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Em Pernambuco, centrais sindicais reforçam solidariedade no 1º de Maio

Novamente sem manifestações de rua devido a pandemia, sindicatos fazem doação de cestas básicas em comunidades

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Hoje, 19 milhões de brasileiros passam o dia inteiro sem ter o que comer - Marcelo Camargo/Agencia Brasil

Neste sábado (1º) os trabalhadores do mundo celebrarão pela 132ª vez o “Dia de Luta do Trabalhador”. Em Pernambuco, pelo segundo ano consecutivo, o tradicional ato de rua não será realizado, em respeito às regras de isolamento social. Os sindicatos estão arrecadando alimentos para montar cestas básicas e, conjuntamente, distribuírem – através de movimentos e grupos comunitários – para famílias que estão passando por situação de vulnerabilidade econômica.

Em entrevista ao Brasil de Fato Pernambuco, o professor Paulo Rocha, presidente da Central Única dos Trabalhadores de Pernambuco (CUT-PE), considera as campanhas de solidariedade para garantir alimentação são tarefa fundamental das organizações da classe trabalhadora neste momento. “Não dá para discutir política com a população se as pessoas estão com fome”, pontua. Para ele, a data é um momento de reafirmar os sonhos da classe trabalhadora.

“Celebrar esse dia é mostrar nossa disposição de luta e reafirmar nosso sonho de construir um país em que as pessoas tenham direito a educação pública de boa qualidade, saúde, moradia, pão, trabalho, direito a uma remuneração justa, vacina e ser felizes”, diz Rocha. “Essa é a luta da classe trabalhadora e mundialmente celebramos no 1º de maio esses nossos sonhos de um mundo sem guerra e sem fome”, completa.

O presidente estadual da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB) e também educador Helmilton Bezerra, avisa que assim como em 2020 as centrais farão uma transmissão ao vivo conjunta, nacional, na tarde do sábado, 1º de maio. “Pela manhã será a distribuição da campanha de solidariedade. À tarde faremos uma live nacional reunindo todas as centrais e lideranças políticas, além de artistas como Chico César, Elza Soares e outros”.

A situação está tão crítica para o povo trabalhador, que bandeiras prioritárias dos sindicatos neste momento não são pautas de ganho de direitos, mas de luta por sobrevivência. “Estamos defendendo a preservação da vida: isolamento social, vacina e auxílio de R$ 600”, diz Bezerra. Para ele, a data tem importância para reafirmar o papel da classe trabalhadora na história da humanidade. “O trabalho teve e tem papel fundamental no desenvolvimento civilizatório. Tudo o que comemos e toda a riqueza produzida vem do trabalho”, pontua.

A CUT Pernambuco também vai realizar, nesta sexta (30), uma transmissão ao vivo nos seus perfis de redes sociais (Instagram, Facebook e Youtube), debatendo “Democracia, emprego, saúde e solidariedade”, com a pesquisadora Jackeline Natal (do DIEESE), o ex-deputado federal Fernando Ferro (PT), a poetisa Neide Germano e a artista Marília Ferro. As lives, na avaliação de Paulo Rocha, também precisam promover a arte e alegria. “Além de conversar com a população, levando informação, tentamos levar alegria para superar esse momento tão difícil que estamos passando.


Tradicionalmente, ato do 1º de Maio no Recife reunia milhares de trabalhadores / Divulgação

Helmilton também considera que os trabalhadores estão avançando na consciência sobre a luta de classes. “O mundo do trabalho hoje já compreende melhor a necessidade dessa unidade, como ensinou Marx: ‘trabalhadores do mundo, uni-vos’. Aqui em Pernambuco constituímos um fórum das centrais. Juntos decidimos fazer um ‘1º de Maio’ novamente unitário e desta vez centrado na solidariedade”, diz ele.

A CUT, assim como a CTB, são duas entre várias centrais sindicais. Cada “central” reúne diversos sindicatos das mais variadas categorias. A ideia é unir cada vez mais trabalhadores de diferentes categorias, pois unidos e lutando por pautas conjuntas os trabalhadores e trabalhadoras têm muito mais força para obter conquistas para toda a classe trabalhadora.

Desemprego, subemprego e fome

Sobre o quadro nacional de desemprego, Paulo Rocha lembra que a pandemia não é a única responsável, já que o desemprego já estava bastante elevado antes da chegada do vírus. “O desemprego estava crescendo e com a pandemia piorou. Hoje temos o pior cenário de fome dos últimos 17 anos, como apontou pesquisa recente do IBGE referente ao trimestre de novembro de 2020 a janeiro de 2021”, lembra ele.

Helmilton Bezerra, da CTB, lembra por que o trabalhador acaba sendo o ponto mais frágil na cadeia de produção capitalista. “Nesse ambiente de pandemia, nós que produzimos toda a riqueza e somos maioria da população, mesmo assim somos o elo mais fraco, porque o poder e as regras das relações de trabalho não são definidos por nós”, destaca ele.

Sobre o novo cenário de trabalho informal por aplicativos de celular, ele avisa que não é vantajoso como as empresas propagandeiam. “Com as novas tecnologias surgem novas formas de relação de trabalho. Mas essas novas formas não surgem para ampliar direitos do trabalhador, mas para diminuir”, alerta o educador. “Não se conhece o patrão, não se sabe a quem recorrer, não há garantia de aposentadoria ou indenização quando está doente ou sofre acidente”, explica Bezerra.

“Em vez de reduzirem as horas trabalhadas, eles fazem o contrário: exploram cada vez mais os trabalhadores, concentrando a riqueza ainda mais entre os ricos”, lamenta. O presidente da CTB Pernambuco recomenda um filme sobre o tema. “É um filme inglês chamado ‘Você não estava aqui’ mostra essa realidade de precarização, aumento das horas trabalhadas, ausência dos adultos em casa com a família. Isso tudo sob uma falsa propaganda de ‘empreendedorismo’. As pessoas não têm jornada de trabalho definida, nem salário definido”.

Paulo Rocha, da CUT, pontua os números da crise nacional. “Temos mais de 14 milhões de pessoas desempregadas, 6 milhões de pessoas sem esperança de conseguir emprego, desistiram e estão desalentadas. Hoje quase 40% das pessoas que têm ocupação estão na informalidade, sem condições apropriadas de trabalho. E 32 milhões de pessoas trabalham mais e ganham menos do que anos atrás”, pontua o presidente da CUT. “É uma situação muito difícil e que não vai mudar só ficando em casa. Precisamos ter disposição para luta”, conclui.

Governo Federal

Sobre o momento pelo qual passa o país, sendo há meses o principal epicentro da pandemia, o presidente da CUT destaca a atuação do Governo Federal, que ele considera desastrosa. “O Brasil tinha condições econômicas e estruturais para produzir vacinas e imunizar toda a sua população em pouco tempo”, avalia Paulo Rocha. “Nos Estados Unidos, que não tem o nosso SUS, eles já vacinaram 200 milhões de pessoas em pouco mais de 100 dias, ultrapassaram a meta esperada. O Brasil tem condições de vacinar 5 milhões por dia, mas o presidente da República diz por aí que não tem necessidade de vacinar”, reclama Rocha.

Outro erro fundamental foi rejeitar as ofertas de vacinas. “Além de dar declarações contra a vacinação, ano passado ele optou por não comprar vacinas e ficou dependendo apenas da vacina inglesa (Oxford/AstraZeneca), mas essa vacina atrasou”, lembra. “Hoje só 20% dos vacinados receberam dessa vacina, os outros 80% foram imunizados com a chinesa (Coronavac/Butantã)”, completa o educador.

“Por uma decisão política de Bolsonaro hoje temos tão poucos brasileiros vacinados. O mesmo governo que deixou de comprar oxigênio para Manaus (AM) e pessoas morreram por causa disso”, diz ele, que considera o presidente Jair Bolsonaro responsável pelo número elevado de 400 mil mortes no país. “Bolsonaro nem dá o auxílio, obrigando o povo a ir para a rua trabalhar; e nem ele compra vacina suficiente, deixando todos expostos ao vírus”, finaliza Paulo Rocha.

Edição: Vanessa Gonzaga