Quem chegava com aquela de pano bem rapidinho recebia logo uma PFF2
Sábado que vem é dia 19 de junho. No meu calendário, tem escrito que é o Dia do Cinema Nacional. Mas também tá registrado que, nesse dia específico, o espetáculo vai ser feito na rua. Depois do sucesso dos protestos contra Bolsonaro em 29 de maio, ficou difícil argumentar contra a importância de se ter milhares de pessoas ocupando de forma organizada espaços públicos e visíveis na intenção de abreviar o máximo possível a existência de um governo que a cada dia semeia ódio e colhe a morte.
E que organização, hein? Houve até militante que duvidasse que seria possível. Mas quem venceu o receio e experimentou sair de casa na manifestação do mês passado ficou ‘incrível’ com a disciplina de quem demonstrou, na prática, como se comporta quem está a favor da vida. Distanciamento, muito álcool, nenhum contato físico, todo mundo com máscara boa. Quem chegava com aquela de pano bem rapidinho recebia logo uma PFF2. Eu mesmo fiz uma cotinha com amigos e amigas e comprei mais de 600, que voaram das minhas mãos em menos de meia hora. E a galera não tirava nem pra beber água, visse? Numa hora eu vi um cabra levantar a dele pra fumar. O coitado ouviu tanto esporro (inclusive meu) que jogou rapidinho o cigarro fora e esqueceu o tabagismo por um par de horas.
No Brasil inteiro atividades parecidas juntaram quase meio milhão de pessoas em centenas de municípios. A ‘nota baixa’ veio apenas para o governo de Pernambuco e a papelada de um punhado de batalhões da Polícia Militar que apresentaram um espetáculo de violência que ainda deve apuração. Mas a repercussão e o custo político do que aconteceu naquele dia, aliadas a uma ação preventiva que vem sendo realizada pelo Ministério Público e várias organizações da sociedade civil, certamente reduzirão em muito a possibilidade de algo semelhante no próximo sábado.
De lá pra cá, muita coisa aconteceu. Milhares de pessoas se vacinaram no Recife. Outras tantas perderam parentes queridos. Muitas se infectaram e sobreviveram ao vivo. No Senado, a CPI do Genocídio tem escancarado, a cada reunião, que houve de fato um planejamento objetivo, uma ação estudada e calculada para impedir a chegada de vacinas no Brasil. Sim, sim, eu também vi aquele vídeo do Esse Menino que bombou nas redes e também morri de rir com as tentativas de a “Pifáizer” chamar a atenção do presidente. Mas saber das dezenas de vezes em que perdemos a oportunidade de estar na vitrine de vacinação do mundo só aumentou minha raiva. E a vontade de organizá-la.
Então vamos lá. Quem tá indignada com o governo, mas é apaixonada pelo povo. Quem não perde a esperança em tempos melhores e sabe que eles dependem do que a gente faz agora, já sabe que tem tarefa. Até o sábado, as missões são as mesmas pra todo mundo:
Use tudo o que estiver ao seu alcance pra divulgar o ato na sua cidade. Vale redes sociais, telefone, cartaz no escritório que permanece aberto, panfleto em xerox pra distribuir no terminal do ônibus. Vale conversar com a família em casa sobre isso, vale telefonar pra a rádio pra tentar inserir o assunto que o comunicador não está tratando. Se for agir na internet, se liga nas hashtags que estão sendo usadas (#19J, #19Jpovonasruas, #19Jforabolsonaro).
Aproveite também pra confeccionar cartazes, fazer cotinha com amizades pra rodar adesivos ou produzir bandeiras. Importante também mobilizar a galera pra comprar máscara boa pra quem não estiver usando na hora.
Pronto, chegou o sábado. E agora? Vacinou-se, já teve a doença ou mesmo tá de boa saindo ao ar livre com máscara boa com disciplina pra não tocar em ninguém? Vamos nessa. Se eu já fui no de maio, todo empacotado e protegido, imagina agora que eu já tou com a primeira Astra no braço? Aliás, se você for figura pública, artista, influenciadora de alguma forma, a responsabilidade é maior, viu? A presença dessas pessoas nos protestos não apenas fortalece a mensagem, mas também aumenta a segurança das manifestantes diante de um eventual entrevero com as forças do Estado.
Quem ainda não está à vontade pra botar a cara no Sol junto com a moçada toda, também não precisa ficar borocoxô achando que não tá fazendo sua parte. A gente é do amor e não vai ficar enchendo seu saco se você avalia que é melhor evitar estar no meio de tanta gente. Mas de onde você estiver, dá pra se somar à gente, sim. Bote cartaz na janela, bata panela, faça barulho. Vá pra a porta de casa ou para uma esquina qualquer e balance sua bandeira. Ou leve-a pra passear de bicicleta ou de carro por sua cidade. Acesse os conteúdos que serão publicados sobre os protestos, comente, curta, compartilhe.
“Ah, Ivan, mas eu não gosto desse tipo de protesto”, “preferia que fosse de carro”, “preferia que fosse de bicicleta”, “queria fazer um cordão-humano-com-milhares-de-pessoas-abraçando-toda-a-extensão-do-rio-capibaribe-vestidas-de-preto-com-bolinhas-roxas”. É pra tirar bolsonaro? Organize e me chame que eu vou. Só (PELAMOR) não embace nem atrapalhe a galera que tá chamando para o #19J, por melhor que seja sua intenção.
Edição: Monyse Ravena