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Vozes Populares | Dia da Mulher Negra, Latino Americana e Caribenha

A Marcha Mundial das Mulheres tem desenvolvido diversas atividades no Julho das Pretas

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“O dia das mulheres negras é um dia de reflexão e de luta para a gente poder pensar no nosso passado, naquelas que deram a vida pela gente"
“O dia das mulheres negras é um dia de reflexão e de luta para a gente poder pensar no nosso passado, naquelas que deram a vida pela gente" - Tânia Rêgo/Agência Brasil
Passou da hora de sermos ouvidas e respeitadas

Dandara, Carolina Maria de Jesus, Sara Gomez, Tereza de Benguela… o que elas têm em comum?  Ambas são mulheres, latino-americanas e caribenhas e carregam consigo a luta e resistência negra contra as opressões.

Historicamente, as mulheres negras têm sido submetidas a diversas formas de silenciamentos e desqualificações. São as mulheres negras que dispõem das piores condições de trabalho, são alvo dos maiores índices de violência e sofrem com o processo de invisibilização de suas histórias e ações. E apesar disso, resistem firmemente a opressão e exploração, lutando juntas pelo direito à vida digna. Como resultado da união dessas mulheres, o 25 de julho se tornou o Dia da Mulher Negra, Latino Americana e Caribenha, data que reforça a luta histórica das mulheres negras por sobrevivência em uma sociedade estruturalmente racista e patriarcal. 

A data foi instituída em 1992 a partir do um encontro realizado em Santo Domingos, na República Dominicana, onde centenas de mulheres discutiram sobre machismo, racismo e formas de combatê-los. Martinha Almeida, militante da Marcha Mundial das Mulheres (MMM) reforça porque essa data representa um marco importante para a vida das mulheres negras, “o dia das mulheres negras é um dia de reflexão e de luta para a gente poder pensar no nosso passado, naquelas que deram a vida pela gente, trazer a história dessas mulheres, de Dandara, de Aquataluxe, das tias do terços das irmandades, das nossas irmãs quilombolas, dessas mulheres que fizeram essa trajetória até as mulheres dos dias de hoje, desse legado de uma Benedita da Silva, Matilde Ribeiro, Leci Brandão e de tantas mulheres que carregam esse legado e aí é onde nós trazemos as pautas primordiais: primeiramente o enfrentamento à violência de gênero raça e classe, depois do bem-viver e nesse 25 de julho a plena crise do capitalismo que é a pandemia”.

Diante da crise causada pelo coronavírus as desigualdades no país foram brutalmente reforçadas, especialmente para as mulheres negras. Martinha Almeida aborda as principais dificuldades que tem afetado a vida dessas mulheres negras no contexto de pandemia, "pela consequência do próprio processo histórico, nós mulheres negras sempre tivemos na base da pirâmide. A gente foi o último país a libertar seus negros e negras e nessa perspectiva no dia 14 de maio nós ficamos sem reparações. Então as maiores vitimas desse processos, fomos nós mulheres negras, que já sobrevivemos no mercado informal, já não tínhamos escolaridade, éramos chefes de famílias, sem direito a saúde, educação, esporte, lazer, sempre nos empregos mais precários. Então nessa perspectiva o que aconteceu com a Covid-19 foi o escancaramento da crise do sistema capitalista, esse sistema que sempre explorou a mão de obra e nós mulheres negras, que no desafio da covid fomos as mais atacadas e aí então como é que a gente vê a afetação? É só perceber nos estudos quem é que não está tomando vacina quem é que está falecendo de covid, quem mesmo em estando com covid estavam nas ruas nos serviços gerais atrás da sobrevivência, porque nós estamos na fome, na miserabilidade, o índice alto de feminicídio em cima de nós mulheres negras. Então em tudo isso nós somos vítimas e vitimizadas desse processo da covid, e aí nós tivemos que ter estratégias de sobrevivência, porque, trouxemos todo esse legado e aprendizado, principalmente nos dias de hoje que são a solidariedade, a irmandade...”

A ideia é fortalecer as organizações voltadas às mulheres negras, assim como trazer maior visibilidade para sua luta. Por isso, no Brasil, no Caribe e na América Latina em geral, diversos eventos de protesto e luta são planejados para marcar a data. A Marcha Mundial das Mulheres desde o início do mês de julho tem desenvolvido diversas atividades no Recife. A médica Thais Silva, militante de MMM conta mais para a gente: “esta edição do Julho das Pretas diz 'para um Brasil genocida, mulheres negras tem a solução'. Bradamos pelo bem-viver, passou da hora de sermos ouvidas e respeitadas nas propostas que temos afim de que de fato passemos chamar esse país de nação, nação brasileira. A Marcha Mundial das Mulheres, assim como outros movimentos de mulheres, vem se abrindo as pautas do Julho das Pretas de maneira gradativa a cada ano, tanto em termos nacionais como regionais. Em Recife o Núcleo Soledad Barret ampliou suas atividades esse ano para momentos presenciais de rodas de conversas em Peixinhos, Brasília Teimosa, na Várzea, com temas diversos sobre o universo de lutas de mulheres negras. Ainda é uma dinâmica inicial de abertura que os movimentos sociais não negros fazem para essas pautas. Entendo como um caminho que se segue para, quem sabe, a verdadeira democracia racial que tanto vislumbramos”, disse.

No Brasil, o 25 de julho também é conhecido como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra por meio da lei nº 12.987 de 2014, sancionada pela ex-presidenta Dilma Rousseff (PT). Tereza de Benguela foi Líder do Quilombo do Quariterê e desafiou a Coroa e o sistema escravocrata português por mais de 20 anos, comandando a maior comunidade de libertação de negros, negras e indígenas da capitania de Mato Grosso. Lembrar e visibilizar a data simboliza a união e a força das mulheres negras ressoando pelo mundo.

Edição: Monyse Ravena