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TRANSPARÊNCIA

Nordeste tem menor taxa de óbitos por Covid no país, mostram dados do consórcio da região

Sérgio Rezende sugere que baixa de óbitos na região se deve a desobediência às "macabras recomendações" do presidente

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A média de óbitos pela Covid-19 em Pernambuco é de 206 mortes por 100 mil habitantes - Nelson Almeida/AFP

O Brasil atingiu uma média de óbitos pela Covid-19 de 282 por cada grupo de 100 mil habitantes. Na região Nordeste, esse índice está abaixo em todos os estados. A menor taxa do país, de acordo com dados divulgados domingo (10) está no Maranhão, com 143 mortes a cada 100 mil habitantes, seguida pela Bahia (taxa de 181 por 100 mil habitantes), Alagoas (186 mortes por 100 mil habitantes) e Pernambuco (206 mortes por 100 mil habitantes).

O RN também tem índice bem abaixo do Brasil: são 208 mortes por cada 100 mil habitantes. Para esse cálculo, foi considerada a população de 3,5 milhões de habitantes do RN (IBGE 2021) e 7.300 mortes pelo vírus – computadas até segunda (11).

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Os dados do Nordeste foram divulgados em artigo assinado por Sérgio Rezende, coordenador do comitê científico do combate ao coronavírus do Consórcio Nordeste. Ele afirma no texto que há duas razões para esses números: a primeira é que “todos estados do Nordeste, o presidente da república foi derrotado nas eleições de 2018. Portanto, no Nordeste ele tem menos seguidores para suas macabras recomendações”.

A outra é “que os governadores e prefeitos da região rejeitaram o comportamento negacionista do presidente e seu governo e decidiram ouvir a ciência para tomar as decisões no enfrentamento da maior crise sanitária já vivida pelo Brasil”.

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Outro dado importante apontado por Rezende é de que o Nordeste tem 27% da população geral do Brasil, mas em relação ao número de mortes por Covid, os nove estados somam 19% do total, o que reforça o dado de menores índices de morte. Eis o artigo de Sérgio Rezende, publicado no site Poder 360:

Um exemplo do Nordeste: não ao negacionismo da ciência, por Sergio Rezende

Nos primeiros dias de 2020 o mundo tomou conhecimento de uma informação preocupante vinda da cidade de Wuhan, na China. Uma doença até então desconhecida, transmitida por um novo coronavírus, em pouco tempo debilitava as pessoas e podia levar à morte. A doença, que recebeu o nome de covid-19, causou uma epidemia que fez o governo local decretar “lockdown” e construir um hospital de campanha para a internação dos doentes que se multiplicavam. E as atenções do mundo voltaram-se para a China.

Muitos acreditavam que a nova doença ficaria confinada à China, mas logo os primeiros casos da covid-19 foram anunciados na Itália e na Alemanha, em pessoas infectadas por viajantes que chegavam da China. Em algumas semanas a epidemia se espalhava na Itália, Alemanha, França, Espanha, Reino Unido, e chegava aos Estados Unidos. No início de março a OMS (Organização Mundial da Saúde) reconhecia a situação de pandemia, quando 114 países anunciavam a infecção de mais de 118.000 pessoas.

Logo a ciência entrou em cena, identificando os efeitos da covid-19, como danos permanentes aos pulmões, por síndrome respiratória aguda, e ao coração, deixando sequelas graves e até levando a óbito. Também houve grande avanço nos métodos de testagem, mas nenhum medicamento específico para o tratamento da doença foi identificado, e nenhum tratamento precoce teve sua eficácia comprovada cientificamente. A ciência também demonstrou que o novo coronavírus, denominado Sars-CoV-2, era transmitido no contato entre as pessoas, ou por meio de gotículas expelidas por tosse, espirro, etc. Então, a única maneira de controlar a epidemia era o isolamento social, uso de máscaras, higienização sistemática, etc.

Ainda em março foram identificados os primeiros casos da covid-19 no Brasil em turistas que chegavam da Europa. A reação imediata do presidente da República foi a negação da gravidade da doença, dizendo que em pessoas saudáveis ela causaria no máximo uma gripezinha, e aconselhando a população a continuar a vida normal. Foi então que os governadores dos 9 Estados do Nordeste, reunidos no Consórcio Nordeste, criaram o Comitê Científico de Combate ao Coronavírus (C4), formado por cientistas especializados nos vários temas relacionados à doença. Logo o C4 passou a emitir boletins com recomendações de ações para a contenção do espalhamento do novo coronavírus, informações para as equipes de saúde, análises de cenários e riscos, entre outros, com base no melhor conhecimento científico existente.

A 1ª recomendação do Boletim 1 era enfática: os Estados e municípios deveriam impor medidas restritivas de distanciamento social, que eram essenciais para conter o avanço da epidemia. Ela foi acatada pelos governos do Nordeste, porém a epidemia expandiu na região, facilitada por ser uma mais pobres do país, com enormes desigualdades sociais, com aglomeração de pessoas nas moradias e trabalhando em setores comerciais informais ou desestruturados.

Seis meses após o início da pandemia no Brasil os números diários de casos e óbitos pela covid-19 começavam a diminuir, indicando o final de uma “onda epidêmica” muito mais longa que nos países europeus, onde a queda se verificou dois a três meses após o início, em razão das medidas restritivas logo implantadas. Entretanto, as aglomerações causadas pelas eleições municipais e pelas festas de final de ano levaram ao início da 2ª onda.

No final de 2020 o mundo tomou conhecimento de outra vitória da ciência, o desenvolvimento em tempo recorde de vacinas contra a covid-19. Graças aos avanços na biotecnologia, pesquisadores em universidades e centros de pesquisa, em articulação com empresas farmacêuticas, ainda no meio do ano já anunciavam o início de testes em humanos de várias vacinas candidatas. Nesta época, empresas estrangeiras procuraram o governo brasileiro para oferecer suas futuras vacinas. O governo rejeitou todas elas, pois o presidente da república afirmava que não seriam necessárias.

Nos primeiros meses do ano a segunda onda da pandemia ganhou corpo no Brasil, e como em outros países foi mais intensa que a primeira. No início de abril a média móvel de sete dias de casos de covid-19 atingiu 100 mil, enquanto a média de óbitos atingiu 3,1 mil. Em dias de pico houve cerca de 4,5 óbitos. Desde então os números têm caido lentamente, mas o número total de mortes pela covid-19 chega à terrível marca de 600 mil. Uma verdadeira tragédia! Resultado, em grande parte, da inépcia do governo federal, da permanente atitude negacionista do presidente da república e suas campanhas contra o isolamento social, contra o uso de máscaras de proteção, e até contra a vacina, influenciando diretamente parte da população, em especial seus seguidores mais fanáticos.

No balanço geral da crise da covid-19 no Brasil, a distribuição geográfica tem implicações significativas. No início da epidemia alguns Estados do Nordeste apresentavam os piores desempenhos, e os prognósticos de especialistas para a região eram muito sombrios. Porém, após 18 meses, em 8 de outubro de 2021, quando o número de mortes no país chega a 600 mil, o número na Região Nordeste é 117 mil. Este número é absurdamente alto, mas corresponde a 19,5 % do total, enquanto o percentual da população nordestina é 27,5 %.

Em outra comparação, a média de óbitos pela doença no país alcança 282 por 100 mil habitantes, mas todos estados nordestinos têm menos óbitos que a média nacional. A menor taxa do país é a do Maranhão, com 143/100 mil. A 2ª menor é da Bahia, 181/100 mil. Depois Alagoas, 186/100 mil; e Pernambuco com 206/100 mil.

Há duas razões para este cenário. Uma é que em todos Estados do Nordeste, o presidente da República foi derrotado nas eleições de 2018. Portanto, no Nordeste ele tem menos seguidores para suas macabras recomendações. A outra, sem dúvida, é que os governadores e prefeitos da região rejeitaram o comportamento negacionista do presidente e seu governo e decidiram ouvir a ciência para tomar as decisões no enfrentamento da maior crise sanitária já vivida pelo Brasil.