Pernambuco

Coluna

As ameaças do vírus e de mais uma usina nuclear

Imagem de perfil do Colunistaesd
Movimentos e organizações sociais protestam há anos contra instalação de Usina Nuclear em Itacururba - João Zinclar
Temos de concretizar a nossa defesa da vida e o cuidado com a Mãe Terra e com o nosso povo.

A maioria dos estudos liga a difusão do Coronavírus à destruição do ambiente natural do planeta e à crise ecológica. Apesar disso, o governo quer construir novas usinas nucleares. Desta vez, na pequena cidade de Itacuruba, às margens do rio São Francisco, no sertão de Pernambuco. 

:: Receba notícias de Pernambuco no seu Whatsapp. Clique aqui :: 

Na década de 1980, os cinco mil habitantes de Itacuruba foram deslocados para a instalação da Usina Hidrelétrica de Itaparica. Construíram uma “nova” cidade. A população se sentiu vítima das promessas não cumpridas. O slogan da CHESF tinha sido “Mudar para melhor!’.  Para se saber os reais efeitos daquele êxodo forçado, em 2006, portanto, trinta anos depois, o Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (CREMEPE) apontava que Itacuruba era a cidade brasileira com maior índice percentual de suicídios e 63% de sua população apresentava algum sofrimento mental. 

É nessa cidade que o Ministério de Minas e Energia decidiu construir a Central Nuclear do Nordeste, com  seis reatores e capacidade de 6.600 megawatts elétricos. O investimento será de R$ 64,404 bilhões. 

Além do debate ambiental sobre o imenso dano das usinas nucleares à natureza, a estocagem de lixo radioativo e a real possibilidade de acidente às margens do São Francisco, a legislação de Pernambuco proíbe a construção de usinas nucleares “enquanto não se esgotar toda a capacidade de produzir energia hidrelétrica e energia oriunda de outras fontes”. Ora, durante anos, o Estado tem sido o sexto maior produtor de energia eólica do país. É o terceiro em capacidade de geração de energia. Além disso, não há esgotamento da produção de eletricidade. Nada justifica essa usina nuclear. 

Remanescentes de Quilombos, como os grupos Negros de Gilu, Ingazeira e Poço dos Cavalos; três povos indígenas que desde tempos imemoriais convivem naquela terra: os Pankará no Serrote dos Campos, Tuxá Campos e Tuxá Pajeú se unem a movimentos e organizações sociais que protestam contra essa decisão política que não leva em conta o povo e a natureza. Dom Gabriele Marchesi, bispo de Floresta, a diocese a qual pertence a paróquia de Itacuruba e toda a Igreja Católica, representada pela CNBB Nordeste II, formada por 21 dioceses de quatro estados, se juntou à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e se manifestam contrários à usina.  

Energia nuclear ou atômica é a energia produzida nas usinas termonucleares, que utilizam o urânio e outros elementos, como combustível. Uma usina é nuclear quando, para gerar eletricidade, utiliza o calor proveniente da fissão dos átomos do urânio. O urânio é um recurso mineral não renovável, encontrado na natureza. Ele pode ser usado para produzir eletricidade, mastambém na produção de armamentos, como uma bomba atômica. Os riscos da utilização da energia nuclear são imensos. Há o problema do lixo nuclear e a contaminação do ambiente provoca danos irreversíveis à saúde, como câncer, leucemia, e deformidades genéticas. 

O Japão é o país que já sofreu as consequências de duas bombas atômicas no tempo da guerra e há anos recentes os resultados terríveis do vazamento atômico provocado por um tsunami. Em 2016, a Conferência Episcopal do Japão (CBCJ) pediu ao mundo o fim da produção de energia nuclear e publicou o livro: “Abolição da energia nuclear: um apelo da Igreja Católica no Japão”. Em julho de 2020, o livro foi lançado no Vaticano e com a presença do papa Francisco. Temos de concretizar assim a nossa defesa da vida e o cuidado com a Mãe Terra e com o nosso povo. 

Para quem quiser aprofundar mais este assunto, na próxima sexta feira (19), às 19h no canal do YouTube da Comunidade Bremen – Marcelo Barros o programa “Com quem estamos juntos” vai entrevistar Francisco Whitacker, que coordena a mobilização brasileira contra a política nuclear do país e também o padre Luciano Aguiar, da diocese de Floresta.

 

Edição: Vanessa Gonzaga