O percentual de famílias que declaram estar endividadas em Pernambuco chegou a 80,9% em agosto, configurando o terceiro mês seguido de aumento da taxa. O dado é da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), com levantamento realizado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), com recorte local da Fecomércio-PE.
O número de endividados já avançou 2,8% na comparação com janeiro deste ano e 4,5% se comparado com agosto de 2020. Desde maio esse índice se mantém alto, de 8 em cada 10 famílias, e se aproximando da marca de 81%, valor que foi observado pela última vez há 10 anos, em julho de 2011. A quantidade de famílias que dizem não ter condições de pagar as dívidas continua preocupando com o avanço verificado entre abril e agosto, período em que cresceu de 12,0% para 15,1%.
Para se ter uma noção das dívidas, 12,3% das famílias se diziam muito endividadas em agosto de 2020 e, agora em 2021, elas são 20,2%. Já a proporção de famílias que declaravam não ter dívidas como cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, prestação de carro e de casa era de 23,6% em agosto de 2020 e caiu para 19,1% em agosto de 2021.
A principal forma de endividamento, informada por 97,0% das famílias, é o cartão de crédito. Além dos cartões, aparecem também em evidência os carnês (25,2%), o cheque especial (8,8%), o crédito especial (8,4%) e o financiamento de veículos (7,3%). Todas essas formas de crédito apresentaram aumento quando se compara ao patamar estimado em agosto do ano anterior.
Fatores sociais e econômicos impulsionam endividamento
Com a inflação elevada no estado, mercado de trabalho ruim, com menores remunerações, e o auxílio emergencial em menor valor este ano, um orçamento mais apertado vem provocando um maior uso do cartão de crédito para atender necessidades básicas, acendendo um alerta para o aumento das obrigações financeiras das famílias.
A pesquisa aponta também que algumas dívidas estão sendo feitas para pagar outras contas, a exemplo dos créditos consignados e pessoais e do cheque especial, que são acionados para a quitação de dívidas em atraso, incluindo o próprio cartão de crédito.
Ao contrário do que se observava até 2020, o cenário atual de elevação dos juros torna o quadro preocupante, já que novas contratações de crédito livre aumentam o endividamento e trazem o risco de potencializar a inadimplência nos próximos meses.
A situação de endividamento do estado é maior que o nível nacional. Os dados da PEIC para o Brasil registraram em agosto um percentual recorde de famílias endividadas no país (72,9%), mas o percentual de famílias com contas em atraso se mantém estável no curto prazo (25,6% em julho e agosto) e menor que o observado em agosto de 2020 (26,7%). Da mesma forma, a proporção de famílias sem condições de pagamento das dívidas atrasadas é menor e está em declínio: 12,1% em agosto de 2020, 10,9% em julho de 2021 e 10,7% em agosto deste ano.
Esse aumento do endividamento e da incapacidade de honrar as dívidas por parte das famílias pernambucanas se deve à redução do poder de compra, em função do constante aumento de preços em itens essenciais da cesta básica e de outros preços com impacto relevante para orçamento familiar, como o de combustíveis e de energia elétrica.
No curto prazo, também devem aumentar os preços no setor de serviços, o que os consumidores deverão notar ao longo do segundo semestre, especialmente nesse momento de reabertura, já que muitas atividades que estavam paralisadas por causa pandemia retornarão, mas ainda sem a força que atenda a demanda potencial do setor como um todo no estado.
Edição: Vanessa Gonzaga