Pernambuco

CENSO

Corte no orçamento do IBGE tem impactos diretos em agências de pesquisa em Pernambuco

Com corte de 96%, orçamento do Censo 2021 era de R$ 2 bilhões e caiu para 71 milhões de reais

Brasil de Fato | Recife (PE) |
O órgão suspendeu sua principal pesquisa e um concurso com 204 mil vagas - IBGE

O Orçamento 2021 para o Censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, teve uma redução drástica. Com um corte de 96%, os recursos aprovados na semana passada passaram de R$ 2 bilhões para pouco mais de R$ 71 milhões. Além do órgão suspender sua principal pesquisa e um concurso com 204 mil vagas, isso pode impactar diretamente em políticas como o Bolsa Família e Prouni.

A professora e pesquisadora no Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, Michelle Fernandez, ressalta a importância da pesquisa. “Para fazer políticas públicas, a gente precisa entender o perfil da nossa população, a gente tem que entender para quem a gente está criando políticas públicas e o que a nossa população está enfrentando. E isso a gente tem de forma organizada, no Brasil e no Mundo, através dos Censos Demográficos. Então, a realização do Censo é fundamental para nortear as políticas públicas no Brasil”. Confira na reportagem:


Ela explica que o apagão de dados pode induzir a erro na implementação de políticas públicas. “Com a suspensão do Censo, a gente não vai ter esses dados. Então, a gente ou não vai realizar políticas públicas, porque se a gente não sabe que um problema se apresenta, a gente não pode atacá-los ou solucioná-los; ou a gente vai realizar política pública, formular e implementar política pública, olhando para um perfil populacional equivocado”. 

Agências estaduais de planejamento apontam que o corte impacta o sistema estatístico nacional, como afirma Maurílio De Lima, presidente da Associação Das Instituições De Planejamento, Pesquisa e Estatística (Anipes). “Quando nós observamos nessas medidas adotadas com cortes orçamentários drásticos na principal pesquisa do IBGE e, com isso, observamos um certo abalo que ia sofrer o sistema estatístico nacional, se tivermos o enfraquecimento do IBGE, fez com que a ANIPES se movimentasse nesse sentido de falar com a população sobre a importância da discussão em torno do censo demográfico, do orçamento que foi cortado”, ressalta.

MIchelle explica que o papel do IBGE e das agências estaduais é complementar “Essa característica de comparação, a gente só vai conseguir se a gente tem um órgão nacional que nos possibilita a realização de uma pesquisa igual em todos os lugares e a gente sabe que o Brasil é um país desigual não só comparando os indivíduos, ele também é desigual comparando as regiões do país, a gente vê isso na pandemia, a gente sabe que tem regiões que têm mais acesso a recursos públicos de infra estrutura que outras regiões”.

O corte foi fundamentado na necessidade de realocar recursos para o combate à pandemia. Para a Associação de Agências de Pesquisa, no entanto, a descontinuidade do censo pode ter efeitos a longo prazo, inclusive em políticas de saúde. É o que afirma o presidente da Anipes “o orçamento do Censo Demográfico, de uma pesquisa como esta, que mostra o retrato fiel do país, não pode ser considerada uma despesa pura e simplesmente. É o futuro do país que está em jogo neste processo”.

O Censo Demográfico é realizado a cada 10 anos. Os últimos dados são de 2010. O Brasil de Fato Pernambuco entrou em contato com o IBGE para pedir um posicionamento, mas a assessoria informou que o órgão não irá se pronunciar. A equipe também tentou contato com o Ministério da Economia do governo Federal, mas o órgão se recusou a comentar sobre o assunto.

Edição: Vanessa Gonzaga