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Após roubo de cobertura, painel artístico leva sol e chuva no aeroporto do Recife

Painel de Lula Cardoso Ayres tem mais de 60 anos e fica no terminal antigo do Aeroporto do Recife

Brasil de Fato | Recife (PE) |
O painel é datado de 1958 e é tombado pela Fundarpe; nascido em Rio Formoso, Cardoso Ayres pintou a paisagem da Mata Sul do estado - Recife Arte Pública/reprodução

O terminal do antigo Aeroporto dos Guararapes foi inaugurado em 1958 e fechado desde 2004 (ano da inauguração do novo equipamento). O terminal fica ao lado do novo aeroporto, mas está fechado para acesso do público, funcionando apenas como ponto de ônibus. O antigo terminal foi incluso pelo Governo Federal no contrato de concessão e vendido junto com o Aeroporto do Recife, em março de 2020, à empresa espanhola Aena. Com um ano de nova gestão, o terminal tem sofrido com roubos à luz do dia.

>> Aeroporto do Recife é vendido a empresa espanhola

Em entrevista ao Brasil de Fato Pernambuco, o profissional de segurança da aviação civil Leonardo Félix denuncia que a Aena tem deixado acessos de entrada e saída do aeroporto completamente no escuro, além de pecado na proteção do antigo terminal. “Ele fica ao lado do novo aeroporto e tem sofrido ação de vândalos, que levaram toda a cobertura do terminal”, diz ele. Por contrato, a gestão de todo o aeroporto do Recife fica até 2050 sob responsabilidade da Aena, que tem obrigação de realizar obras de manutenção e qualificações estruturais.

Félix, que também é diretor do Sindicato Nacional dos Aeroportuários (Sina), menciona que, com os roubos, uma obra de arte do pernambucano Lula Cardoso Ayres (1910-1987) está exposta ao sol e à chuva. “É um painel que representa a zona da mata sul do estado, representa a história de Pernambuco. Então é triste o que está acontecendo com esse patrimônio artístico, histórico e cultural do estado”, completa o trabalhador do aeroporto. O painel em questão é tombado pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe).

O painel em questão e a maioria das obras de arte do Aeroporto do Recife não estão inclusas nos patrimônios leiloados pelo Governo Federal. Apesar de estarem sob responsabilidade de Aena, são propriedade pública. Todas as obras, inclusive o painel que está exposto a sol e chuva, estão numa lista divulgada pela Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) de obras de arte a serem repassadas para museus. Os interessados devem preencher formulário e entrar em contato com o Governo Federal.


Ao longo dos últimos meses a ação de indivíduos e da chuva tem removido a coberta do antigo terminal / Reprodução


Alguns furtos foram realizados à luz do dia, o que é apontado como descaso com a segurança do equipamento / Reprodução


A retirada da cobertura, segundo funcionários, deixou o painel artístico exposto; questionada, a Aena disse estar em contato com a Fundarpe / Reprodução

O Aeroporto dos Guararapes/Gilberto Freyre é considerado por alguns um museu público de arte.  No desembarque Sul (térreo) há uma pintura de Montez Magno, artista de Timbaúba; um painel do paraibano João Câmara; e uma escultura do recifense Romero Britto. Ainda no térreo, Abelardo da Hora assina uma escultura de Gilberto Freyre. Ana Guerra e Pedro Frederico também assinam obras no saguão de embarque (1º andar).

Já Francisco Brennand assina um mural (no 1º andar) e três estátuas assinadas (na praça de alimentação, 2º andar). O aeroporto tem ainda pinturas de Gil Vicente e José Cláudio e um painel de João Câmara. No total, segundo a Aena, são 21 obras de arte no aeroporto sob posse da empresa. Enquanto algumas obras foram presentes concedidos, por exemplo, pelo grupo Santander, outras foram adquiridas com verba pública federal (via Infraero) ou estadual.

No site da espanhola, no entanto, não há menção ao painel de Lula Cardoso Ayres. O Brasil de Fato Pernambuco entrou em contato com a Aena, questionando sobre os roubos da cobertura do antigo terminal, sobre a situação do painel localizado neste equipamento, assim como a situação de outras obras de arte que agora são propriedade da empresa.

Em resposta enviada ao BdF PE, sobre os roubos e a exposição do painel de Lula Cardoso Ayres às intempéries, a empresa não confirma e nem nega. “A Aena Brasil está em contato com a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) para tomar todas as decisões que envolvem a preservação das obras que estão sob sua custódia”, resume.

Sobre um possível impacto das atuais reformas no aeroporto terem algum impacto sobre as obras de arte, a empresa nega. “A Aena está fazendo obras de melhorias que contemplam banheiros, sinalização, sistema de climatização, iluminação, acessibilidade e outros itens relacionados ao conforto de passageiros e usuários. Este trabalho deve ser concluído até o final de maio e não tem impacto em nenhuma obra de arte situada no terminal”, diz a nota enviada por e-mail.

“As obras de arte que constam do acervo não são de propriedade da Aena que, entretanto, fará tudo o que estiver a seu alcance, junto com os órgãos responsáveis pelo patrimônio de Pernambuco, para preservar as peças que estão sob sua custódia. Nenhuma reforma neste sentido será feita sem a prévia autorização e o monitoramento das autoridades competentes”, conclui.

Edição: Vanessa Gonzaga