Há quem pense que o Carnaval pernambucano se resume a Olinda e Recife, mas o interior do Estado também vive intensamente os festejos de momo com manifestações culturais próprias e está sentindo o impacto da proibição da festa em 2021 por conta da pandemia de coronavírus.
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Em Nazaré da Mata, na zona da mata sul do estado, o maracatu rural é uma tradição passada de pai para filho que envolve cultura e religiosidade. O Mestre Bi, do Maracatu Estrela Brilhante fala sobre o impacto deste ano sem carnaval por conta da pandemia de coronavírus “O foco mesmo do maracatu rural é o carnaval, né? O carnaval simboliza muito um ritual de mais de 100 anos aqui em Nazaré da Mata, que tem maracatus centenários. Então, um ano sem carnaval é um ano de tristeza, mas vamos superar, isso vai passar e a gente vai voltar a festejar como era antes”. Confira na reportagem:
Ele aponta que não é apenas o cancelamento do carnaval que tem um impacto na vida do grupo “No maracatu, a gente ganha num ano para gastar no outro, ganha no meio do ano para gastar no carnaval. Então, a gente deixou de participar de editais como o FIG (Festival de Inverno de Garanhuns), a Fenearte, que geraria uma renda para garantir esse meio tempo, entre um carnaval e outro. Então, gera um déficit financeiro, que a gente não vai ter pra recompor o que vinha ganhando”
Na cidade de Bezerros, no agreste pernambucano, os papangus fazem a festa. Com fantasias que cobrem dos pés à cabeça, crianças, jovens, adultos e idosos vão de casa em casa para os vizinhos adivinharem quem é o mascarado. O cantor Ciel Santos, que cresceu brincando vestido de papangu e hoje também faz seus shows em Bezerros, conta sobre a proporção que a folia do papangu tem na cidade. “ O carnaval de Bezerros movimenta a economia da cidade. As pessoas vêm para o carnaval de Bezerros, vem excursões, tem ônibus enormes, vem muita gente, porque o carnaval tomou essa proporção na folia do papangu” justifica.
Já em Triunfo, no sertão, são os caretas que fazem a festa com as cores nas roupas e nos relhos, que são um tipo de chicote que eles levam nas mãos. O artesão Arnaldo Antônio da Silva possui deficiência visual e confecciona os relhos para as pessoas brincarem no carnaval “Eu ia para a rua vender esse trabalho, os relhos, mas devido a essa pandemia não pude ir, aí a gente não pode animar a festa e os trabalhos não existem na cidade e perde também a economia do lugar, perde muito. O desenvolvimento de Triunfo agora nessa pandemia não pode ter muito, porque tá tudo parado. Mas em nome de Jesus que o próximo ano possa ser melhor”.
Em 2021, a ausência do Carnaval faz os pernambucanos sentirem falta das manifestações da cultura popular, da festa de rua, de cantar o hino de Pernambuco em ritmo de frevo e maracatu na festa do povo. E isso também para aqueles que sobem ao palco, como o cantor Ciel Santos. O impacto na cultura popular e na arte é um impacto financeiro sobretudo, a gente faz show no carnaval para receber no São João; os órgãos públicos já tem esse descaso mesmo com quem faz cultura, a gente sabe que acontece. Então, o impacto agora é de “se apresentar onde? fazer como?”, porque já está se aproximando e até agora nenhum edital para o carnaval sobre como a gente vai seguir daqui pra frente foi aberto, pelo menos que eu tenha conhecimento”.
Mas a cultura popular resiste, com a esperança de um Carnaval em 2022 para fazer a alegria do povo e garantir o sustento dos profissionais da cultura e trabalhadores informais, como mostra a rima de Mestre Bi:
“ Por causa da pandemia
não teremos carnaval
e o maracatu rural
guardou sua fantasia.
E o meu show de fantasia
esse carnaval não tem,
mas eu me preparo bem
para eu me sair ileso,
deixando o meu grito preso
pra soltar ano que vem.”
Edição: Monyse Ravena