Pernambuco

ENTREVISTA

Presidente do Sindipetro PE explica política de preço e efeito da venda de Refinarias

O governo está ameaçando vender oito refinarias em todo o Brasil, que juntas correspondem a 50% de todo o refino do país

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Preço do dólar, do barril de petróleo e a política de preço da Petrobrás podem ajudar a explicar os aumentos sucessivos - Foto: Governo do Mato Grosso do Sul

Só em 2021, duas medidas de reajuste aumentaram consideravelmente o preço do gás de cozinha e de combustíveis como a gasolina e o diesel. A alta nos preços pesa no bolso dos consumidores, que pagam pela oscilação no mercado internacional mesmo sendo o Brasil um dos maiores produtores de petróleo do mundo. Para explicar o que causa e quais as consequências desses aumentos, o Brasil de Fato Pernambuco entrevistou Rogério Almeida, presidente do Sindicato dos Petroleiros dos Estados de Pernambuco e da Paraíba. Confira:

Brasil de Fato : Há algum tempo vemos a ameaça da privatização da Petrobrás e da venda das refinarias. Como anda essa questão no momento com a privatização da Refinaria Landulpho Alves-Mataripe na Bahia?

Rogério Almeida: Para falar das refinarias no nosso país é preciso entender o que está acontecendo agora. O governo está ameaçando vender oito refinarias em todo o Brasil, que juntas correspondem a 50% de todo o refino do país. Hoje a produção de petróleo no Brasil é de 2,6 milhões de barris por dia; nossas refinarias operando em 100% conseguem refinar 2,4 milhões para abastecer um mercado que é gigantesco no nosso país, de 2,2  milhões de barris por dia. 

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Nós temos petróleo e temos refinaria para atender o nosso mercado. Precisa importar um ou outro produto para complementar algumas regiões, mas o governo está indo na direção contrária. Está vendendo as refinarias, inclusive a da Bahia, que está sendo fechado negócio com a Mubadala, que é um fundo soberano dos Emirados Árabes. Vejam, um fundo soberano está vindo comprar a soberania do Brasil. Temos que lutar para não entregar nossas riquezas, porque quem vai pagar o preço é a sociedade. 

O gás de cozinha está batendo os 100 reais, tem postos vendendo gasolina a R$5,20 e vai ter mais aumento, porque foi anunciado há alguns dias o aumento no diesel, gasolina e gás de cozinha. A sociedade tem que lutar, não podemos entregar nossas refinarias porque senão vamos ter que pagar cada vez mais caro por esses combustíveis.


Rogério Almeida é Presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Industria do Petróleo de Pernambuco e Paraíba (SINDPETRO PE/PB) / Fátima Pereira

Brasil de Fato: Além dessa alta dos preços, quais os impactos da venda dessas refinarias? 

Rogério: O Brasil como um país soberano na questão do petróleo não precisa acompanhar o mercado internacional como vem sendo hoje, porque se aumenta o petróleo lá fora, aumenta o combustível aqui no mesmo dia. Isso é incoerente. Agora  no hemisfério norte o inverno e as nevascas dificultam a extração em algumas regiões e isso afeta a gente, os conflitos no Oriente Médio nos afetam aqui. Não é justo que a dona de casa pague em dólar pelo gás de cozinha, que poderia estar sendo vendido hoje a R$40 e está sendo vendido a quase R$100. Por quê? 

Existem três fatores que influenciam nessa alta de toda a cadeia do petróleo. Um é o dólar. Quanto mais o dólar sobe, mais cara fica a gasolina nessa política de preço que está sendo usada hoje. O segundo é o valor do barril de petróleo, quando o preço do barril sobe. Estava em torno de 25 dólares e agora está batendo os 70 dólares. Se sobe o valor do barril, sobe o dos combustíveis.

O terceiro item é o mais escandaloso, que é a taxa portuária e de importação, que a Petrobras é obrigada a colocar no seu preço. Por exemplo: se uma importadora vem aqui no país, e traz seus combustíveis dos EUA, ela paga uma taxa portuária e de importação para transportar esse combustível até aqui. Esse valor é por litro, que seja, por exemplo, 20 centavos por litro. Hoje, a Petrobrás com essa política de preço precisa pagar esses 20 centavos mesmo não tendo trazido o combustível. É mais um calo no bolso do consumidor, que não tem nada a ver. A gasolina que está sendo vendida em R$ 5,10 poderia estar sendo vendida a R$ 3,50.

Hoje a Petrobras é uma empresa pública, do povo, quem manda na Petrobrás é o Governo Federal. A gente tem escutado que o presidente não tem controle da Petrobrás mas ele tem, porque quem nomeia o presidente da Petrobrás é o Presidente da República. O presidente pode sim parar com essa política de preço de paridade internacional, que é o PPI.

Brasil de Fato: Durante a pandemia, o sindicato observando esses aumentos, têm feito ações de solidariedade, como a venda a preço popular de botijões. Qual a importância dessas ações durante esse período em que a população enfrenta uma crise econômica e sanitária?

Rogério: Desde a nossa última greve, que tinha na pauta a diminuição do preço dos combustíveis em fevereiro de 2020, nós já vínhamos com essa pauta porque a gente que está dentro da Petrobras sabe que o combustível poderia ter um preço mais baixo e ser vendido a preço justo. A Petrobras lucra muito? lucra. Mas, em contrapartida, a população está sofrendo e com a chegada da pandemia mais ainda, porque as pessoas estavam mais em casa consumindo mais gás de cozinha, os caminhoneiros rodando para abastecer o país com o diesel aumentando. Isso é incoerente. Ali o governo já deveria ter segurado ou até baixado o preço dos combustíveis. 

Aqui eu tenho que abrir um parênteses para explicar porque a gente pauta a Petrobras como empresa pública e não ser privatizada. Para baixar o preço dos combustíveis basta o governo atuar e dizer à Petrobras para baixar por um preço que dê lucro e abasteça o mercado nacional. Isso pode ser feito hoje porque a Petrobras é uma empresa pública, se ela passa a ser privada, como a da Bahia, acabou. O pessoal lá da região vai ter que obrigatoriamente pagar pelo preço internacional. 

A gente começou a fazer essas ações com gás de cozinha, doando ou vendendo a preço de custo e dessa vez com o anúncio da greve dos caminhoneiros, nós fomos até eles, servimos um café da manhã junto com a Campanha Mãos Solidárias e conversamos e explicamos como é composto o preço para que todos entendam como funciona a política de preço. 

Em seguida fomos até uma comunidade no centro do Recife e fizemos uma doação de 50 botijões de gás e conversamos com a sociedade para explicar a doação, porque somos contra os aumentos e isso foi feito em todo o país pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), que também distribuiu voucher para a compra de gasolina, distribuiu combustível para motoristas de aplicativos... tudo para ajudar uma parte da população e mostrar que é possível baixar o preço dos combustíveis, mas falta apenas a vontade do Governo Federal.

 

Edição: Monyse Ravena