Um ano após a primeira morte pela covid-19 em solo brasileiro a luta contra o coronavírus parece não acabar. Pelo contrário, o alargamento do tempo para combatê-lo faz com que a população tenha que lidar com outras tantas mutações dele. O biólogo molecular e pesquisador do Núcleo de Bioinformática do Instituto Aggeu Magalhães – Fiocruz PE, Gabriel Wallau, explica que as mutações são processos normais dos vírus, mas, que o resultado é de ainda mais dificuldades na imunização e, por consequência, é a inda mais difícil a erradicar do vírus. “Qualquer organismo acumula mutações ao longo do tempo. Isso é normal, sempre aconteceu. O grande problema, que não é restrito do Brasil, mas, nós damos mais possibilidades para que isso aconteça, porque nós temos um pífio controle da pandemia: não adotamos medidas corretas, a transmissão do vírus sempre ficou bem acima do que se esperava para poder controlar a pandemia".
O pesquisador afirma que a situação do Brasil está repercutindo em todo o mundo "Nós nunca controlamos realmente a transmissão do vírus por aqui. Se não fizemos isso, infectamos mais pessoas e eles têm mais chances de acumular mutações. O Brasil está sendo visto como um laboratório do vírus devido a essa ausência de controle efetivo”, explica.
Desde janeiro sabe-se que existe uma nova variante que é uma descendente da linhagem B.1.1.28, que já circulava no Brasil e que é mais transmissível que as outras linhagens. Ela foi batizada de P.1 e foi identificada em 91% dos testes de covid-19 coletados em pacientes de Manaus, o que teria causado o colapso do estado no início deste ano. Segundo o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, há registros de presença desta variante em 22 estados brasileiros e mais de 987 casos infectados.
Em comunicado técnico publicado pelo Observatório Covid-19 Fiocruz, pesquisadores alertam para a dispersão geográfica no território de ‘variantes de preocupação’, assim como sua alta prevalência nas três regiões do Brasil avaliadas (Sul, Sudeste e Nordeste). O novo protocolo de RT-PCR, desenvolvido pela Fiocruz Amazônia, foi utilizado nas unidades de apoio ao diagnóstico e centrais analíticas da Fiocruz para avaliação de cerca de mil amostras dos estados de Alagoas, Minas Gerais, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. O protocolo detecta a mutação comum em três das ‘variantes de preocupação’, mas, não especifica o quantitativo da P1.
Em Pernambuco, até o momento, só tem confirmado dois pacientes infectados pela P1, mas que vieram de Manaus receber o tratamento no Hospital das Clínicas. Portanto, não existem dados que comprovam a circulação desta variante, nem tampouco a transmissão comunitária dela. Entretanto, Wallau sugere que muito provavelmente temos a presença da P1 em Pernambuco, porque existe uma dificuldade em conseguir acompanhar o real cenário da pandemia. “Se o vírus já espalha facilmente, imagina tendo uma linhagem ainda mais transmissível. Essa linhagem surgiu finalzinho de Novembro e início de Dezembro em Manaus, então desde aquela época voos entre estados e até internacionais estavam ocorrendo. Com isso, é esperado que essa linhagem se espalhasse por todo o país e já esteja por aqui também faz tempo”.
Para conseguir descobrir qual linhagem do vírus é preciso sequenciar o genoma específico de cada caso. Ou seja, o correto seria ter um estudo massivo do DNA do vírus das pessoas que testam positivo para a covid-19 em todo país. “A dificuldade da detecção é que quando elas surgem, precisamos sequenciar o genoma dessa linhagem e adaptar os nossos métodos que antes funcionavam muito bem para as antigas, mas, que precisam focar e funcionar para esta nova. Precisamos continuar sequenciando de forma massiva, principalmente aqui no estado”, defende Gabriel. A equipe de reportagem do Brasil de Fato Pernambuco entrou em contato com a Secretaria de Saúde do Estado para ter acesso as medidas de acompanhamento e testagens referentes à nova variante, mas, até o fechamento desta matéria não obteve retorno.
Ainda não há um consenso científico, por isso, não existem informações se esta nova variante causa novos sintomas, nem se precisa de medidas de prevenção específicas. Segundo o médico Infectologista do Hospital Oswaldo Cruz, Bruno Ishigami, o que se sabe até aqui é que a P1 além de ser mais transmissível, é mais letal, e que os cuidados continuam iguais ao do SAR Covs 2. “As medidas continuam iguais a do início da pandemia. O que tenho dito é que precisamos melhorar a qualidade das máscaras que estamos usando. Usar as do tipo PFF2 e N95, se você frequenta ambientes com grande circulação de pessoas. Por exemplo, vai ao supermercado, vai à loja de construção, ao consultório médico ou transporte público, tem que usar uma máscara com mais qualidade. Além disso, isolamento social, ele é fundamental”, diz. Sobre quais seriam as saídas possíveis para o momento, Bruno defende “respeitar as medidas sanitárias, temos visto muita dificuldade enquanto a isso. Temos que lutar por auxílio emergencial, por vacina. A saída da pandemia é na coletividade, se continuarmos defendendo os direitos da população como um todo, vamos sair da pandemia”.
Edição: Vanessa Gonzaga