Na área central do Recife, próxima a duas movimentadas avenidas, a Guararapes e a Dantas Barreto, uma praça transborda cultura, justamente por abrigar um mercado de livros usados com 19 sebos. Conhecida como Praça do Sebo, o espaço completa 40 anos neste mês de agosto.
Conhecer os sebos do Recife é uma experiência de viver a cidade nas calçadas, em becos e vielas que escondem tesouros preciosos. Por isso, os clientes também têm um perfil específico e uma relação de empatia com os sebistas. “O contato olho a olho com o cliente e dele chegar lá, dizer 'eu não faço ideia do que eu estou querendo' e você ir em busca com ele. Tirar informações dele para ver um estilo que ele gosta de ler e muitas vezes você não é só o vendedor, é psicólogo também. Pode acreditar!”, afirma a livreira Cátia Sales, que trabalha no local há 23 anos. “Existe clientes que são clientes meus há mais de 20 anos, que ele comprava para os seus filhos; seus filhos já estão formados e casados e vem comprar para os netos”, conclui.
Há clientes que circulam pela praça quase todos os dias, só para dar uma olhada, atraídos pela da variedade de publicações no local. “Tem variedade, porque tem livros didáticos, paradidáticos, tem livros de nível superior. Eu mesmo estou sempre procurando coisas que me interessem por aqui, entendeu? Eu acho um espaço bem interessante, até mesmo dentro da região de Recife”, acredita o técnico de enfermagem Marcelo Wilson dos Santos.
Para celebrar o aniversário de 40 anos, os livreiros fizeram um requerimento à Câmara dos Vereadores do Recife para que a praça receba o nome do escritor pernambucano Liêdo Maranhão, que era frequentador do local e escreveu sobre os sebistas em algumas de suas obras. Severino Augusto, que trabalha na praça desde a inauguração, em 1981, o mais antigo livreiro do espaço hoje, ainda lembra das visitas do autor. “Ele sempre vinha aqui, era ‘Augusto, Augusto’. Me tratava muito bem, era muito bem, mesmo, e ele divulgava. ‘Quer algum livro, meu livro, vá lá em Augusto, Augusto tem, Augusto tem’”, relata. “Ele gostava do povão! Não gostava de carro, o negócio dele era ônibus; o negócio dele era povo. O Mercado de São José, vixe maria, quando ele chegasse já tinha um canto reservado para Liêdo”, conclui Augusto.
Apesar de quatro décadas de história, a praça sofre com problemas estruturais, de segurança e de pouca divulgação. “Tem gente que passa e não conhece. Tem gente que ‘mas, rapaz, não sabia que tinha isso aqui não’ e já tem 40 anos. A gente precisa muito disso, mais atenção da Prefeitura, de reforma, de mais segurança”, afirmou Augusto
A comemoração que os sebistas querem é ter o reconhecimento oficial da praça como um espaço de incentivo à cultura e que faz parte da história da cidade. “O que a gente queria mesmo era esse olhar diferenciado com a Praça do Sebo nesses 40 anos, que não passasse esquecido, sabe? Que o pessoal olhasse com outros olhos para a praça, que visse que ali tem um potencial muito grande para educação, para lazer, para cultura. Ali é tudo!”, deseja a sebista Cátia Sales
A equipe do Brasil de Fato entrou em contato com a Prefeitura do Recife, mas não enviou resposta até a última atualização desta matéria.
Edição: Vanessa Gonzaga e Monyse Ravena