Bolsonaro mentiu 1682 vezes em um ano, uma média de quatro mentiras por dia
Volto a escrever depois das mentiras proferidas por Bolsonaro, ou melhor, inverdades, já que sempre é bom usar adjetivos menos agressivos, afinal de contas, se trata do presidente do país. Até porque se o chamo de mentiroso, dá a ideia de impulsividade, de uma pessoa que mente de forma compulsiva. Se recorremos ao dicionário, vamos encontrar 25 sinônimos de mentiroso para três sentidos da palavra:
O primeiro é o que diz ou que fala mentiras: é um aldrabrão, loroteiro, embusteiro, enganador, farsante, impostor, mendaz, patranheiro, trampolineiro, trapaceiro, intrujão, mentireiro;
O segundo, são falas em que há mentiras: ardiloso, dissimulado, doloso, falacioso, falaz, falso, fingido;
Por útlimo, vem as falas que não correspondem à realidade: neste caso é um ato aparente, ilusório, enganoso, imaginário, irreal.
Segundo a revista ISTOÉ, Bolsonaro mentiu 1682 vezes em um ano, uma média de quatro mentiras por dia. Segundo a mesma revista, que vale lembrar, não nos representa, “Divulgar informações imprecisas, inverídicas ou exageradas sempre foi muleta para políticos em véspera de eleição. As falsas promessas e as distorções da realidade, no entanto, não costumam ser marcas de um governo. Candidato mentir é normal. Quanto ele se torna ocupante de cargo público, é crime. No caso de Jair Bolsonaro, as mentiras são uma marca registrada. Em 2020, segundo relatório da ONG internacional Artigo 19, divulgado na quinta-feira (29), o presidente da República mentiu 1682 vezes. As mentiras ameaçam diretamente a democracia e o crescimento da economia.”
No discurso de Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU, o presidente mentiu explicitamente, ou em um português mais popular, mentiu descaradamente, sem nenhuma vergonha de mentir. Alguns jornais falam em 7 mentiras principais; outros, como o jornal A Verdade, em 12 mentiras, lembrando que o discurso inteiro teve a duração de apenas 12 minutos e 9 segundos. Ou seja, uma mentira por minuto.
Mas, segundo matéria do jornal Brasil de Fato, Bolsonaro inicia o discurso com uma mentira geral: “o Brasil mudou muito depois que assumimos o governo em janeiro de 2019”, seguida por mais oito inverdades: Segundo Bolsonaro, "estamos há dois anos e oito meses sem qualquer caso concreto de corrupção"; "nosso banco de desenvolvimento era usado para financiar obras em países comunistas, sem garantias"; "o Brasil possui o maior programa de investimentos com a iniciativa privada de sua história"; "nossa moderna e sustentável agricultura de baixo carbono alimenta mais de 1 bilhão de pessoas no mundo"; "os recursos humanos e financeiros destinados ao fortalecimento dos órgãos ambientais foram dobrados"; "na Amazônia, tivemos uma redução de 32% no desmatamento no mês de agosto, quando comparado a agosto do ano anterior"; "sempre defendi combater o vírus e o desemprego de forma simultânea"; "no último dia 7 de setembro, milhões de brasileiros foram às ruas na maior manifestação de nossa história".
É verdade, também, que em algumas questões, nem tudo dá para colocar culpa só nele, como no caso da crise econômica. É uma crise internacional e estrutural do capital, do modelo de desenvolvimento, que se arrasta desde 2008 e possivelmente vai se prolongar por muitos anos ainda. Mas cabe ao governo gerenciar as crises e buscar soluções econômicas locais para aliviar a vida da população brasileira e salvar a economia.
Da mesma forma, temos a crise da pandemia do coronavírus, A pandemia é internacional. A maioria dos países tiveram muitas dificuldades para enfrentá-la, como o Brasil. No entanto, os governos em todo o mundo conseguiram organizar gabinetes ou comitês de crise, mobilizar a população, decretaram lockdowns, fechamento das escolas para as aulas presenciais; organizaram medidas de restrições como o distanciamento social, higienização das mãos, uso de máscaras e estruturaram o sistema de saúde para o atendimento específico dos casos da covid-19. Quando chegaram as vacinas, foram os primeiros a adquirir doses, a partir das suas necessidades e passaram a convocar a população para a vacinação.
Aqui, o presidente tomou medidas totalmente ao contrário, negou a pandemia e depois negou-se a tomar as medidas de restrições. Felizmente os executivos de estados e municípios, em sua maioria, tentaram organizar o processo independentemente do Governo Federal. Não se criou um gabinete de crise para centralizar as ações e orientações e por último, negou as máscaras, o distanciamento social e a vacinação como a principal medida para combater definitivamente a transmissibilidade do vírus. Ele mesmo não se vacinou.
Durante a viagem aos Estados Unidos, Bolsonaro virou piada. A sua posição negacionista custou ao Brasil mais de 600 mil mortes e mais de 20 milhões de pessoas infectadas, que possivelmente, em consequência da covid-19, vão sofrer sequelas pelo resto de suas vidas.
Também temos que colocar na conta do governo as 600 mil famílias que perderam familiares, em especial as crianças que ficaram órfãs. Tudo isso consequência do descaso e da política negacionista do presidente. Como já fizemos várias citações neste texto, vale aqui também lembrar a poesia cantada pelo poeta e forrozeiro Petrúcio Amorim, que diferente de Bolsonaro negacionista, em sua poesia faz meia culpa, enquanto isso, o presidente se coloca em uma postura como se não tivesse responsabilidade sobre esta questão ou deslocando da realidade, enquanto a culpa sempre é de outros. Diz o poeta:
“A natureza na fumaça se mistura
Morre a criatura e o planeta sente a dor
O desespero no olhar de uma criança
A humanidade fecha os olhos pra não ver
Televisão de fantasia e violência
Aumenta o crime, cresce a fome do poder
Boi com sede bebe lama
Barriga seca não dá sono
Eu não sou dono do mundo
Mas tenho culpa porque sou filho do dono”
Nós, que realizamos intercâmbios internacionais em diferentes países com organizações do mundo inteiro, lembramos que nos anos antes do golpe de 2016, sempre tivemos orgulho de falar do Brasil. Havia no mundo uma expectativa muito grande pela história que o Brasil estava construindo. O Brasil se colocou com altivez nas relações internacionais, com postura de um país próspero e soberano. Vimos o fortalecimento das relações políticas e comerciais, estreitando laços com os países latinoamericanos, com a África, Ásia e mesmo com a Europa e Estados Unidos, sempre com autonomia e sem submissão. Agora temos um governo totalmente submisso aos interesses dos Estados Unidos e que vira de costas para os irmãos latinos e africanos.
Naquele tempo, se elevou a estima de ser brasileiro. No exterior era frequente as pessoas perguntarem de forma bastante propositiva sobre o Brasil. Falavam com entusiasmo do presidente Lula. Todos queriam saber mais sobre o Brasil. Pelo menos quatro pessoas eram muito conhecidas no mundo inteiro, principalmente por suas capacidades de práticas nas relações internacionais.
Podemos citar o presidente Lula, que tem a simpatia no mundo inteiro; o eterno embaixador das relações internacionais do Brasil, Celso Amorim; a presidenta Dilma, primeira mulher a governar o Brasil, com toda a expectativa da valorização da participação das mulheres na política; e José Graziano da Silva, que foi presidente da FAO. Este deixou muita saudade pela forma como representava o Brasil e seu estilo sério, mas humilde de receber e conversar com lideranças das organizações, movimentos sociais e governos do mundo inteiro. Foi em sua gestão na FAO que a Via Campesina conseguiu tramitar e preparar para aprovação pela Assembleia Geral da ONU a Declaração dos Direitos Campesinos.
Infelizmente, neste período de Bolsonaro estamos vivendo um período de retrocesso nas formas e método das nossas relações internacionais. Os questionamentos e posturas nos dias de hoje são de perplexidade. Nos indagam no cotidiano “O que está ocorrendo com o Brasil? Como o povo brasileiro permitiu que o país chegasse a este estágio de ter um presidente que não representa a vontade da maioria, que tem postura submissa em relação aos interesses das grandes corporações multinacionais, com postura ultra conservadora e neofascista?” Muitas vezes, as pessoas ficam sem saber como fazer um comentário.
Todos sabem que apesar de tudo, nós brasileiros e brasileiras gostamos do nosso país, trabalhamos e organizamos o povo para construir um lugar melhor, em que as pessoas possam viver com mais dignidade, com mais democracia, com mais justiça social e inseridos como sujeito de direitos.
Normalmente, quando Bolsonaro fala, está sinalizando para a sua base militante, que é uma minoria muito pequena, formados em sua maioria por militares, destes 8.400 ocupam cargos no Governo Federal; milicianos, que formam grupos paramilitares para controlar as favelas e áreas mais pobres das regiões metropolitanas e, por fim, um setor do baixo clero do empresariado brasileiro, formado em sua maioria por filhos de latifundiários. Esta base acredita fielmente que Bolsonaro vai dar um golpe nas instituições republicanas do Brasil e implantar, com apoio do Exército, uma ditadura no Brasil.
É triste um presidente ocupar a tribuna das Nações Unidas para espalhar mentiras, se comportar como um miliciano e, ao invés de aproveitar a tribuna internacional para falar ao mundo, se prestou ao serviço de mentir para seus próprios seguidores. Por isso e muito mais é que este presidente se transformou na vergonha do Brasil e envergonha o povo brasileiro. Já deu o seu tempo, o Brasil já retrocedeu demais. É hora de interditar Bolsonaro e reconstruir o Brasil.
As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do jornal
Edição: Vanessa Gonzaga