Pernambuco

MÚSICA

"Transito", EP de Lucas Bezerra traz músicas sobre a mudança entre o sertão e o mar

Após lançamento dos singles "Café" e "Andarilhos", Lucas lança primeiro EP completo

Brasil de Fato | Recife (PE) |
“Transito” é um projeto independente e foi custeado através de uma iniciativa de financiamento coletivo - Rafaela Fernandes

Transitar é um verbo que remete a movimento. No dicionário, a definição é “mudar de lugar, situação ou condição”. Foi conjugando na primeira pessoa do presente indicativo que o cantor e compositor cearense Lucas Bezerra deu o nome ao seu primeiro EP, “Transito”, que chega a todas as plataformas digitais de músicas nesta sexta (16). O novo disco conta com faixas que giram em torno do das mudanças de vida de quem sai do sertão para o litoral e que contam as histórias e as paisagens desses locais.

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Mudar de lugar ou condição parece ser uma ação bastante conhecida na vida de Lucas, que é formado em serviço social e que hoje dá seus primeiros passos na arena musical brasileira. Nascido em uma pequena cidade, o músico tem recordações de contato com a música ainda na infância na cidade de Orós, no sertão do Ceará. “Quando eu penso essa minha ligação com a música na infância, recordo que Orós é a cidade de Raimundo Fagner e a única rádio que existe na cidade pertence a ele. Então, havia muita influência da música dele na cidade em geral e no que meus pais ouviam. O primeiro registro sonoro de uma voz cantada é a dele”, conta Lucas.

Aos 17 anos ele foi estudar serviço social em João Pessoa e no último ano de faculdade se interessou em fazer aula de violão. Foi aí seu primeiro contato com um instrumento, nos encontros com Jaelson Farias, a quem remete o início dessa paixão musical. Desde então ele vem compondo um caminhar em fazer e cantar músicas, até chegar nesse primeiro trabalho autoral. “Essas aulas me abriram portais maravilhosos, fiquei muito encantado, mexeu em um lugar muito sensível em mim. Daí comecei a escrever algumas coisas, porque queria que tudo aquilo se formasse em canção”, revela.

Entre o açude de Orós para o litoral, em mais uma andança no mundo, Lucas foi cursar doutorado na cidade maravilhosa, entoada em tantas canções brasileiras. No Rio de Janeiro, ele foi em busca de continuar aprendendo a cantarolar no violão. Foi então que conheceu Arthus Fochi, que hoje é seu grande parceiro e um dos entusiastas e participante do disco em lançamento. “Entrei na internet e achei uma lista de professores de violão. Fui procurando informações de cada um. Aí cheguei em Arthus Fochi e nas informações dele tinha que ele tinha feito uns arranjos de violão para o último disco da paraibana Cátia França, que é uma gigante. É nele que eu vou, pensei”.

De uma relação entre aluno e professor, agora os dois dividem composições e projetos. O EP “Transito” carrega o selo Cantores Del Mundo, que atua na formação de um catálogo comum entre distintos países da América do Sul e no mapeamento de público para música autoral e popular e que é gerido por Arthus Fochi e Guilherme Marques. O selo foi fundado por Tita Parra e tem seu nome alusivo a uma de suas canções, gravada em 1978 no disco "Amigos tengo por cientos". A canção se chama "A los cantores del mundo" dedicada a Victor Jara, cantor popular morto na ditadura chilena. “Pra mim, esse selo é muito especial, porque ele tem uma seriedade e um compromisso que traz muito orgulho para quem faz parte dele. Eu sempre penso 'que bom que isso existe', porque tem um papel importante para a nossa produção musical”.

O EP “Transito” é um projeto independente e foi custeado através de uma iniciativa de financiamento coletivo. O disco foi pensado pouco antes do contexto da pandemia. Lucas aproveitou uma visita que fez no final do ano ao Ceará e à Paraíba para amadurecer a proposta do que seria esse obra. “Tem um lance de transmitir a mensagem em um trabalho que pra mim é importante, porque é meu primeiro. De certa forma eu queria me apresentar, apresentar referências, de onde eu venho, de que fontes eu bebo”.

E foi desse nessa vivência sobre o caminho de migração que Lucas percorreu que nasceram quatro canções que trazem uma unidade entre si. “Meu retorno para casa mexeu muito comigo. Eu quero cantar coisas que dizem respeito a uma travessia entre o sertão e o litoral, que eu fiz, mas, que milhões de brasileiros fizeram e fazem. Quero que de alguma forma as canções possuíssem esse fio condutor e que quem escute, tomara, se identifique com as paisagens, com os ritmos, com as referências musicais que aparecem”, diz.

A construção do conceito do disco foi para além da sonoridade e definiu 4 canções que trazem dimensões diversas desse movimento. “Uma música revela diretamente as minhas referências, que é uma parceria com Arthus e que no EP tem a participação da Juliana Linhares da banda Pietá. Uma outra música é uma homenagem para minha mãe, que eu relato muitas imagens, quase uma crônica do sertão, da minha infância com ela. Tem uma prece, que pede dias melhores para gente e tem uma outra música que já foi lançada como single, a Andarilhos”. Essa última já está disponível e pode ser apreciada neste link

Os desafios postos pela pandemia  fez com que a gravação tivesse que ser quase toda remota e eles impedem, também, um lançamento presencial do disco. Mas, Bezerra é entusiasta sobre o processo e também no percurso que a obra fará. “Foi um enorme desafio, queria ter tido essa ambiência coletiva para o meu primeiro trabalho. Me fez muita falta, mas, os encontros virtuais também produziram experiências belíssimas. E eu estou bem feliz”.

Sobre o desejo para a vida e o transitar desse projeto, Lucas é enfático “Tomara que esse trabalho traga, em meio a tantos absurdos que detona a gente todos os dias no Brasil, que é uma tristeza gigante e que também uma revolta, porque a gente tem que se mexer para derrubar esse presidente e pôr um fim nesse capítulo bizarro da nossa história. Acho que as músicas trazem um pouco de esperança. E que ela nos ajude a colocar o país em outra roda para dançar. Pra dançar mesmo, porque a gente não tem dançado”.

Para ouvir "Transito", basta acessar as plataformas de músicas como Spotify, DeezerApple Music ou o YouTube. No domingo (18) será lançado também o videoclipe da música que tem o mesmo nome do disco e que conta com a participação da cantora potiguar Juliana Linhares, no Youtube.

Edição: Vanessa Gonzaga