Em 13 de fevereiro de 1900 nasceu Gregório Bezerra no pequeno município de Panelas, que hoje abriga pouco mais de 25 mil habitantes nas proximidades de Caruaru, região Agreste de Pernambuco.
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De família humilde, precisou começar a trabalhar no corte de cana de açúcar já aos 4 anos de idade. Aos 9 anos já era órfão de pai e mãe. Os proprietários do engenho o levaram para o Recife com a promessa de colocá-lo na escola, o que nunca fizeram. Gregório foi empregado doméstico e depois deixado na rua.
Viveu nas ruas, dormiu sobre os sepulcros do cemitério de Santo Amaro. Trabalhou como carregador de bagagens na Estação Recife de trens, ajudante de pedreiro e jornaleiro. Seus amigos da venda dos diários liam as notícias para ele, analfabeto, que começou a se interessar em política.
Em 1917 trabalhava como ajudante de pedreiro e participou de manifestações por direitos trabalhistas e em apoio à Revolução Soviética, que colocava trabalhadores e pobres da Rússia no centro do poder do outro lado do mundo. Em duas ocasiões acabou detido por participar das manifestações. Passou cinco anos preso na antiga Casa de Detenção, atual Casa da Cultura, no centro do Recife. Deixou a prisão aos 22 anos decidido a se tornar militar. Se alfabetizaria aos 25 anos de idade, já no Exército, onde passaria 13 anos e chegaria à patente de sargento.
No fim da década de 1920, enquanto o capitão do Exército Luís Carlos Prestes liderava outros militares na Coluna Prestes, que percorreu o Brasil durante 3 anos; Gregório Bezerra atuava como instrutor da Companhia de Metralhadoras na então capital, Rio de Janeiro.
De volta ao Recife, filiou-se ao Partido Comunista (PCB) em 1930. Cinco anos depois, já integrando a Aliança Nacional Libertadora (ANL), Gregório liderou o “Levante Comunista” na capital pernambucana, que ocorreu também em Natal (RN) e no Rio de Janeiro, contra a ditadura Vargas.
O movimento acabou sufocado. Gregório foi condenado a 28 anos de prisão pelo assassinato de um tenente e pela tentativa de roubar as armas do CPOR, centro militar no bairro de Casa Forte, Recife. Ficou preso em Fernando de Noronha e, em seguida, no Rio de Janeiro, onde dividiu cela com outro líder do PCB, Carlos Prestes.
Com o fim da ditadura Vargas, Gregório Bezerra foi anistiado e eleito deputado federal (o mais votado!) por Pernambuco em 1946. Dois anos depois, com a criminalização do comunismo, teve seu mandato cassado. Viveu na clandestinidade por quase uma década, mantendo atuação militante nas zonas rurais do Paraná e de Goiás.
Quando do golpe militar de 1964, Gregório Bezerra foi preso já no dia 2 de abril. Já idoso e vivendo em Cortês, zona da mata sul de Pernambuco, ele articulava camponeses para uma resistência armada em defesa os mandatos do presidente João Goulart e do governador Miguel Arraes.
Levado para o Recife, sofreu uma sessão pública de torturas naquele mesmo dia 2 de abril, comandada pelo tenente do Exército Darcy Villoq Vianna, na Praça de Casa Forte. Os pés de Gregório foram imersos em solução de bateria automotiva (que contém ácido sulfúrico), foi obrigado a andar sobre britas e, por último, o militante comunista foi arrastado por um carro pelos arredores da praça, tudo transmitido por canais de TVs locais. “A dor que senti não sei descrever”, diria ele anos depois. A sessão pública de tortura só foi interrompida após intervenção das freiras do convento da Sagrada Família, que fica na mesma praça.
Condenado a 19 anos de prisão, Bezerra acabou liberto com 5 anos de pena. Isso porque seus camaradas de militância comunista sequestraram, em 1969, o embaixador dos EUA no Brasil e exigiram do regime militar que libertassem 15 presos em troca do estadunidense.
Gregório Bezerra exilou-se na União Soviética (URSS) por 10 anos, até a Lei da Anistia (1979), quando retornou ao Brasil. Faleceu em outubro de 1983, em São Paulo. Seu corpo foi velado por milhares de pernambucanos na Assembleia Legislativa e em seguida enterrado no cemitério de Santo Amaro.
Apesar das torturas (sofridas também em 1935), dizem os registros militares que Gregório nunca delatou um colega. Segue lembrado em poemas, músicas e novelas como um homem “feito de ferro e flor”.
Edição: Vanessa Gonzaga