Nascido em 4 de outubro de 1941, em uma família de classe média, em São Luís do Maranhão, Ruy Frazão era o quinto de sete filhos. A família chegou a viver na capital Rio de Janeiro, mas voltaram a São Luís. Na adolescência, Ruy já publicava artigos nos jornais locais sobre as condições de trabalho dos professores.
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Em 1961, com 20 anos de idade, muda-se para o Recife, onde iniciaria a graduação de Engenharia na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Seu apelido era “Papa”, por ser o único católico no grupo de amigos. Militou na Juventude Operária Católica (JUC).
Após o golpe militar de 1964, Ruy Frazão passou a ser visto como um dos líderes, na UFPE, dos grupos de oposição ao regime. Numa noite em 1965, quando retornava para casa, foi preso e torturado pelos militares. Restava apenas um ano para concluir seu curso, mas o caso o levou a desistir.
Ainda foi aprovado para o seminário de “Economia do Desenvolvimento” na Universidade de Harvard (EUA), onde seu estudo recebeu menção honrosa. Em 1965, durante a Assembleia das Nações Unidas (ONU) em Nova York, Ruy Frazão esteve com outros estudantes denunciando as torturas que já ocorriam sob o regime ditatorial brasileiro.
Temendo a prisão e a tortura, desistiu da graduação e retornou ao Maranhão, onde foi aprovado num concurso federal de Exator/auditor Fiscal. Foi lotado em Viana, nas proximidades da capital São Luís.
No Maranhão, contribuiu com o Movimento de Educação de Base, grupo ligado à Igreja Católica e que atuava junto à população rural. E como militante da Ação Popular (AP), colaborou com os trabalhadores do rio Pindaré. Depois ingressaria no PCdoB.
Já casado (1968) e com um filho (1972), a perseguição aos movimentos camponeses se intensificava e, para completar, sua condenação pela Justiça Militar do Recife (1966) por suas atividades como estudante gerou um pedido de prisão (1971) que o obrigou a deixar o cargo de exator fiscal.
A situação levou Ruy e família a passarem a viver clandestinamente, com outras identidades. Mudou-se para Juazeiro (BA), onde estudou rádio e TV e ganhava a vida vendendo artesanato.
Na manhã de uma segunda-feira, 27 de maio de 1974, enquanto vendia artesanatos na Feira de Petrolina, que hoje fica no bairro Areia Branca, três policiais federais o agrediram, ameaçaram de morte e o levaram preso. A Polícia Federal levou até seus artesanatos e banca da feira. Nunca mais se teria notícias de Ruy Frazão.
Sua esposa Felícia de Moraes Soares escreveu cartas aos maiores órgãos de imprensa da época; a mãe de Ruy, Alice Frazão Soares, escreveu ao ministro da Justiça e viajou ao Recife em busca de informações do filho. Nada deu resultado.
Apenas em 1991 a Justiça Federal de Pernambuco responsabilizou a União pela prisão, assassinato e ocultação do cadáver de Ruy Frazão Soares. A decisão foi confirmada em 2002 e a União condenada a pagar uma indenização de R$6,5 milhões à família.
Os restos mortais de Ruy Frazão nunca foram encontrados e ele segue considerado “desaparecido político”. O nome do militante batiza logradouros em São Paulo, Rio de Janeiro e no Recife. Na capital pernambucana, a rua Ruy Frazão fica no bairro de Água Fria, enquanto a Macaxeira tem uma rua Rui Frazão.
Uma ocupação de um movimento de moradia num terreno da UFPE foi batizada com o nome Ruy Frazão. As mais de 300 famílias conseguiram o direito de construir suas próprias casas, com recursos garantidos pelo Governo Federal, através do Minha Casa Minha Vida Entidades. O Conjunto Habitacional Ruy Frazão segue em construção, num terreno cedido pelo Governo de Pernambuco no bairro de Afogados.
Edição: Vanessa Gonzaga