A manifestação do 29 de maio pelo Fora Bolsonaro que aconteceu este sábado no centro do Recife acabou com a truculência da Polícia Militar. Sem qualquer ação agressiva por parte dos manifestantes, o Batalhão de Choque agiu com violência e abuso de poder ao reprimir a população com bombas, spray de pimenta e balas de borracha.
O saldo foi quatro jovens negros detidos na Central de Flagrantes da Polícia Civil, uma parlamentar agredida, dois homens com perda de visão - que sequer estavam no ato - e um pronunciamento do Governo de Pernambuco que não responde a principal pergunta: de quem partiu o comando da operação?; dentre outros feridos que não foram contabilizados ainda.
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Daniel Campelo da Silva, de 51 anos, vive na zona oeste do Recife e foi atingido no olho esquerdo por uma bala de borracha disparada por um policial do Batalhão de Choque. Daniel, que trabalha com adesivagem de carros, não estava na manifestação; estava no local para comprar material de trabalho. Apesar de ter sido socorrido e encaminhado para a Fundação Altino Ventura (FAV), Daniel acabou perdendo o globo ocular.
O outro trabalhador atingido por bala de borracha no olho foi Jonas Correira, de 29 anos. Jonas estava voltando para casa do Mercado São José, onde prestava serviço autônomo. Internado no Hospital da Restauração (HR), Jonas também está com a visão comprometida.
A violência da PM gerou indignação e foi repudiada através das redes sociais por parlamentares e pela sociedade civil. Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou através do Twitter que a ação causa imensa preocupação.
As cenas de truculência e brutalidade da ação policial em Recife causam imensa preocupação com o despreparo das forças para lidar com manifestações de grande porte, que tendem a se tornar frequentes em 2022. Dois homens que sequer manifestavam perderam um olho. Até quando? pic.twitter.com/mjOWQTKctg
— Gilmar Mendes (@gilmarmendes) May 31, 2021
No domingo, o Governo de Pernambuco determinou em nota pública que a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (SJDHPE) acompanhe a assistência médica a estes dois feridos graves. Afirmou ainda que a Procuradoria Geral do Estado foi acionada para iniciar o processo de indenização aos atingidos.
Ainda no sábado, o governador Paulo Câmara (PSB) fez um pronunciamento público em que afirma repudiar qualquer ato de violência e informou o afastamento do comandante da operação e dos envolvidos na agressão à vereadora Liana Cirne (PT), que permanecerão afastados enquanto durar a investigação da Corregedoria da Secretaria de Defesa Social. O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) também publicou a portaria nº 009/2021-7ºPJ-DH que instaura inquérito civil para investigar violações de direitos humanos.
Movimentos populares e entidades sindicais manifestaram repúdio à ação truculenta da PM. A Central Única dos Trabalhadores (CUT), na representação do presidente Paulo Rocha, se pronunciou em vídeo, em que afirma que pronunciamento do governador é importante, porém inconcluso. Cita, ainda, outros episódios em que a polícia utilizou da força e violência contra a população, como o despejo de famílias em Amaraji (PE).
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"Por quê a PM estava com Batalhão de Choque na Guararapes, quando o ato, inclusive, estava encerrando? O problema é de antes. É a forma como a Polícia Militar tem tratado o movimento social”. Paulo Rocha afirma que para além do pronunciamento de repúdio, é necessário também nomes de quem mandou e quem executou cada ação truculenta.
A Campanha Fora Bolsonaro também publicou nota em que questiona quem ordenou a violência policial. "Construímos um ato seguro com distanciamento social e demais cuidados de biossegurança, mas desde o início do ato fomos intimidados pela polícia", diz a nota. Por fim, exigem imediata reparação da violência e apuração para destacar os responsáveis pela autorização.
O Brasil de Fato Pernambuco entrou em contato com a Polícia Militar para cobrar um posicionamento. A resposta, no entanto, se limitou à: "A Polícia Militar informa que não irá se pronunciar. O Governador Paulo Câmara já fez o pronunciamento".
Edição: Monyse Ravena