No ano passado, vários laboratórios e institutos de pesquisa recrutaram voluntários para fazer testes de vacinas contra a covid-19 no Brasil. Alguns receberam placebo, outros as novas vacinas. Pernambuco ficou de fora de todos esses testes, assim como boa parte do Nordeste. Havia pressa e a facilidade geográfica se impôs. O Instituto Butantan, porém, está testando agora uma nova vacina contra a gripe e está atrás de 6.528 voluntários em 11 centros de pesquisa distribuídos pelo Brasil. Dessa vez, Recife está entre eles.
Esse estudo tem uma vantagem para os voluntários, pois não há aplicação de placebo. Todo mundo que participar do estudo vai receber ou uma das vacinas contra a gripe hoje aplicadas no SUS ou então a nova vacina tetravalente, com proteção contra uma cepa a mais. Outra vantagem é que o estudo aceita faixas etárias que não são cobertas com a vacinação pelo SUS, como crianças a partir de três anos, adolescentes e jovens adultos. Em clínicas privadas, a vacina tetravalente fabricada pelo laboratório GSK contra a gripe custa, em média, R$ 150.
A razão de não se usar placebo – substâncias sem efeitos – neste estudo é que não se trata da descoberta de um imunizante inédito contra a gripe. “O Butantan já produz há anos vacinas eficientes contra a gripe. O intuito deste estudo é melhorar, ainda mais, as vacinas disponibilizadas. A incorporação de uma cepa a mais de Influenza B, nesta nova vacina tetravalente, tem a finalidade de aumentar a eficácia de proteção contra a gripe”, explica o pesquisador da Fiocruz Pernambuco, Rafael Dhalia, um dos coordenadores do estudo.
Hoje, o SUS utiliza dois tipos de vacinas trivalentes contra a gripe. Essas vacinas contêm antígenos contra duas cepas do vírus Influenza A (H1N1 e H3N2) e uma cepa do vírus Influenza B. Nessa último caso, a cepa que a vacina ataca varia, podendo ser contra a cepa chamada Victoria ou a cepa chamada Yamagata. Todo ano se avalia qual dessas duas cepas está circulando mais, para ser escolhida como alvo da vacina trivalente. O problemas é que, nos últimos anos, as duas cepas têm circulando bastante, aumentando a necessidade de uma vacina no SUS para todas as quatro cepas.
“A incorporação de uma cepa de Influenza B a mais visa aumentar sua eficácia de proteção contra a gripe e seus agravamentos que, inclusive, podem levar ao óbito”, explica Dhalia. “Esperamos que essa nova vacina tetravalente venha a substituir as formulações trivalentes disponíveis, sendo a nova vacina do SUS disponibilizada para toda a população brasileira”, diz.
Os participantes do estudo têm quatro vezes mais chances de tomar a nova vacina tetravalente, em relação à trivalente. A tecnologia usada na vacina é 100% brasileira. “A fábrica de vacinas contra a gripe do Butantan é a maior do hemisfério sul e acaba de receber pré-qualificação da Organização Mundial da Saúde (OMS), certificação que reafirma o reconhecimento internacional pela produção de vacinas contra a gripe sazonal e a possibilidade de o instituto fornecer o imunizante para outros países”, diz o pesquisador.
A expectativa é de que Recife tenha 700 voluntários para os testes e que a nova vacina possa ser disponibilizada em breve no SUS. “Temos convicção que tudo dará certo, pela própria expertise do Instituto Butantan e da qualidade reconhecida dos parceiros envolvidos: Instituto Autoimune de Pesquisa e Educação Continuada, Real Hospital Português e Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz Pernambuco). Quanto mais rápidos acabarmos este estudo, mais rápido teremos condições de avaliar e disponibilizar a nova vacina da gripe para toda a população brasileira”, acredita Dhalia.
Quem pode participar do estudo
O estudo abrange qualquer pessoa a partir dos três anos de idade. Mas não podem participar mulheres grávidas ou que estejam amamentando. Pessoas com hipertensão, diabetes, condições psiquiátricas ou outras condições médicas crônicas não-controladas. Pessoas com uso de medicamentos como corticoides e quimioterápicos.
Como é o acompanhamento dos voluntários
Os adolescentes e adultos receberão dose única da vacina tetravalente da gripe e devem retornar ao Real Hospital Português 21 dias depois de vacinados, para coleta de sangue (visando avaliar a eficácia da vacina). Serão realizadas apenas três ligações telefônicas, para cada participante, em um período de seis meses de acompanhamento. As aplicações e exames acontecem no Real Hospital Português (Avenida Gov. Agamenon Magalhães, 4760 – Paissandu, Recife).
O protocolo é diferente para crianças de três a oito anos, que receberão duas doses da vacina, portanto terão uma visita a mais no mesmo tempo de acompanhamento (seis meses). “O que se avaliará neste período é a segurança e a eficácia da nova vacina, em relação a vacina já disponível no SUS”, diz Dhalia.
Como agendar
O agendamento para ser voluntário pode ser feito pelo e-mail [email protected] e pelos seguintes telefones: (81) 3416-7971 / 99381-3236 / 99383-0328 / 99317-3027 / 99389-3026.