No dia oito de junho a Polícia Federal apresentou à Procuradoria Geral da República (PGR) uma investigação contra o senador pernambucano Fernando Bezerra Coelho (MDB). De acordo com a PF, a denúncia apresenta indícios de que o senador teria recebido R$10,4 milhões em propinas pagas pelas empreiteiras OAS, Barbosa Mello e Constremac entre os anos 2012 e 2014, quando Bezerra Coelho era ministro da Integração Nacional no governo Dilma Rousseff. Os valores teriam sido pagos como compensação por contratos conquistados pelas construtoras junto ao ministério.
O deputado federal Fernando Bezerra Coelho Filho (DEM), filho do senador, também foi indiciado. Ambos acusados de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. Na denúncia a PF pede que sejam bloqueados R$20 milhões nas contas de ambos. A defesa conjunta dos FBC pai e filho alega que a investigação é uma “tentativa de criminalizar a política” e que as acusações são fruto de “mentiras contadas por um criminoso confesso”, que no caso seria o empresário pernambucano João Carlos Lyra, preso em 2016 na Operação Turbulência.
“(...) O recebimento de tais valores ocorreu por um intrincado esquema de movimentação financeira ilícita, como também ocultação de ativos obtidos por meio criminoso, com a crível finalidade de integrar patrimônio adquirido de forma escusa e dificultar a persecução de dados informativos. (...) Concluímos haver provas suficientes da materialidade de diversas práticas criminosas nos eventos investigados neste inquérito, notadamente com relação à prática dos delitos de corrupção passiva, corrupção ativa, lavagem de dinheiro, associação criminosa, falsidade ideológica e omissão de prestação de contas”, diz o relatório assinado pela delegada Andréa Pinho Albuquerque Cunha. A PF também pede o compartilhamento do inquérito com a Procuradoria-Geral Eleitoral (PGE), órgão do Ministério Público Federal.
O documento foi entregue à Procuradoria-Geral da República em 31 de maio. A PGR deve se posicionar encaminhando a denúncia para o Supremo Tribunal Federal (STF) ou não. O procurador-geral da República, Augusto Aras, indicado ao cargo por Jair Bolsonaro, anseia ser indicado pelo presidente também a uma vaga no STF. Por tanto, tem blindado o Bolsonaro, seus filhos e aliados, barrando investigações e processos como este solicitado pela PF. Líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB) se encaixa no perfil de protegido. Mas o presidente da República estuda dispensar FBC e nomear o senador Davi Alcolumbre (DEM) para o posto de líder do governo.
Outros processos
O senador também responde a outros processos oriundos de investigações da finada Operação Lava-Jato. Um deles se refere a supostos crimes cometidos enquanto FBC era secretário estadual de Desenvolvimento Econômico (2007-10) e, por consequência, presidente de Suape, ainda no primeiro governo Eduardo Campos.
A acusação é de que Bezerra Coelho teria embolsado pelo menos R$2 milhões em propinas pagas pelas empreiteiras Odebrecht (R$1,2 mi) e OAS (R$ 0,8 mi). O pagamento teria sido feito por o então secretário “ajudar” as construtoras a vencer a licitação para a construção do “Cais V” e do píer petroleiro de Suape.
Esta e outras duas acusações foram encaminhadas do STF para a Justiça de Pernambuco (TJPE), pois se tratam de crimes cometidos antes do réu ter mandato federal. Mas há dois outros processos que já estão no STF.
Quatro Coelhos numa eleição só
Eleito em 2014 pelo PSB, Fernando Bezerra Coelho apoiou o impeachment da presidenta Dilma Rousseff; em 2016 contrariou seu então partido ao costurar aliança com o governo Michel Temer – indicando seu filho Fernando Bezerra Filho para o cargo de ministro das Minas e Energia. Elegeu outros dois filhos para o cargo de deputado estadual (2018) e para a prefeitura de Petrolina (2016, reeleito em 2020). Este último, Miguel Coelho, é pré-candidato do MDB ao Governo de Pernambuco.
Com os quatro Coelhos disputado eleição em 2022 por dois partidos diferentes, as movimentações precisam de cautela. A família apostou suas fichas na aliança federal com Jair Bolsonaro, o que ajudou a conseguir recursos federais para Petrolina e prefeituras vizinhas comandadas por aliados dos Coelhos. Com Miguel sendo o provável candidato da direita ao governo, ter outro Coelho na candidatura ao Senado poderia dificultar alianças.
Para completar, a disputa pela única cadeira no Senado é arriscada e o pai não poder abrir mão da rede de influências federal que dá “segurança” à família ante os processos. A tendência é que FBC não dispute a cadeira no Senado e tente uma das 25 vagas na Câmara Federal. A família avalia que será possível ter uma candidatura competitiva de Miguel Coelho (MDB) ao Governo do Estado; FBC pai (MDB) e Fernando Filho (DEM) devem disputar cadeiras na Câmara Federal; e buscam reeleger Antônio Coelho (DEM) para a Assembleia Legislativa de Pernambuco.
Edição: Monyse Ravena