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Avançar na vacinação, sem deixar ninguém pra trás

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" O objetivo real tem que ser fazer com que as pessoas se sensibilizem e que tenham as ferramentas necessárias para se vacinar" - Marcos Pastich/PCR
Não são poucas as barreiras encontradas para a plena imunização

Esta semana, a prefeitura do Recife anunciou (primeiro pelas redes pessoais do prefeito, depois pelas redes oficiais) a abertura da vacinação para pessoas a partir de 23 anos. O gestor também já adiantou que está preparando o início do agendamento para pessoas a partir de 18. Duas excelentes notícias para a população que já não vê a hora de estar completamente imunizada e deixar no passado todos esses meses de perrengue pandemístico. 

Mas uma coisa o prefeito não fala: enquanto avançamos com a vacinação, tem muita gente sendo deixada para trás. Se é verdade que já passamos de 70% da população inoculada com a primeira dose, também é verdade que há localidades em que esse número não passa de 30% - ou até menos.

Deu pra ver direitinho isso na Nota Técnica 10 do meu mandato, lançada no mesmo dia da divulgação do novo grupo. Por mais que não tenha havido critérios territoriais na oferta de vacinação, obstáculos históricos, inerentes ao racismo estrutural, tem atrapalhado – e muito – a chegada da imunização nos bairros mais pobres (de maioria negra) da nossa cidade. 

Se no ano passado, na Nota Técnica 4, a gente já notava que a letalidade do vírus era bem maior na periferia que nos bairros de classe média e alta, o que estamos vendo agora é não apenas a permanência dessa tendência, mas o agravamento da situação na medida em que não há medidas específicas suficientes para atender essa população. Os números não mentem e infelizmente é possível, sim, dizer que no Recife pessoas pobres morrem mais de covid-19 que pessoas ricas. E que, em contrapartida, pessoas ricas vacinam-se mais que pessoas pobres.

Conversando com pessoas e grupos que vivem nesses territórios, não são poucas as barreiras encontradas para a plena imunização. Falta de informação, de internet e de transporte são algumas delas. Ainda (pasmem) tem gente que não acredita na eficácia da vacina. Gente que permanece sendo enganada por radicais do negacionismo e que ainda teme alucinações como chips chineses. Mas também tem muita gente sem acesso ou familiaridade à internet, única forma de se cadastrar para a vacinação. Também há muitas pessoas com dificuldade de chegar nos postos de vacinação, que nem sempre existem perto de casa. 

Bom lembrar que metade dos locais em que se pode vacinar no Recife está disponível no sistema de ‘drive thru’. É bem verdade que é possível chegar caminhando nesses lugares. Mas quem sabe disso? Muita gente também relata dificuldade com documentação, especialmente em obter o famigerado comprovante de residência. Em tese, ele pode ser obtido num posto de saúde, numa associação de bairro ou mesmo através do site da justiça eleitoral. Mais uma vez: quem sabe disso?

É urgente um esforço sério de comunicação. Mas isso não significa somente postar nas redes sociais nem ficar fazendo suspense sobre o próximo grupo a ser contemplado. Isso só faz criar engajamento nas redes privadas do gestor e contribui muito pouco para a ampliação da informação. O objetivo real tem que ser fazer com que as pessoas se sensibilizem e que tenham as ferramentas necessárias para se vacinar. 

E pra isso a estratégia tem que ser ampla e bem planejada. Identificar agentes de comunicação, lideranças religiosas, associações comunitárias, coletivos culturais, artistas e botar todo mundo pra moer junto. Facilitar acesso à internet nos bairros mais periféricos, dar tarefas importantes à galera que é agente comunitária de saúde e que, em pelo menos metade da cidade, conhece pelo nome a vizinhança e pode ter um papel fundamental no cadastro. Se não há doses suficientes para serem mandadas para ‘o postinho’, pode-se pensar, por exemplo, na criação de unidades volantes de vacinação, estratégia que vem sendo realizada com sucesso. 

Se o povo não vai às vacinas, que as vacinas cheguem no braço do povo.

Edição: Vanessa Gonzaga