Não cabe, absolutamente, em nome de Cristo e de sua Igreja, gestos, palavras e atitudes de homofobia
Gays: Deus, o papa e a Igreja amam vocês. Todas as vezes que ecoar uma voz diferente desta, não é Deus, é um monstro e, tão pouco, quando partir das Comunidades Cristãs, não é mais a Igreja, é uma seita.
O Catecismo da Igreja Católica, depois de apresentar sua posição moral a respeito da homoafetividade, imediatamente acrescenta: “Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta” (CIC 2358). A homofobia é um desrespeito a esta norma do Catecismo.
A plenitude da lei é o amor (Rm 13,10). Deste modo, podemos afirmar que, independentemente do que diga a doutrina moral a respeito do tema, a Igreja tem uma lei suprema em relação a população LGBTQ+ e também a todas as pessoas do mundo tão bem expressa no Antigo e no Novo Testamento: “amar o próximo como a si mesmo” (Mt 22,39) e, muito mais ainda na Nova Aliança no qual os homens novos e as mulheres novas vivem uma ética nova: “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei”(Jo 13,34).
Por isso, não cabe, absolutamente, em nome de Cristo e de sua Igreja, gestos, palavras e atitudes de homofobia que é um pecado contra o Mandamento do Amor e um crime conforme a legislação de muitos países, dentre eles, o nosso.
Assim sendo, a Lei de Deus na Nova Aliança não manda matar, não manda odiar ninguém. O verbo está no imperativo, amai-vos! Não é um pedido, é uma ordem. Por isso, amar sempre, independente da pessoa ser cristã ou não; hétero ou homossexual; índio, negro, branco ou mestiço; pobre, classe trabalhadora, classe média ou rico; do time que torce ou da opção política. Ora, se para quem tem inimigos Ele ordenou: “Amai vossos inimigos”(Mt 5,44), imaginemos o absurdo de um discípulo de Jesus ter por inimiga uma pessoa, pelo simples fato dela ser lésbica, gay, bi ou trans. Se se deve amar os inimigos, o que dizer então de amar os gays?
Amo, quia amo; amo, ut amem
O grande Padre Antônio Viera prega, citando um sermão de São Bernardo, sobre o amor ao próximo: “O amor fino não busca causa nem fruto. Se amo, porque me amam, tem o amor causa; se amo, para que me amem, tem fruto: e amor fino não há-de ter porquê nem para quê. Se amo, porque me amam, é obrigação, faço o que devo: se amo, para que me amem, é negociação, busco o que desejo. Pois como há-de amar o amor para ser fino? Amo, quia amo; amo, ut amem: amo, porque amo, e amo para amar. Quem ama porque o amam é agradecido. quem ama, para que o amem, é interesseiro: quem ama, não porque o amam, nem para que o amem, só esse é fino.”
Esta frase de São Bernardo de Claraval me marcou profundamente na juventude quando li no mural de um mosteiro trapista na Inglaterra: I Love Because I Love. Amo porque amo. Nós amamos uma pessoa não porque ela é ou não é LGBTQ+, mas simplesmente porque é filha/o de Deus e nosso irmã/o. Quem, em Cristo e no Espírito Santo, experimentou que Deus nos ama antes que amemos a Ele (Cf. 1 Jo 4,10), só pode amar e, não odiar um homossexual.
Pois, “se Deus nos amou assim, nós devemos amar-nos uns aos outros... Nós amamos a Deus porque Ele nos amou primeiro. Se alguém disser: ‘Amo a Deus’, mas odiar o seu irmão, é um mentiroso. Pois quem não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. Recebemos Dele este mandamento: quem ama a Deus também ame o seu irmão” (1Jo 4, 19-21). O cristão ama a toda/os sem acepção de pessoas. Homofobia é ódio. “Quem odeia seu irmão está nas trevas e vaga pela escuridão, não sabe para onde caminha, pois as trevas lhe turvaram a visão” (1 Jo 2,11). A homofobia turva a visão. Ao invés de olhar com o amor se olha com o ódio do preconceito.
Se Deus não condena, quem sou eu para condenar?
O Papa Francisco voltando do Rio de Janeiro para Roma, depois a Jornada Mundial da Juventude em 2013, durante a costumeira coletiva à imprensa no avião, cheio de amor e respeito disse: “Se uma pessoa é gay e procura Deus e tem boa vontade, quem sou eu, por caridade, para julgá-la? O catecismo da Igreja católica explica isso muito bem. Diz que eles não devem ser discriminados, mas integrados à sociedade. O problema não é ter essa tendência. Não! Devemos ser como irmãos”.
A primeiríssima novidade é que pela primeira vez um papa abra a boca e pronuncia a palavra “gay”. Só esse anúncio já carrega em si o grande significado de despojamento de qualquer tipo de preconceito. “A boca fala do que o coração está cheio” (Mt 12,34). Depois, a importância da frase “ se o gay procura Deus e tem boa vontade”. Há quem imagina que Deus e os gays não se relacionam. Pensam assim os que vivem na perspectiva rigorista, legalista, moralista, ritualista dos fariseus. Ainda, chama atenção a força dessas palavras “quem sou eu, por caridade, para julgá-las? ”.Talvez Francisco tenha se recordado das palavras de Jesus: “Quem julga será julgado, quem condena será condenado” ( Mt 7,1-5).
Também no dia 26 de junho de 2016 na chamada Conferência de Imprensa , durante o regresso da Armênia perguntado se a Igreja Católica deveria pedir desculpa à comunidade gay por ter marginalizado estas pessoas, o papa respondeu: “ Creio que a Igreja não só deve pedir desculpa a esta pessoa que é gay, que ofendeu, mas deve pedir desculpa também aos pobres, às mulheres e às crianças exploradas no trabalho; deve pedir desculpa por ter abençoado tantas armas... Como cristãos devemos pedir imensas desculpas… e não só sobre isto. Pedir perdão, e não apenas desculpa! «Perdão, Senhor»: é uma frase que esquecemos. ” .
O mais triste é quando a condenação aos homossexuais parte de cristãos que são ao mesmo tempo homossexuais e homofóbicos. Além de hipócritas e patéticos talvez sejam os mecanismos de defesa ou de negação apontados por Freud. Para essas pessoas também nossa ternura, respeito e compreensão por se comportarem assim como os fariseus.
Amar os homofóbicos, por mais paradoxal e contraditório que seja, é escutar e cumprir: “Isto vos mando: amai-vos uns aos outros” (Jo 15,17) ou ainda: “Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus (Mt 5,44). Através da justiça se condena o crime de homofobia . Por meio do amor, se perdoa o criminoso. Ternura, meus irmãos/as!. Corações fortes e aguerridos, mas sem perder a ternura.
Por último, o papa Bergoglio, fala de “integração na sociedade”, ao contrário da exclusão e intolerância e que “devemos todos ser irmãos” e não inimigos. O Estado, a sociedade e, nelas, principalmente as expressões religiosas, não podem praticar a homofobia que ofende e viola a dignidade humana inerente a cada pessoa.
Amoris Latetia
O papa argentino, com o mesmo nome do Santo de Assis, na Exortação Apostólica Amoris Laeticia, a Alegria do Amor, sobre a Família escreve no número 250: “A Igreja conforma o seu comportamento ao do Senhor Jesus que, num amor sem fronteiras, Se ofereceu por todas as pessoas sem exceção... Por isso desejo, antes de mais nada, reafirmar que cada pessoa, independentemente da própria orientação sexual, deve ser respeitada na sua dignidade e acolhida com respeito, procurando evitar «qualquer sinal de discriminação injusta» e particularmente toda a forma de agressão e violência”.
Devemos nos configurar e nos conformar ao comportamento de Cristo, daí o acolhimento, o respeito e não a condenação e rejeição. Por isso, o papa lembra aos católicos que não se coadunam com o cristianismo a discriminação, e, principalmente as formas de agressão e violência sofrida por esses nossos irmãos e irmãs. Violência que vemos crescer a cada dia e, às vezes, por parte de alguns que professam a fé. Cristãos sem Cristo, sem o amor e paz Daquele que disse, “Eu vos dou um novo mandamento, amai-vos” (Jo 13,34) ou ainda”, “Eu vos dou a minha paz, a minha paz eu vos dou”( Jo 14,27).
O papa defendeu a união civil
No documentário “Francesco”, do diretor de cinema Evgeny Afineevsky lançado em outubro do ano passado, o papa disse: “As pessoas homossexuais têm direito de estar em uma família. Elas são filhas de Deus e têm direito a uma família. Ninguém deverá ser descartado ou ser infeliz por isso", disse ainda: "O que precisamos criar é uma lei de união civil. Dessa forma eles são legalmente contemplados”.
O papa entra num campo na defesa de direitos humanos civis para essa população. Não faz equivalência ao casamento ou matrimônio civil nem tão pouco religioso.
Concluindo
Sabemos que este não é um assunto fácil para maioria das religiões. Acredito que a Igreja Católica não mudou muito o tema, mas o foco e abordagem. Se antes havia uma certa obsessão quanto a número 2357 do Catecismo, agora com o papa Francisco, é o número 2358 como uma postura mais pastoral do acolhimento e de promoção dos direitos humanos atinente ao respeito a essas pessoas, inclusive acordar com as uniões civis. É um grande avanço para essa instituição milenar. Contudo, o maior progresso é o crescimento do chamado à nossa identidade cristã, nosso RG, nosso CPF, nosso Twitter, Facebook ou Instagram, ou seja, o amor. “ Nisto todos saberão que vós sóis os meus discípulos, se amardes! ” (Jo 13,35). Quem odeia um homoafetivo não será reconhecido como seguidor de Jesus Cristo. Por isso, se sintam todos amados e amadas por Deus, o papa e a Igreja. Deus lhes abençoe!
As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do jornal
Edição: Vanessa Gonzaga