Somente no mês de maio, 444 pernambucanos ficaram desabrigados ou desalojados por causa dos efeitos das chuvas, segundo dados do governo do estado. O volume de chuvas em 24 horas atingiu 60% do previsto para todo o mês de maio; já em Recife, as chuvas atingiram 134% da média histórica de todo o mês. Confira na reportagem:
Apesar dos meses de abril a julho serem um período de fortes chuvas na região, todos os anos a população sofre com alagamentos, deslizamentos e enchentes, principalmente nas periferias da Região Metropolitana do Recife. “Isso está acontecendo desde 1975, quando a gente viveu aquela cheia. Não faz sentido a gente estar em pleno século 21, com milhares de ferramentas de geoprocessamento, sensoriamento remoto, com formas muito sofisticadas de mapear esses territórios para poder estudar esses riscos e ainda estar se deparando com o tipo de situação que ocorreu em Cavaleiro, por exemplo, que uma família inteira foi soterrada”, afirma a arquiteta e urbanista Manoela Jordão, que integra a Articulação Recife de Luta.
Mas continua acontecendo. Duas enchentes, na última semana, atingiram os moradores da Bacia do Rio Tejipió. O rio passa pelos municípios de São Lourenço da Mata, Jaboatão dos Guararapes e Recife. “Anualmente, representantes da gestão dizem que foi uma chuva atípica, é sempre essa fala de que foi uma chuva atípica e que não se esperava esse volume; e esse tipo de narrativa já não tem colado mais nas comunidades que estão na Bacia do Tejipió. Não há atipicidade em um fenômeno que acontece anualmente. Não é atípico as famílias perderem todos os anos os seus móveis. Não é atípico, é o programado.”, lamentou Géssica Dias, integrante do Movimento Nós na Criação e do Fórum Popular do Rio Tejipió.
Ter uma moradia segura é um direito do cidadão, bem como é dever do município garantir isso; é o que acredita Manoela Jordão. “Eu acho muito sensível, quando eu vejo algumas pessoas culpabilizando, responsabilizando, criminalizando as pessoas que moram nessas localidades. Quando, na realidade, o estado tem o papel de identificar onde estão essas moradias que estão submetidas ou suscetíveis a algum tipo de risco e, a partir disso, pensar em algumas estratégias ou de consolidação, ou de realocação para - dentro de alguma política habitacional que dê conta - fornecer uma moradia bem localizada para essas pessoas. Então, assim, isso está previsto, inclusive, nessa lei de 2012, que é a 12.608”, fala a arquiteta e urbanista.
Apesar desse direito estar estabelecido pelo artigo 3º-B, da Lei Federal nº 12.608, de 10 de abril de 2012, essa não é uma realidade vivida pelos moradores da região metropolitana. A Prefeitura do Recife vem sendo cobradas através da organização popular de moradores e apoiadores para a realização de uma obra de dragagem do rio. “Essas iniciativas que agora estão se movimentando e estão tentando se articular em rede, como o Fórum Popular do Rio Tejipió, como é o Projeto Rio Limpo Cidade Saudável, como é a Articulação de Famílias Atingidas pelas Enchentes, como é o Nós na Criação”, disse Géssica, que completa, “esses atores que conhecem essa problemática, que discutem isso, tem se fortalecido, se unido e se articulado para poder agora se pautar de forma mais veemente a gestão local e de forma muito propositiva”
A reportagem entrou em contato com as prefeituras de Jaboatão dos Guararapes e de São Lourenço da Mata, mas não recebeu resposta até o fechamento. Já a Prefeitura do Recife informou sobre como a gestão tem lidado com as chuvas.
Confira a nota completa:
“Nos 14 primeiros dias de maio, o total de chuvas registrado no Recife chegou a 439,4 mm, o equivalente a 134% da média histórica de todo o mês, que é de 328,9 mm. O dado está no Boletim de Acompanhamento da Chuva em Pernambuco, divulgado na sexta (14) pela Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac). Também de acordo com a Agência, nas 72h (entre os dias 11 e 14 de maio), as chuvas no Recife chegaram a 260 mm, ou 80% do previsto para o mês. O investimento da Prefeitura na Ação Inverno 2021 chega a R$ 96,6 milhões, incluindo ações como contenção de encostas, prevenção e monitoramento em áreas de risco, colocação de lonas plásticas, limpeza de canais e eliminação de pontos de alagamento.
Este ano, até sexta (14), a Secretaria Executiva de Defesa Civil (Sedec) já fez 16.835 vistorias, colocou lonas plásticas em 5.468 pontos (totalizando 1.622.194 m2) e realizou 1.291 ações de porta a porta para orientar as famílias sobre a situação de risco. A geomanta está sendo aplicada em diversos locais. A Prefeitura do Recife totaliza mais de 350 obras nos morros. São 28 obras de contenção definitiva de encostas em andamento, com um aporte financeiro na ordem de R$ 42 milhões, e nove intervenções do mesmo tipo já entregues à população, num investimento de aproximadamente R$ 7,5 milhões. Já o programa Parceria tem 262 obras em andamento e este ano concluiu 55 intervenções, que garantem vida mais segura para 263 famílias.
DRENAGEM - Este ano, dentro das intervenções da Ação Inverno, a Prefeitura do Recife vai investir cerca de R$ 10,5 milhões para realizar a limpeza dos 99 canais que cortam a capital pernambucana. Iniciada em janeiro, a limpeza dos canais que cortam a cidade do Recife já resultou na retirada de quase 50 mil toneladas de lixo de 45 canais até agora. Outros 11 canais estão com a intervenção em andamento. Ainda dentro da Ação Inverno, a Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb) vem realizando, desde janeiro, a limpeza de galerias e canaletas em diversas ruas e avenidas, e principalmente em áreas mais críticas de acúmulo de água das chuvas.”
Edição: Monyse Ravena