Mais da metade da população mundial, ou 4,1 bilhões de pessoas usam a internet. Mas estima-se que a população global chegou a 7,8 bilhões de pessoas em 2020. Isso significa que não é todo mundo que está conectado. Segundo a União Internacional de Telecomunicações (UIT), 3,6 bilhões de pessoas continuam excluídas da comunicação online. Para falar sobre isso, o Programa Prosa e Fato convidou Taíse Assis, analista de sistemas e militante da Consulta Popular. Na entrevista, Taíse falou sobre motivos para o alto número de pessoas que ainda estão sem acesso à internet no país e como o uso das mídias sociais influencia na vida dos brasileiros. Confira os principais trechos:
Brasil de Fato Pernambuco: Qual o motivo dessa enorme quantidade de pessoas que ainda não tem acesso a internet no mundo?
Taíse Assis: Podemos notar que países com maior defasagem em relação ao acesso à internet são os chamados países em desenvolvimento. Quanto menor o nível de desenvolvimento, maior essa exclusão digital. Seja por falta de acessibilidade à internet nas suas regiões, seja por falta de habilidade e letramento digital. Aqui no Brasil, por exemplo, o maior motivo pelo qual as pessoas não têm acesso a banda larga é o preço alto do serviço. Para conectar essas pessoas, além de investimento, infraestrutura e barateamento do serviço, é fundamental pensar na educação digital dessas pessoas.
BdF PE: Para os que têm acesso, segundo o estudo da União Internacional de Telecomunicação, há um abismo de gênero entre os usuários. A maioria é de homens, 52% das mulheres no mundo estão fora da rede. Por quê as redes são tão desiguais e o que isso influencia na sociedade?
Taíse: Penso que a assimetria entre homens e mulheres conectados na internet reflete a desigualdade de gênero existente nesse mundo capitalista e patriarcal. No geral, tem-se uma falsa ideia de que os homens são mais aptos para tarefas relacionadas à engenharias e às ciências exatas, por exemplo. Isso acaba criando essa cultura desigual que deve ser rompida, na medida que mais mulheres se livrem dessa pressão machista. Essas desigualdades também acontecem entre zonas rurais e urbanas. Aqui no Brasil, as regiões norte e nordeste têm menos pessoas conectadas que o sul e o sudeste. Se detalharmos esses números levando em consideração as classes sociais e o nível de escolaridade, teremos também desigualdades. Infelizmente, ainda temos um longo caminho a percorrer.
BdF PE: E do ponto de visto do direito à informação, qual o papel da internet?
Taíse: Quando Tim Berners-Lee (considerado o pai da web, pois inventou o protocolo que possibilitou a internet como nós utilizamos hoje), pensou no ciberespaço como um lugar livre de discriminação e preconceitos, infelizmente, essa sua ideia não se confirmou. Sabemos que grandes empresas de tecnologia como Google e Facebook modulam conteúdos e os chamados algoritmos determinam quem tem acesso ao quê, que tipo de informação é disponível para a pessoa. Isso é grave na medida de que há uma falsa sensação de que o que está na internet é verdadeiro e sério, e isso é um perigo.
BdF PE: Começamos falando sobre internet e agora vamos para as mídias sociais. Tem uma diferença entre as mídias sociais e as redes sociais; as mídias têm um contexto mais amplo e as redes sociais são as relações entre grupos e pessoas. Como essas mídias e as redes socais têm afetado o comportamento das pessoas?
Taíse: Estamos vivendo em um mundo mediado por plataformas digitais, cada vez mais substituímos atividades banais como ir ao cinema, ao shopping, fazer mercado, por aplicativos que estão instalados e disponíveis em nosso bolso. Nos locomovemos, alugamos apartamentos; até mesmo paquerar não é mais possível sem essa mediação. Além disso, ficamos ansiosos por likes e podemos ter vidas irreais e paralelas nas redes sociais, que acabam sendo incompatíveis com o nosso dia-a-dia, e isso pode trazer ansiedade e angústia. Ao final das contas, estamos interagindo muito bem nas redes, mas estamos perdendo habilidades de socialização na vida real.
BdF PE: Aqui no Brasil, três em cada quatro brasileiros acessam a internet, o que equivale a 134 milhões de pessoas, ou seja, muita gente. E mais ainda, quase todas elas usam as mídias digitais como Facebook e Instagram como fonte de informação. Como essas plataformas impactam as nossas vidas?
Taíse: Aqui no Brasil a gente tem uma situação grave, que acaba ferindo a neutralidade da rede, em que muitas operadoras de celular oferecem acesso "gratuito" às plataformas como Whats App e Facebook. Por isso, muitas pessoas, por não terem mais o pacote de dados, utilizam dessas plataformas para navegar na internet. E aqui temos algumas questões. A primeira delas é que para algumas pessoas a internet é sinônimo dessas plataformas, é ter uma visão limitada da internet. A segunda é que essas plataformas e seus algoritmos decidem qual tipo de informação vamos acessar, então nesses tempos de pós-verdade, onde cada um fala o que quer, viver nesse mundo modulado pelas redes é um terreno fértil para a desinformação e a disseminação de fake news.
Edição: Vanessa Gonzaga