Pernambuco

CULTURA

O que tu indica? | Phenix Caixeral

"Este livro a que dedico a indicação desta coluna é o festejo da boa literatura que se exprime na dança da luta popular"

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Adelaide Gonçalves e Rafaela Lima, autoras do livro, propõem uma reflexão sobre o imaginário elitista no que tange a leitura militante - Louise Xavier

As bibliotecas comunitárias, sociais e gabinetes de leitura são como um carro de som que anunciam a boa nova. Os livros, eles nos humanizam e auxiliam a resgatar algo que nos foi negado e que permanece sendo, a instrução e cultura. Não é rentável para o capitalista ter trabalhadores que têm amor à leitura, que se dedicam ao estudo, que após as horas dedicadas ao trabalho, deleitem-se no afago dos impressos. 

Por isso, a visão de que a classe trabalhadora não lê é puramente elitista. Caminhando pela história, conseguimos observar a experiência da leitura escutada dos charuteiros em Cuba. Proletários que liam nas fábricas. Ir em busca da história da leitura requer atenção para um olhar generoso na compreensão do autodidatismo dos que lutam pela instrução da classe. 

Este livro a que dedico a indicação desta coluna é o festejo da boa literatura que se exprime na dança da luta popular. Para os desavisados, a narrativa é carregada de conteúdo com teor de classe, não tem espaço para meio termo quando se diz respeito à construção de uma biblioteca construída pelas mãos e mentes dos caixeiros do Ceará. Embora o título nos remeta a uma biblioteca específica, o escrito não se limita a ela e nos conta um pouco mais sobre a luta da categoria por escola (instrução), dias livres para descanso e sua forma de comunicar-se através dos impressos.

 Quanta delicadeza e sensibilidade caberia em um livro que nos conta sobre o esforço, autodidatismo e luta na leitura proletária dos caixeiros no Ceará, seja no sertão, seja na capital do estado? É sobre organização popular, é um livro sobre o poder dos livros e da leitura.

Adelaide Gonçalves e Rafaela Lima, autoras do livro por vezes me fez refletir sobre o nosso imaginário elitista no que tange a leitura militante ao nos apresentar as experiências das bibliotecas sociais, como é o caso da Phenix Caixeiral, os impressos, jornais, folhetins e livros construídos por trabalhadores após horário do patrão. "Devemos considerar a instrução, não um adorno à vaidade do rico, mas um recurso à necessidade do pobre". Mais à frente, elas foram certeiras quando descreveram: "Na concepção desses patrões as atividades comerciais e a vida de estudante eram incompatíveis". 

Não estamos imunes à reproduzir a visão da classe dominante de forma individual, romper com essa narrativa exige coletividade, de modo que, as autoras nos apresentam associações de caixeiros e organizações de trabalhadores. É bonito ver que a construção destas palavras impressas contou com o apoio do Sindicato dos Comerciários de Fortaleza. 

Avalio que o tempo, bandeira de luta mencionada no início do texto, reivindicada por Antônio Cândido, exatamente este “tempo” utilizado para ler o primoroso exemplar editado pelo Plebeu Gabinete de Leituras foi um dos mais proveitosos de minha vida que conhece tão pouco da história do livro e da leitura, trabalhadora-leitora que encontra-se fascinada por este universo belo e feliz, assim como é a sociedade que tanto almejamos. O amanhã nos pertence.

*Louise Xavier é estudante e militante do Levante Popular da Juventude

Edição: Vanessa Gonzaga