremos um olhar mais cuidadoso para as unidades de saúde. Eu sempre digo que não foi só uma ACS, foi uma mulher e poderia ser qualquer funcionária da unidade. Vamos continuar cobrando em nível municipal e estadual que cuidem das suas servidoras e da sua população”, defende Clivia Borba, que é diretora do Sindicato dos Servidores Municipais de Jaboatão dos Guararapes (SINSMUJG) e também Agente Comunitária de Saúde.
Para Irani Silva, do Coletivo de Mulheres de Jaboatão, o que está acontecendo em Comportas é um reflexo do descaso da gestão municipal com a cidade “Precisamos responsabilizar o prefeito Anderson Ferreira. Neste governo se acentuou esse descaso. A primeira coisa que esse prefeito fez foi retirar o programa “Botão do Pânico”, que atendia mulheres vítimas de violência. Hoje nós não temos sequer uma secretaria para diálogo, as mulheres se resumiram a uma diretoria, dentro de uma outra pasta”, conta.
Ainda segundo Clivia, a falta de trabalhadores na segurança é a realidade de todas as unidades de saúde do município e casos como estes são muito propícios a acontecerem. “A gestão não cuida do servidor, nem das nossas condições de trabalho. Estamos esperando que a gestão, pelo fato que ocorreu e por ser o primeiro do Estado, sirva de exemplo para que a prefeitura tenha um novo olhar para essas unidades de saúde que estão dentro das comunidades. Todas nós dos Postos de Saúde da Família estamos assustadas, inseguras. Antes a gente trabalhava com a grade aberta, agora não dá mais”, defende.
A equipe do Brasil de Fato Pernambuco entrou em contato com a Prefeitura do Jaboatão dos Guararapes para questionar a denúncia de ausência de seguranças nas unidades de Saúde, mas a prefeitura preferiu não responder. Já sobre quais medidas de segurança na comunidade, a informação dada é de que “Há rondas frequentes da Guarda Municipal nas áreas onde existem órgãos públicos. A função da Guarda Municipal é fiscalizar o patrimônio público, não tem poder de polícia. Já foi solicitado à Polícia Militar reforço de segurança na área. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil”.
Para Salazar, o cenário de insegurança no bairro precisa ser combatido com várias ações "Têm que ser vários mecanismos. A principal de todas é a gente não sofrer tanto a especulação imobiliária para que a gente possa permanecer aqui. Não tem como dizer só que quer mais policiamento, ele é importante, tem que ter. Mas, temos também que dar mais condições para ter mais movimento de pessoas, guardas municipais, mais equipamentos públicos. Precisamos de cuidados e políticas públicas eficazes”, defende.
Edição: Vanessa Gonzaga