Como se não bastasse uma pandemia, seus impactos econômico-sociais e, acima de tudo, os mais 250 mil mortos, o Brasil ainda lida com um governo que impõe a necropolítica – aquela que, em linhas gerais, acredita que o Estado possui “licença para matar” em prol de um discurso de ordem – e que também estimula a violência contra as mulheres cotidianamente, seja a partir do palavras que representam um desrespeito ou então com a imposição de politicas que flexibilizam o controle de armas no país, aumentando o índice de violência.
:: Receba notícias de Pernambuco no seu Whatsapp. Clique aqui ::
O mundo vive uma crise sanitária sem proporções, porém no Brasil a situação pode ser lida como catastrófica. As intervenções jurídicas e políticas do governo Bolsonaro acabam gerando um tratamento desigual, movido por interesses difusos, privilegiando uns, em detrimento de outros, o que, por conseguinte, prejudica o estabelecimento de um desenvolvimento social justo e equitativo.
Nesse mês da mulher, onde se comemoram as lutas travadas ao longo de séculos em busca da igualdade, direitos e dignidade, a necessidade de enfrentamento a tudo que reduz os direitos femininos e nos flagela urge.
Para além da necessidade de fazer o enfrentamento a um governo incompetente, que despreza a vida humana, é importante entender que o desafio para destruir todas as formas de opressão e de exploração que as mulheres sofrem passa por construir outra sociedade; uma sociedade justa para todas e todos.
Portanto, o feminismo não pode ser uma luta para que a mulher encontre um lugar melhor dentro do capitalismo. Ou se resumir pura e simplesmente em ocupar espaços de poder. O feminismo tem que ser anticapitalista. Não se pode ser contra a opressão de gênero e a favor da opressão de classe. Ele tem que, sobretudo, ser antirracista. Não se pode ser contra opressão de gênero e ser a favor da opressão de raça.
O feminismo tem de ser trans-includente. Não se pode ser contrário à opressão de gênero e ser favorável à transfobia; tem que ser interseccional, se não estaremos falando apenas por direitos de poucos. O feminismo e a luta das mulheres têm que ser contra qualquer forma de opressão.
Yanne Teles é advogada, professora, Mestre em Direitos Humanos pela Universidade Pablo de Olavide. Sevilha/Espanha, Integrante da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia – ABJD e membro da Comissão Nacional de Direitos Humanos do CFOAB.
Edição: Vanessa Gonzaga