Criadas para diminuir a distância entre a favela e a educação, as bibliotecas comunitárias sentiram o impacto da pandemia do coronavírus. Os livros não deixaram de ser o atrativo, mas as obras passaram a dividir a atenção com cestas básicas e kits de limpeza. A crise transformou esses espaços de atividades culturais em núcleos de solidariedade, que estão ajudando a matar a fome e salvar vidas.
O ano de 2020 era muito aguardado pelos gestores e frequentadores da Biblioteca Multicultural Nascedouro, localizada em Peixinhos, bem na divisa entre o Recife e Olinda. Afinal de contas, o espaço, que surgiu a partir da necessidade de oferecer ações permanentes de acesso gratuito à cultura como literatura, artes visuais e música, estava completando duas décadas de “existência e resistência”.
Antes da chegada do coronavírus, a biblioteca funcionava de segunda a sexta durante o dia com projetos de incentivo à leitura como o Quinta do Ler. À noite, eram realizados grupos de estudos e formações internas. O espaço com quase 6 mil títulos atuava também como uma editora, onde eram confeccionados livros artesanais com o selo “Boca do Lixo”.
“Todas as ações eram presenciais, hoje fazemos à distância, como a mediação de leitura por meio de vídeos enviados pelo WhatsApp. Além disso, pela primeira vez começamos a distribuir cestas básicas diante da necessidade da comunidade. São 250 famílias cadastradas, mas chegamos a atender até 300”, explica Rogério Bezerra, membro da equipe gestora da Biblioteca Multicultural Nascedouro.
Além da arrecadação de alimentos, a biblioteca também está recebendo doações de smartphones e tablets. Os aparelhos serão usados para empréstimos às famílias cadastradas nos grupos de mediação de leitura para que possam acompanhar as atividades de casa.
Com a reabertura do comércio e a implantação de um novo plano de convivência com a covid-19, mais brando, mesmo em meio ao pior momento da pandemia, as doações despencaram. A estratégia da Biblioteca Solar de Ler, do Centro de Cultura Luiz Freire, em Olinda, é trabalhar em conjunto com a rede periférica da cidade em busca de novas fontes de recursos.
“As doações acabaram, literalmente. Com a Rede Orgânica Periférica estamos tentando fazer novas parcerias e participar de editais públicos e privados e de fundos de ONGs, mas geralmente são recursos que variam de R$ 3 mil a R$ 10 mil, perto da demanda que temos não dá para atender nem a metade”, explica a coordenadora executiva da Solar de Ler, Rafaela Lima.
A biblioteca está aberta ao público desde 2016 ofertando mais de 5.500 títulos. Antes da pandemia, o espaço tinha um projeto contínuo com 42 crianças moradoras da comunidade V8. Após o coronavírus, a biblioteca ampliou o atendimento para 240 famílias levando literatura por meio da Malateca – projeto itinerante de leitura – e alimentos e itens de limpeza também para moradores de outras localidades como a Ilha do Maruim e da Portelinha.
Implantar a Malateca também foi a alternativa da Livroteca Brincante do Pina, zona sul do Recife, para manter o vínculo com os frequentadores. Mas, aliadas ao projeto de leitura, estão iniciativas de socorro em segurança alimentar, estímulo à economia solidária e ações de conscientização e prevenção ao vírus. Ao todo, já foram distribuídas mais de mil cestas básicas, máscaras de proteção e kits de higiene pessoal e limpeza, impactando 300 famílias.
A Livroteca do Pina há 25 anos atua com uma série de atividades culturais e ambientais como o Cine Bode, o cortejo com música e poesia, a gincana ecológica e a horta comunitária, por exemplo. A biblioteca, que nasceu em uma palafita, hoje é uma referência para a comunidade.
“A primeira necessidade que percebemos das pessoas é com a questão da fome, iniciamos imediatamente a campanha de arrecadação de doações. Com o dinheiro compramos alimentos como sururu e verduras de pescadores e comerciantes do bairro e doamos. Ao mesmo tempo, criamos a campanha Corona nas Periferias, fizemos um passinho para falar sobre a prevenção e fundamos a rádio de andada, que toda semana por meio de bicicleta e barco transmite poesia, música e notícias para a comunidade”, conta a coordenadora de comunicação, Magda Alves.
Referência para os moradores de Joana Bezerra, área central do Recife, a Biblioteca Popular do Coque foi surpreendida quando teve que fechar as portas por causa da pandemia, mas não estranhou que imediatamente pessoas procurassem o espaço para fazer doações para a compra de alimentos. De acordo com o coordenador da biblioteca, Rafael Andrade, a saída foi buscar parcerias e fornecer cartões-alimentação no valor de R$ 300 para cerca de 300 famílias.
“Quando começou o auxílio emergencial, as pessoas tiveram um pouco mais de qualidade de vida porque conseguiam comprar comida. Agora, a questão da segurança alimentar voltou ainda mais forte e. por isso, mantemos a campanha, porque tem muita gente precisando do básico para comer”, declara Andrade.
Doe para uma biblioteca
Biblioteca Multicultural Nascedouro
Endereço: Avenida Jardim Brasília, S/N – Nascedouro de Peixinhos, Recife/Olinda
Telefone: (81) 3244-3325
WhatsApp: (81) 98839.2501
E-mail: [email protected]
Site: movimentobocalixo.wordpress.com
Biblioteca Solar de Ler
Endereço: Rua 27 de Janeiro, 181 – Carmo, Olinda
Telefone: 3439 – 9308
Doações: benfeitoria.com/periferiasdeolinda
E-mail: [email protected]
Site: cclf.org.br
Livroteca Brincante do Pina
Endereço: Rua Artur Lício, 291 – Pina, Recife
Whatsapp: (81) 98318-2510
Doações: Banco Caixa Econômica Federal
Agência 2193
Operação 013 (Poupança)
Conta 9339-2
Nome: José Ricardo Gomes Ferraz
CPF: 763.608.814-20
Chave PIX: [email protected]
Site: www.livrotecabrincantedopina.siteo.one
Biblioteca Popular do Coque
Rua Ibiporã, 260, Coque – Recife
Telefones: (81) 98830-3642 / 3448-2048
Site: www.bpcoque.com.br