A vitória de Lula, acima de tudo, representa uma derrota do governo e do projeto da extrema direita
No dia 15 de Agosto, Lula iniciou uma visita pela Região Nordeste, aparentando total tranquilidade, inocentado pela justiça e candidatíssimo a presidente da república. Em Pernambuco, Lula visitou o Assentamento Che Guevara, na cidade de Moreno, para debater a produção de alimentos e a necessidade da reforma agrária. No Piauí, a agenda foi a Saúde e a Defesa do SUS. No Maranhão Lula conversou com as populações indígenas e quilombolas e na Bahia Lula participou de uma plenária com lideranças do movimento negro. Para além do simbolismo que envolve esse seu primeiro contato com sua base, desde que anunciou sua candidatura, os objetivos principais desta passagem pelo Nordeste, centrou-se em três questões fundamentais: agradecimento à luta que fizeram pela sua liberdade, articulação política para derrotar Bolsonaro e animar a militância para a luta.
Em primeiro lugar, o presidente Lula veio agradecer ao povo nordestino pelo seu apoio incondicional durante o período que esteve preso, se lembrando também que esse povo esteve sempre a seu lado em toda sua história de luta em defesa dos direitos da classe trabalhadora. Aqui em Pernambuco, além das conversas com partidos e lideranças políticas, também participou de uma plenária com movimentos, organizações sociais e lideranças sindicais. O presidente agradeceu a ASA e todas as demais instituições que organizaram a caravana de Caetés até o acampamento Lula Livre em frente à sede da Polícia Federal em Curitiba. Do lado de fora, o acampamento saudava Lula diariamente com um “bom dia, boa tarde e boa noite, presidente Lula”.
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Em segundo lugar, a visita de Lula teve como objetivo buscar articular e organizar as forças políticas nos estados para construir uma unidade política em torno de seu nome que garanta uma vitória eleitoral nas eleições presidenciais em 2022. Além disso, essa unidade envolve a construção de campanhas vitoriosas em todos os níveis, mantendo governos populares e progressistas em todos os estados e articulando um conjunto de candidatos e candidatas a senadores e deputados federais que darão sustentação ao seu futuro governo.
Em Pernambuco, Lula conversou e articulou com mais de quinze partidos e lideranças políticas e sinalizou a manutenção da unidade na disputa pelo governo estadual, a chamada Frente Popular. Ele visitou pessoalmente o governador Paulo Câmara e a direção do PSB, se afirmando como candidato e chamando o partido para participar de sua campanha, acreditando ser esse movimento um passo extremamente necessário para o fortalecimento de sua candidatura. Lula conversou também com um arco muito grande de lideranças políticas, como André de Paula, Eduardo da Fonte, Wolney Queiros, Túlio Gadelha, entre outras forças, além, é claro, das reuniões com o próprio PT de Pernambuco.
A intenção dessa movimentação é clara: construir uma força política que seja capaz de impedir que Bolsonaro continue governando, visto como algo determinante para salvar vidas e impedir a destruição total do estado brasileiro, encerrando o ciclo da política do ódio, do preconceito e de permanente tensão e provocação entre as instituições de poder do Estado.
Paralelo a essa construção, também se almeja a articulação de uma campanha que possa dar ao presidente Lula uma vitória ainda no primeiro turno, para não deixar dúvida em relação ao seu propósito de retomar o projeto de governo que levou país um processo de inclusão social e de desenvolvimento que alçou o Brasil a ser uma das potências econômicas internacionais. Na sua última atividade em Pernambuco, quando falou na plenária, com os movimentos sociais, Lula foi incisivo em afirmar que ia visitar todos os estados, “articular com todas as forças políticas de esquerda, progressistas e todos aqueles que aceitarem fazer parte desta retomada do Brasil, desde que topem se engajar no propósito de pensar em primeiro lugar, governar para o povo. E em segundo, governar para o Brasil, com projeto de reconstrução da soberania nacional, com altivez. Todos que queiram se somar nesse projeto, estarei à disposição para conversar e buscar construir alinhamento político programático”.
Em terceiro lugar, outro objetivo dessa visita de Lula ao Nordeste foi animar a militância do PT, dos movimentos sociais e das organizações sindicais, convocar a juventude, em especial esta nova geração que neste período de governo conservador e fascista estão sem perspectivas de sonhar com futuro. Essa motivação é necessária para derrotar o governo Bolsonaro e construir o entendimento que a vitória de Lula, acima de tudo, representa uma derrota do governo e do projeto da extrema direita, do ódio, do genocídio e do negacionismo.
Segundo Lula, é necessário que a militância tenha clareza dos propósitos que se quer atingir, como retomar às ruas e derrotar este modelo de governo que se elegeu com bases em mentiras e fake news nas redes sociais. Para instigar a militância à luta, o presidente utilizou de seu exemplo, que aos 75 anos, está com uma disposição de jovem e quer ser candidato à Presidência da República porque quer cumprir essa tarefa histórica de reconstruir o país, praticamente começando do zero. Como falou Lula: “Temos que derrotar este governo, antes que ele acabe totalmente com este país”.
Uma das atividades que estava na agenda de Lula em Pernambuco, foi a de visitar um assentamento do Movimento Sem Terra, O assentamento escolhido para receber o presidente, em função da proximidade da capital do estado, foi o assentamento Che Guevara, com 71 famílias, localizada na zona da Mata de Pernambuco no município de Moreno, bem próximo do distrito de Bonança. Este Assentamento até bem pouco tempo, pertencia à usina Jaboatão, quando ainda tinha o nome de engenho Várzea do Uma.
O objetivo do MST era demonstrar à Lula a importância da Reforma Agrária para a produção de alimentos saudáveis. No assentamento ele visitou o lote de uma família e pode conhecer o que é e o que se produz em um quintal produtivo familiar de uma área da reforma agrária. Colheu produtos orgânicos, observou a diversidade de produção destinada para o auto-sustento da família, para comercialização nas feiras locais de Bonança e Moreno, para o PNAE, PAA e para as campanhas de solidariedade. No Assentamento Che Guevara, Lula colheu e viu a produção de alface, coentro, salsa, limão, laranja, mamão, maracujá, goiaba, tomate, pimentão e a criação de patos, marrecos, galinhas e porcos.
Entre as conversas com a família assentada, o presidente pode entender que a Agroecologia tem como base a produção orgânica, a diversificação da produção e a relação amistosa entre a terra como um bem. Lula terminou a visita do lote, colhendo e tomando água de coco e plantando duas árvores próximo à estrada, uma muda de Pau Brasil e um pé de Baobá, no local onde vamos implantar uma avenida dos Baobás. O presidente, ao plantar a muda de Baobá, trouxe presente esta relação histórica da descendência africana da maioria das famílias assentadas. Uma liderança do MST complementou: “esta é a nossa homenagem a todos aqueles e aquelas descendentes de africanos que nesta terra foram escravizados no engenho de cana e que lutaram e resistiram, com sua própria vida contra a escravidão”.
O movimento conseguiu demonstrar para Lula a necessidade de retomar de imediato um plano de Reforma Agrária, de desapropriar a propriedade e assentar famílias sem terras como forma principal para combater a fome no Brasil. Hoje, já são mais de 19 milhões de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza e mais 30 milhões de pessoas com alimentos insuficientes. O assentamento Che Guevara é prova visível de que a reforma agrária é determinante para produzir alimentos saudáveis para a população brasileira e para levar o desenvolvimento às regiões mais pobres do país, onde a terra é instrumento fundamental para as pessoas poderem ter trabalho, alimentação e dignidade.
No assentamento, o presidente teve a oportunidade de conhecer o projeto Mãos Solidárias, organizado desde o início da pandemia, quando as famílias dos assentamentos passaram, mesmo com todas as dificuldades, a doar alimentos de sua roça, com o objetivo de distribuir solidariamente para as comunidades do meio urbano que vivem em situação de fome. Nesse período, o MST somado a outras organizações, como Levante Popular da Juventude, FETAPE, Centro Sabiá, universidades, arquidiocese do Recife e Olinda, entre outras organizações e sindicatos distribuíram toneladas de alimentos em Recife, Caruaru, Petrolina e Garanhuns. Passamos a organizar os bancos de alimentos, os espaços de cadastramento e identificação das famílias mais necessitadas e a distribuição de alimentos. Na Região Metropolitana do Recife já são 37 bancos de alimentos organizados. Na visita, Lula teve a oportunidade de participar de uma atividade, onde estavam a disposição 15 mil quilos de alimentos que estavam sendo entregues aos bancos para distribuição.
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Na sede do assentamento Lula descerrou o Busto de Paulo Freire e lembrou do centenário de nascimento do educador do Povo. Ficou sabendo que o MST está colocando um busto de Paulo Freire em todos os assentamentos. Lula Lembrou que além de Paulo Freire ser um grande educador, foi um amigo pessoal seu. Uma dirigente do MST lembrou a tentativa do governo miliciano de tentar retirar de Paulo Freire o título de Patrono da Educação Brasileira. O busto do educador é, portanto, a simbologia de resistência. “Ninguém vai tirar o título de patrono daquele que foi o educador do povo e considerado o educador do mundo”.
Ao se despedir do assentamento, Lula agradeceu à família que o recebeu pela demonstração de conhecimento e de sabedoria popular que vai permitir que campo possa produzir alimentos saudáveis em abundância. Agradeceu ao assentamento que o recebeu com a Nação de Cavalo Marinho do Assentamento Luiza Ferreira de Condado. Citando Paulo Freire, disse que sabe da importância da alfabetização como instrumento fundamental para que todos os brasileiros e brasileiras possam, no mínimo, ter o direito de estudar e ter conhecimento. Como dizia Paulo Freire “Conhecer para transformar”.
Agradeceu ao MST pela postura de, em plena pandemia, criar um grande programa de distribuição solidária de alimentos para as populações mais vulneráveis. Por fim, em sua última atividade, no dia 16 de agosto, à noite, quando esteve na plenária com representantes dos movimentos sociais, deixou claro, que está se colocando à disposição do povo brasileiro para ser candidato a Presidente, que quer ser candidato de todos aqueles e aquelas que acreditam que possamos reconstruir um país em que o povo brasileiro possa voltar a sonhar, em comer três vezes ao dia, ter trabalho, educação e saúde. Que possamos voltar a ser um país soberano, e soberanamente articular-se com todos os países do mundo que querem superar a atual situação de fome e miséria no mundo.
Edição: Vanessa Gonzaga