Gestando desde setembro de 2019, Catarina de Angola jamais esperou que sua primeira filha, Tereza, nascesse durante uma pandemia. Para além das expectativas em torno do parto e da chegada da bebê, prevista para maio de 2020, a pandemia trouxe momentos de incerteza e mudou também os planos da família para o parto. “A gente não ia fazer um parto em casa, ia fazer no hospital, mas no final de março a gente decidiu mudar, porque a gente percebeu que entre maio, junho, que era quando estava mais ou menos previsto o parto, estavam esperando o que na verdade seria o pico da pandemia. E aí a gente não foi pro hospital e fizemos o parto em casa. Então, tivemos que buscar tudo pra fazer o parto em só nós dois”.
Os meses finais da gestação de Catarina se dividiram entre as jornadas de home office da jornalista e os preparativos para a chegada da filha. “Eu com aquele barrigão aqui em casa, trabalhando até tarde da noite. Então foi bem cansativo, bem pesado. Inclusive trabalhei até o dia em que senti as contrações. Eu lembro de Carlos [marido] reformando o quarto e eu lavando a roupinha dela, em pé. Mas estava pesada, com o pé cansado, muito pesada” relembra.
A chegada da pequena Helena, em março de 2020, também foi um momento de muitas incertezas para Gersica Brito, que também se tornou mãe de primeira viagem durante a pandemia de covid-19 e até hoje mantém o distanciamento social. “São momentos que não voltam nunca mais. Então, minhas amigas, meus familiares nunca vão lembrar como era Helena ainda bebezinha, nessa primeira fase da vida dela”, lamenta a universitária.
Com o desejo de proporcionar o encontro de Helena com a família, ela e o marido organizaram em casa uma janela para que a bebê tivesse contato com o mundo. “A gente tem uma porta de vidro aqui na entrada e meus sogros, meus pais só vinham aqui e olhavam ela pelo vidro. Ela era muito bebê e a gente tinha muito medo de ela pegar a doença. Então, meu pai, minha mãe, só vieram pegar a Helena agora, já com quase um ano de idade”, explica Gersica.
O período posterior à gravidez, conhecido como puerpério, traz, além das transformações físicas necessárias para funções como a amamentação e o retorno dos órgãos vitais ao seu local, uma série de questões hormonais e psicológicas. Para o Ministério da Saúde, por exemplo, o acompanhamento destas mulheres após o parto não deve levar em consideração apenas as questões físicas, já que hoje a maioria dos estudos apontam que esse período é um tempo de grandes transformações psíquicas, e até mesmo uma “transição existencial” na vida de quem gestou.
“Foi muito mais solitário do que a maternidade já é. E esse processo do puerpério, que é logo depois que a criança nasce, foi bem difícil também, porque Carlos só teve licença paternidade de cinco dias corridos. Então, na segunda seguinte, ele começou a trabalhar e aí foi muito pesado. Eu sempre falo que o primeiro mês parece que durou um ano”, relembra Catarina.
Mais apoio, menos julgamento
Um provérbio muito conhecido para quem atua na educação infantil afirma: "é preciso uma aldeia para criar uma criança". Com a pandemia, as mães de primeira viagem tiveram negada essa rede de apoio muitas vezes constituída por amigos e familiares. Gersica afirma que espaços para ter apoio e orientação de outras mães são importantes e fizeram falta. “Sei que têm grupos onde as mães compartilham coisas, mas eu não tenho isso. Na minha rotina nunca parei pra pensar em ter isso, sabe? Tenho uma ou duas amigas com quem sempre me abro, só que não é constantemente. Mas é bom, é super importante, só que eu não consegui colocar isso na minha rotina ainda”.
Para ela a maternidade precisa de menos julgamentos. “As mães são muito julgadas em tudo que fazem e no que não fazem também. Acho que nesse momento é receber todo o carinho possível através de mensagens e tudo o que a gente está podendo ter é bem importante. Isso revela um carinho da família, de amigos. Eu acho que as mães precisam desse afeto”, pontua.
Catarina fala que passou a ver com outro olhar as amigas que também são mães. “Eu passei a ficar me perguntando como as minhas amigas mães faziam as coisas que eu fazia naturalmente. Hoje eu tenho admiração por essas amigas e passei a entender muitas questões que elas colocam sobre julgamento de tudo que você decide fazer. Se amamenta, tem um julgamento. Se não amamenta, se dá chupeta, também julgam. Então eu passei a admirá-las mais ainda”.
Neste segundo Dia das Mães em isolamento, Gersica afirma que ao invés da romantização, a data pode ser um momento de reconhecimento e valorização. “Ter um momento de acalento, é bom, ser reconhecida. Eu acho que isso é o mais importante, porque a gente sabe que o Dia das Mães é só mais um dia como qualquer outro, mas é importante tê-lo, porque talvez as mães não fossem tão bem cuidadas. Então tem pelo menos esse dia pra reconhecer”.
Catarina gostaria que esse reconhecimento fosse permanente. “Tereza nasceu dois dias depois do Dia das Mães e eu já me senti muito mãe, estava com barrigão. Mas é diferente com ela aqui fora. Eu não me sinto acolhida só nesse dia, mas é massa saber que nesse dia eu vou ter um carinho especial. É bom poder celebrar, ser mãe. Mas eu queria que esse acolhimento não fosse só nesse dia, mas que fosse permanente”, conclui.
Edição: Vinícius Sobreira