Na tarde desta quarta-feira (24), cerca de 80 famílias ligadas ao Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) que vivem no Acampamento Palmares, em Juazeiro (BA), no Vale do São Francisco, estão sofrendo com um despejo organizado por seguranças particulares ligados ao proprietário da área.
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As famílias, que vivem no local desde 2009, se dedicam a produção de frutas e animais de pequeno porte.
Naiara Santos, dirigente estadual do MST, explica que o conflito se arrasta desde 2019, mas que com o fim do prazo de negociação com a Coordenação de Desenvolvimento Agrário (CDA), o proprietário resolveu agir de forma unilateral.
“Até então, o proprietário demonstrava interesse em repassar a área para as famílias através do Crédito Fundiário. Houve negociação com o Governo do Estado e o prazo era de seis meses para que a CDA pudesse encaminhar esse processo, mas esse prazo acabou ontem”, explica a dirigente.
“Não há nenhuma determinação judicial, mas o proprietário contratou uma segurança privada e está fazendo com que as famílias saiam da área”, explica.
A tensão no acampamento começou há cerca de duas semanas, quando o fornecimento de energia elétrica foi interrompido a pedido do então proprietário.
Na última sexta-feira (19), as famílias denunciaram que três viaturas da Polícia Militar da Bahia acompanhadas do proprietário e sua segurança privada bloquearam a saída de água que atende a área do acampamento, negando o acesso para o consumo e produção. As famílias também relatam terem ouvido tiros em frente ao acampamento.
Com o despejo, os ocupantes, que vivem no local há doze anos, ainda não têm para onde ir. "Até um segundo plano, vamos dar um jeito de abrigar as famílias nas nossas áreas, porque na rua não podem ficar, ainda mais com essa pandemia e crise sanitária”, explica Naiara Santos.
De acordo com nota veiculada pelo MST, o acampamento é fruto de uma ocupação realizada em novembro de 2009 na fazenda Mariad, localizada na CAJ, distrito de Itamotinga, zona rural de Juazeiro (BA).
A área estava abandonada após o colombiano Gustavo Duran Bautista, antigo proprietário da fazenda, ser preso por tráfico de entorpecentes, usando, inclusive, as uvas produzidas na fazenda para facilitar a ilicitude.
Em 2016, a fazenda foi leiloada, ignorando a presença e a produção das famílias na área.
O despejo no Acampamento Palmares não é o primeiro na região. Em novembro de 2019, cerca de 900 famílias dos acampamentos Abril Vermelho, em Juazeiro (BA), e Iraní, em Casa Nova (BA), sofreram um despejo violento com repressão policial.
Edição: Rodrigo Durão Coelho