“A gente vendia bem, vivia bem, você nem imagina” morador de Tejipió, na zona oeste do Recife, Seu Arthur, mais conhecido como Artur do Espetinho, relembra o bom faturamento no Carnaval pernambucano. Há mais de 20 anos trabalhando como vendedor de bebidas e lanches como o próprio espeto, tapioca e macaxeira com charque, o comerciante vive do trabalho informal com as vendas, aproveitando festas, eventos e feriados para fazer sua renda mensal. Com a pandemia e a restrição dos eventos, ele viu o dinheiro sumir.
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Artur faz parte dos 33 milhões de brasileiros que vivem do trabalho informal. O número equivale a 39,1% da população. A informalidade tem sido a saída para muitas pessoas que perderam suas vagas no mercado de trabalho formal, com carteira assinada. O trabalho informal é hoje responsável por 62% da taxa da ocupação total do país, de acordo com os dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua trimestral, com dados dos meses de novembro e dezembro de 2020 e janeiro de 2021.
A crise e a pandemia jogaram os trabalhadores na informalidade, como afirma Edvaldo Gomes, que trabalha como ambulante no centro do Recife e é presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio Informal (Sintraci) “A gente que está na rua percebe todos os dias que os trabalhadores aumentaram, não só quem vende água, pipoca; a gente vê de tudo aqui, gente que faz faculdade, que estava desempregado”. A constatação de Edvaldo reafirma os dados da PNAD, que mostra que mesmo com a taxa de desemprego estagnada em 14% há cerca de seis meses, o total de pessoas ocupadas cresceu 4,8%, o que significa mais 3,912 milhões de pessoas em trabalhos sem carteira assinada e sem direitos.
Para Edvaldo, que sempre trabalhou no mercado informal, o cenário de pandemia, crise, fim do auxílio emergencial e o cancelamento de festas como o carnaval tem impacto direto na renda “Eu trabalho no Carnaval vendendo óculos de sol em Olinda e a gente ganha muito bem, mas esse ano não vai ter essa renda extra. Tá complicado porque depois do carnaval tem o inverno, tem a dificuldade da crise econômica…” projeta o vendedor, que também era beneficiário do Auxílio Emergencial, que encerrou no mês de janeiro.
Artur, que também recebeu o auxílio, afirma que voltar às vendas tem sido difícil com a alta no preço das suas matérias primas, como a carne, por exemplo “Tem gente que ainda vai, só que a despesa da gente é alta, não vale a pena. Não tem quase ninguém no centro do Recife, no Recife Antigo”. Com essa dificuldade, ele tenta incrementar a renda também com a venda de artesanato, mas que também não é suficiente “Ninguém tem dinheiro. O povo chega, pergunta o preço e fala ‘depois eu volto’... aí pra mim o comércio parou”.
Observando os números crescentes da pandemia de covid-19 no estado, o Governo do Estado decidiu suspender as festas e o feriado de Carnaval, medida necessária para evitar o colapso da rede de saúde com o aumento de casos, mas a falta de ações para gerar renda para os trabalhadores têm afligido o setor, como afirma Cristiano Silva, presidente do Sindicato dos Comerciantes Informais de Pernambuco (Sindicipe) “A gente enquanto sindicato está tentando negociar com o governo do Estado, a Prefeitura, mas até agora as portas estão fechadas. A gente quer falar de um auxílio municipal, de um fomento para os comerciantes informais. O que a gente tem até hoje são opções de crédito, mas estão voltadas a quem é MEI [Microempreendedor Individual], mas quem vende nos ônibus, nos sinais, eles não atendem os critérios para aderir esse crédito”, explica.
Renda Extra
Nesta semana, a cervejaria Ambev anunciou a criação de uma plataforma virtual que incentivo de até R$ 255 para ambulantes e trabalhadores do comércio informal que serão afetadas pelo cancelamento dos blocos de rua e festas de carnaval no país. Em parceria com o aplicativo de entrega de bebidas Zé Delivery, o “Ajude um Ambulante” prevê apoiar cerca de 20 mil profissionais. O cadastro é feito no site da iniciativa. No Recife, os vereadores Dani Portela e Ivan Moraes, do PSOL, protocolaram nesta segunda (8) uma indicação ao prefeito João Campos (PSB) para que o gestor viabilize um programa de Renda Básica Permanente que ofereça auxílio de R$ 350,00 às famílias recifenses em situação de pobreza extrema.
Para seu Arthur, a expectativa é que o cenário seja melhor em outro momento de festa e aumento das vendas, o São João “Vai passar e a gente vai seguir em frente. Eu estou esperando que tenha São João, que aí vai ser bom pra todo mundo, quando a vacina chegar, tiver todo mundo vacinado, aí os ambulantes vão conseguir se equilibrar. Aí dá pra viver”, conclui.
Edição: Monyse Ravena