Muitos abandonaram a escola e não voltaram com o reinício das aulas presenciais
Desde o início da pandemia da Covid-19 e a necessária suspensão das aulas presenciais, uma questão tem me preocupado bastante: as condições de retorno depois de um ano e meio longe das escolas.
A alternativa das aulas remotas foi a forma encontrada pelas gestões educacionais para suprir o distanciamento sanitário. Com grande compromisso e até uma carga de sacrifício dos professores, elas foram implantadas em meio a muitas dificuldades. O acesso precário à internet, a falta de equipamento condizente, a adaptação metodológica para educadores e alunos foram alguns dos problemas enfrentados.
Muitas lições devem ter ficado desse período pedagogicamente atípico, vivenciado em meio às perdas, ao luto e às consequências socioeconômicas do coronavírus, aprofundadas pelo tratamento irresponsável do governo federal. Certamente a escola, os trabalhadores em educação, os estudantes e os gestores educacionais aprenderam algumas lições.
Para mim, as aulas remotas cumpriram a finalidade principal de manter o vínculo do estudante com a escola, para alguns, único equipamento cultural disponível na comunidade. Mas infelizmente, isso não foi suficiente na disputa da vida real dos alunos da rede pública: muitos abandonaram a escola e não voltaram com o reinício das aulas presenciais.
Vem daí a minha preocupação externada no início do texto. A escola vai precisar organizar duas ações básicas neste período. Uma delas, creio que já em curso, uma rigorosa reorganização curricular que considere o tempo das aulas remotas e as aprendizagens advindas do período mais duro da pandemia. A outra, tão urgente e estratégica, trazer nossos estudantes de volta à escola. Onde eles estão? Por que abandonaram? Como vamos estimular o seu retorno?
Neste sentido, aplaudo com satisfação o Projeto de Lei nº 2.663/2021, do governo estadual, que cria o Programa Monitoria PE, em tramitação na Assembleia Legislativa. Os objetivos do projeto se voltam ao resgate desses estudantes e ao enfrentamento do abandono escolar, através do instrumento da busca ativa. São questões óbvias para todo governo comprometido com a população, mas ganham um significado identitário importante que pode servir de estímulo ao programa.
A novidade que quero destacar é que a busca ativa, nesse caso, será realizada pelos próprios estudantes matriculados nas escolas da rede estadual, mediante a concessão de bolsa no valor total de R$ 800,00 (oitocentos reais) para monitores de busca ativa, por um período de três meses.
Além do estímulo financeiro, o projeto é carregado de uma identidade importante que pode facilitar o seu êxito. Jovens convencendo outros jovens a voltar para a escola; jovens que vivem na mesma comunidade dialogando sobre a importância de voltar a estudar; jovens discutindo entre si as dificuldades e os desafios de concluir estudos.
Proponho que essa carga de identidade seja o procedimento estratégico adotado pela Secretaria de Educação na regulamentação da lei. No ano do centenário de Paulo Freire, essa proposta aparentemente tão simples pode ser uma bela homenagem à construção coletiva de saberes, competências, inclusão e pertencimento. E isso é muito bom para a Educação!
As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do jornal
Edição: Vanessa Gonzaga