Em setembro de 2020, diversos sindicatos e entidades organizaram uma campanha que espalhou outdoors pelo estado de Pernambuco com a frase “O senhor da morte chefiando o país”. No Brasil, já são mais de 280 mil mortes por covid-19. Uma dessas organizações é a Associação dos Docentes da Universidade Federal Rural de Pernambuco (Aduferpe), que agora está sendo indiciada a pedido do presidente Jair Bolsonaro.
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A professora Érika Suruagy, que era presidenta da associação na época, foi surpreendida com a intimação “Diante desse cenário com tantas coisas que deveriam preocupar a mente do dirigente máximo da nação: comprar vacinas, fazer testagem em massa, propiciar auxílio emergencial para que as pessoas pudessem ficar em suas casas, fazer o devido isolamento social. Estamos há alguns meses sem o auxílio emergencial, e o presidente vem solicitar abertura de investigação pela Polícia Federal, tendo como alvo uma dirigente sindical, ou seja, uma tentativa clara de cercear a liberdade sindical, a liberdade de expressão e a liberdade de pensamento. Além de sindicalista, também sou professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco, né? Então, ficamos extremamente estarrecidos com esta situação”, relembra. Confira na Reportagem:
Em solidariedade à professora e ao sindicato, a própria Universidade Federal Rural de Pernambuco, diversas entidades e movimentos populares demonstraram seu apoio. entre elas a União Nacional dos Estudantes (UNE), que iniciou uma campanha para colocar os outdoors espalhados pelo estado de Pernambuco em todo o país, como relata Élida Elena, vice presidenta da UNE “Esta situação específica de Pernambuco não é um caso isolado, é uma expressão da gravidade da situação política que o Brasil vivencia hoje, né? E a UNE tem mais de 80 anos de história e já viveu vários momentos de regimes antidemocráticos no nosso país e a visão, a perspectiva e a construção de projeto de país é com educação para o seu povo, mas perpassa também pela defesa da democracia para que o País possa se desenvolver. Então, a pauta da democracia é um gene na identidade da UNE.
A situação de perseguição não aconteceu apenas em Pernambuco, o sociólogo Tiago Costa Rodrigues teve que prestar depoimento à Polícia Federal, por causa de outdoors com críticas ao presidente em Palmas, no estado de Tocantins. Já o cientista político e professor paulista Daniel Cara teve sua conta do Twitter desativada por chamar a gestão atual de genocida. Um fato em comum a esses casos: todos são professores.
Para Érika, a ação desses professores é uma tentativa de chamar atenção do governo para a gestão da pandemia “Não é justo que nós sejamos criminalizados por lutar pela vida, é isso que a gente está fazendo: lutar pela vida, para que a gente tenha um controle da pandemia que está completamente descontrolada, né? Então, a peça de outdoor era exatamente para chamar a atenção. Não tínhamos em nenhum momento a intenção de ferir a honra do presidente, que é isto que eles estão alegando, injúria. Não, não era esta a intenção. Era de pôr luz, de chamar a atenção para a má gestão do governo em relação à pandemia, em um país que hoje somos o epicentro do mundo em relação à Covid”, explica.
Outro caso de perseguição nos últimos dias foi o do influenciador Felipe Neto, intimado pela Polícia Federal por causa de suas opiniões nas redes sociais. Ele foi acusado pelo filho do presidente, Carlos Bolsonaro. Élida comenta que é importante que a sociedade não se cale “Como ele tem muita projeção nas redes sociais, ele é um influenciador importante hoje, inclusive no combate às fake news ele tem sido muito atacado, porque tem sido corajoso em denunciar este momento que o Brasil vem enfrentando no Governo Bolsonaro, além da opinião política que ele tenha até sobre a esquerda, enfim, não é sobre isso. É fundamental que as pessoas se posicionem, é um direito as pessoas emitirem opinião política, seja lá qual for a sua profissão”.
Em nota, a Polícia Federal informou que foi instaurado inquérito, por requisição do Ministro da Justiça e Segurança Pública, para apurar eventuais crimes contra a honra do presidente da república pela Aduferpe. O inquérito já foi relatado e encaminhado ao poder judiciário.
Edição: Monyse Ravena