Poetisa, política e mulher: Cida Pedrosa é a homenageada da XIII Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, ao lado do patrono da educação brasileira, Paulo Freire. O tributo sucede a consagração de Cida com dois prêmios Jabuti em 2020, tornando-a a primeira pernambucana a levar o Melhor Livro do Ano. A autora participa intensamente na programação da Bienal, que se estende até a próxima terça-feira (13), apresentando leitura de poesias e participando de mesas redondas, debates e outras atividades voltadas para a contemplação de sua obra.
Escritora há mais de 40 anos e com dez livros publicados, Cida não dissocia sua arte do fazer político. Ao mesmo tempo em que se dedica à literatura, ela ocupa uma cadeira na Câmara dos Vereadores do Recife pelo PCdoB, tendo na sua bagagem passagens pelas secretarias de Meio Ambiente e da Mulher do Recife e uma trajetória longa de militância pelos direitos humanos. “Escrever é um ato político, fazer arte é um ato político. Parte da minha obra é muito feminista, muito voltada para a denúncia social sem ser planfetária. Eu faço uma arte engajada feminista, e isso tem uma relação enorme com a política”, enfatiza a artista de 58 anos, natural de Bodocó, no Sertão de Pernambuco.
O Jabuti, considerado maior prêmio literário do Brasil, marcou para Cida o reconhecimento não só do livro vencedor, “Solo para Vialejo” (Companhia Editora de Pernambuco), mas da sua carreira de luta pela literatura. “Ser artista no Brasil não é fácil. Ser artista da palavra, muito menos. E ser artista da palavra e escrever poesia, que é à margem da margem da margem, é mais difícil ainda. Mas eu estou firme e forte”, afirma.
Agora é a vez de receber uma homenagem “em casa”, com a dedicatória da Bienal ao seu trabalho. “Me enche de alegria. Em 15 anos de Bienal, só duas mulheres foram agraciadas até agora - Luzilá Gonçalves, que é uma incrível romancista nossa, e agora eu. Eu fico muito feliz e divido esse prêmio com todas as mulheres”, comenta.
Para Cida, é “um encantamento” receber a homenagem junto a outro grande nome pernambucano, Paulo Freire, que, em 2021, completaria 100 anos. “Tenho profunda admiração por esse escritor, por esse pedagogo, por esse homem de luta. A construção dele é uma pedagogia da liberdade e se pautou na luta contra toda opressão e sistema opressor”, fala. Nesse sentido, os dois autores se aproximam: “Eu tenho uma poesia que tem função social. Eu escrevo com essa vontade de ser libertária também. Escrevo com esse mesmo princípio”, revela.
O produtor da Bienal, Rogério Robalinho, também enxerga uma congruência entre as ideias. “São pessoas que convergem com o que propusemos, que estão relacionadas com a educação, a leitura e o comprometimento por uma sociedade melhor. Os autores abordam em suas obras questões que promovem a reflexão, são debates importantes ainda mais no tempo em que vivemos”, afirma.
“Cida vem em um momento de transição de uma linguagem cultural para outra, e, quando isso acontece, o resultado é sempre animador porque daí surgem novas leituras e novos olhares”, completa.
Desde o dia 1º, Cida Pedrosa já participou de diversas atividades que se debruçam sobre seus textos, começando pela mesa sobre Solo para Vilarejo, com a colunista Mariana Ianelli e o escritor Wellington Melo, mediada pelo seu filho dela, o poeta e historiador Francisco Pedrosa.
A agenda da feira também inclui uma série de espetáculos inspirados na sua obra. No Palco SESC Além das Letras, já foram apresentados o solo “Para um Sertão Blues”, posto no palco pelo Coletivo Caverna e sob direção de Cláudio Lira; “Todas as Mulheres de Cida”, baseado no livro “As Filhas de Lilith” (2009), adaptado pelo Grupo Cênico Calabouço e dirigido por Bruno Fittipaldi; e o monólogo MedusaMusaMulher, interpretado pela atriz Fabiana Pirro.
Cida conta estar ansiosa para assistir ao espetáculo Claranan, produzido pelo Coletivo O Poste Soluções Luminosas e apresentado nesta sexta (8) às 19h e sábado (9) às 17h, e experimentar o menu preparado pelo chef Rivandro França com pratos inspirados nos seus poemas.
Bienal em formato híbrido
Maior feira literária do Nordeste, a Bienal Internacional do Livro de Pernambuco espera receber 350 mil pessoas até a próxima terça-feira (13). A edição leva o tema “Só existe uma vacina contra a Ignorância. Leia” que, segundo o produtor Rogério Robalinho, foi escolhido por conta do contexto atual, em que a ciência vem sendo questionada.
Em razão da pandemia da covid-19, a programação acontece de forma híbrida - ou seja, uma parte no Centro de Convenções (Cecon), no limite de Recife e Olinda, e outra em ambiente virtual, na plataforma e-Bienal. Robalinho relembra que, em 2020, foi realizada uma versão completamente digital da Bienal.
“Buscamos o compromisso com o mercado editorial e livreiro do país de trazê-los para Pernambuco para realizar todo o planejamento. Com a pandemia, tivemos que pensar de outra forma, reforçamos as ações virtuais, criando a plataforma e-Bienal que, durante 2020, realizou debates, oficinas e lançamentos. Observamos que o mundo agora seria outro e então foi preciso construir um evento diferente, presencial e também virtual com a nossa plataforma”, diz
Nesse modelo, o evento apresenta 220 atividades, com mais de 60 lançamentos de livros. O espaço físico, no pavilhão de 9 mil metros quadrados do Cecon, conta com 320 estandes de 89 livrarias e editoras.
Edição: Vanessa Gonzaga