Pernambuco

Brasil na UTI

Apesar de denúncias, Governo de PE nega falta de sedativos e reafirma ter estoque

Há semanas profissionais apontam desabastecimento de remédios para sedar pacientes intubados; secretário de Saúde rebate

Brasil de Fato | Recife (PE) |

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Governo do Estado tem aberto novos leitos, que logo são ocupados; alta demanda na UTI elevou o consumo de sedativos - Governo de Pernambuco

Ainda no mês de fevereiro começaram a surgir relatos, ainda raros, por parte de alguns médicos, de que estava em escassez os medicamentos sedativos utilizados para a intubação de pacientes com quadros graves de covid-19. Os relatos se multiplicaram em todo o país. Mas a partir do meio de março aumentou a frequência desses relatos por parte de médicos pernambucanos.

Os sedativos são essenciais para os pacientes ficarem desacordados e conseguirem usar o respirador mecânico sem sentir dor ou estresse muscular e mental. Com o quadro de desabastecimento de sedativos, os relatos de médicos pernambucanos expressam temor com a falta de garantias de que os pacientes permaneceriam desacordados. Em alguns estados houve relatos de pessoas que acordaram da sedação e precisaram ser amarradas à cama enquanto suportavam a dor e o incômodo da intubação.

Uma profissional médica que atua no Hospital da Restauração e que preferiu não se identificar, em entrevista concedida a Agência Pública no fim de março, relatou escassez dos fármacos. “Um dia tem remédio, no outro acaba. É como uma loteria. Um paciente pode ter o remédio e o outro não”, diz ela, que estava havia mais de 15 dias sem os sedativos Midazolam, Succinill, Fentanil e Rocurônio. “Quando falta, as equipes médicas recomendam anestésicos mais fortes, a exemplo do Propofol, geralmente empregado em cirurgias”, explicou.

No dia 30 de março o estado de Pernambuco recebeu 6,4 mil medicamentos que compõem o chamado “kit intubação”. No mesmo dia a Secretaria Estadual de Saúde (SES) negou que os medicamentos tenham faltado e que há estoque dos referidos fármacos.

Uma semana depois os relatos continuavam por parte de médicos, desta vez no Hospital Eduardo Campos da Pessoa Idosa. Segundo os profissionais, o aumento no número de casos e internações levou ao maior consumo de sedativos e a uma necessidade de adquirir medicamentos em maior quantidade. Os fármacos seriam bloqueadores musculares (como cisatracúrio, astracúrio e suxametônio), sedativos (midazolam) e anestésicos (propofol e cetamina).

A SES voltou a negar falta de medicamentos, pontuando a necessidade de o Governo Federal ser mais ativo na aquisição dos sedativos, visto que o país todo está com alta demanda. E dias depois o secretário estadual de Saúde, André Longo, pediu aos profissionais que, caso perceba que está faltando algum fármaco no centro médico em que atua, deve contatar a diretoria da instituição. A Prefeitura do Recife disse ter quase 45 mil medicamentos no estoque.

No dia 16 de abril o Tribunal de Contas do Estado (TCE) iniciou uma série de visitas às unidades de saúde para verificar os estoques, mas por enquanto não encontrou qualquer irregularidade ou falta de medicamentos. No mesmo dia o governador do Piauí e presidente do Consórcio Nordeste – do qual Pernambuco faz parte – pediu que a ONU ajudasse na aquisição de sedativos para o Brasil.

O Brasil de Fato Pernambuco entrou em contato com a SES, questionando sobre o desabastecimento de sedativos, possível falha logística, quantitativo do estoque atual, tempo de consumo desse quantitativo e frequência do reabastecimento. Em resposta enviada à reportagem, a Secretaria Estadual de Saúde afirmou ter um estoque que garante suprimentos.

“A SES-PE informa que tem monitorado permanentemente, por meio do Comitê de Enfrentamento à Covid-19, os estoques dos insumos para manter a rede estadual de Saúde em pleno funcionamento”, garante, em nota. “Paralelamente, a SES-PE também está agilizando processos de aquisição e realizando compras para evitar a falta de medicamentos e materiais. É preciso lembrar, ainda, que a dificuldade na aquisição de medicamentos é nacional, devido à alta demanda em todo o país”, conclui.

Edição: Vanessa Gonzaga