Aparecer no Jornal Nacional não é a pauta central no tema da comunicação
Escracho à Prevent Senior. Ocupação da Bolsa de Valores. O Levante Popular da Juventude e o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) realizaram duas ações nos últimos dias que entraram para o círculo de assuntos comentados na sociedade, gerando debates, reflexões, elogios, críticas e, sobretudo, diálogo. Adentraram a esfera pública disputando a agenda de críticas ao governo Bolsonaro e às grandes empresas que lucram com a pandemia e a crise social. Foram ações de interesse público.
Ações simbólicas criativas, que disputam narrativas e versões dos fatos são importantes no momento político que vivemos. Elas são ações, que têm seu impacto elevado pela via da comunicação. Quanto mais pessoas de lugares diferentes entram em contato com as imagens, com as histórias contadas e com as informações postas em destaque e em disputa a partir do fato, melhor. A sede da operadora de planos de saúde manchada de tinta vermelha e sendo chamada de assassina; os especuladores da Bolsa sendo responsabilizados pela fome no país. Essas são as histórias contadas nessas ações.
Qual a história mais bonita contada na pandemia que a da solidariedade? Dos alimentos plantados e colhidos nos Assentamentos e Acampamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e distribuídos entre os mais pobres nas cidades. Das cozinhas populares do Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD) que distribuem comida e semeiam organização popular nas periferias. Essa é a história de como os trabalhadores e os movimentos populares são um respiro em um país em tempos de agonia.
Escrevo para chamar atenção que além da importância das ações em si, para seu potencial de diálogo com o conjunto da sociedade, sobre o feito de “furar a bolha” para deixar de dialogar com os iguais. Todas essas ações citadas aqui têm em comum o papel de militantes e estruturas de comunicação dos próprios movimentos populares e\ou de aliados. Essa ação de comunicação própria e de classe foi essencial inclusive para chamar atenção dos veículos comerciais que não nos dão audiência a troco de nada.
A energia, recursos e tempo gastos com a comunicação própria dos movimentos populares, organizações políticas, sindicatos e veículos populares que contribui para que nossa ação seja maior e melhor vista. A comunicação popular nos ajuda a enxergar a realidade a partir de outra ótica, contrária a que nos acostumamos desde a infância no consumo da mídia comercial, com seus enquadramentos e posicionamentos – por vezes velados, por vezes explícitos – de classe, quebrando a “história única”, como nos ensina a escritora Chimamanda Addiche.
Não esquecendo que os veículos são empresas que além da disputa ideológica com seus interesses políticos, querem sempre maximizar seus lucros. Que a disputa de movimentos e organizações populares não seja a da visibilidade favorável, mas sim a da busca do diálogo com a sociedade. Aparecer no Jornal Nacional não é a pauta central no tema da comunicação.
As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do jornal
Edição: Vanessa Gonzaga