A obra de França de Olinda vive e resiste na memória daqueles que tiveram a sorte de esbarrar com o ativista poético declamando a sua arte em alguma ladeira de Olinda. Falecido em 2007, sendo um dos nomes mais atuantes da história do movimento de poesia marginal de Pernambuco, o artista independente abordava de maneira performática e expressiva as temáticas raciais e sociais, buscando uma maior conexão com a sua ancestralidade e luta dos oprimidos. Amigos e poetas também chamavam França de Exu literário, em referência ao orixá que abre caminhos.
Dos quatro cantos da Cidade Alta para o universo da videodança/videopoesia, trechos da coletânea “Poeminflamado”, que reúne a obra do poeta França de Olinda, ganham corpo e voz tridimensional no projeto “Corpoesia – A cor da exclusão/@danca.inflamada”. A pesquisa investiga através da poesia de França, da dança de Marcela Rabelo, da fotografia de Marlom Meirelles e da música de Felipe França (ou Francinha, filho do poeta) a cultura indígena e afro-brasileira. Essa última reverenciada através do estudo dos “ítans” - palavra em Iorubá que designa os contos míticos e relatos históricos sobre os orixás.
Ao todo são oito videodanças/videopoesias que podem ser assistidas no canal do Youtube Corpoesia Dança. Mais informações sobre o projeto estão na conta do Instagram @dança.inflamada. O projeto tem incentivo do Edital de Pesquisa e Formação da Lei Aldir Blanc (LAB PE).
“A proposta da série de videodanças busca reforçar a ideia de tornar mais visíveis outras formas de saberes que foram subalternizadas pelos processos de colonialidade e evidenciar a afroperspectividade, onde pensamento é movimento de ideias corporificadas”, explica Marcela Rabelo, bailarina, brincante, professora de dança e pesquisadora em videodança e danças populares de Pernambuco - que traduz no corpo a pesquisa com a poesia de França, em cena nas oito videodanças/videopoesias.
Com formação artística voltada para a valorização da cultura negra e indígena, o filho do poeta França, Felipe França (Francinha), que é músico, pesquisador, produtor cultural, candomblecista, fotógrafo, arte-educador em cultura popular e diretor musical é quem assina todo o projeto de som. O desenho sonoro (Sound Design) da pesquisa é fruto de uma parceria de Francinha com o músico e compositor Valdi Afonjah. Já no processo de pensar em coletivo a tradução desta pesquisa em registros de videopoesias/videodanças, soma-se a experiência e o olhar do cineasta pernambucano, diretor, produtor, editor, roteirista e fotógrafo Marlom Meirelles.
Edição: Vanessa Gonzaga