Todo mundo em Pernambuco sabe que o bolsonarismo aqui não se cria
Pernambuco pode – e deve – investir numa educação transformadora, que compreenda a importância de se aprender na escola e fora dela; uma educação que valoriza o corpo docente e ouve toda a comunidade escolar. Que se integra à sociedade e que compreende que aprovação é mais que nota alta ou mesmo passagem de ano.
Pernambuco pode – e deve – reformular o Pacto pela Vida, privilegiando iniciativas de prevenção à violência a partir de ações de desarmamento, mediação de conflitos e mudança de prioridades na sua ação coercitiva. Desvendar – e punir – crimes contra a vida precisam ser prioridade sobre ações que apreendem pequenas quantidades de drogas, por exemplo.
Pernambuco precisa – urgentemente – criar um programa de Renda Básica para além de auxílios emergenciais, que possa fazer com que milhares de pessoas tenham a oportunidade de sair da miséria e recuperar a dignidade.
Pode – e deve – aportar recursos também na atenção básica, reforçando iniciativas que hoje são dos municípios, fazendo com que a melhoria na qualidade de vida da população se reflita também numa redução do adoecimento e dos números de pessoas que procuram atendimento em unidades de saúde.
Precisa – e muito – criar um programa de desencarceramento que desonere o Estado e promova possibilidades de inserção social para pessoas que tenham passado pelo sistema prisional.
Pernambuco pode – lógico – implementar um Programa Estadual da Maconha que garanta a produção de remédios para quem precisa de tratamento com derivados da cannabis, insumos para a indústria têxtil e de cosméticos, além de fortalecer as associações que trabalham com o tema e preparar-se para a relegalização da planta que virá nos próximos anos.
Precisa urgentemente executar políticas de comunicação que possam garantir à nossa população não apenas o direito à informação de qualidade e a liberdade de expressão através de plataformas públicas ou independentes, mas também implementar medidas de educação para a mídia e de universalização de banda larga.
Pernambuco pode – e deve – compreender a cultura não apenas como instrumento de representação e identidade, mas também como importante cadeia produtiva limpa e sustentável, que poderá garantir emprego e renda a milhares de pessoas.
Precisa privilegiar possibilidades econômicas que garantam a liberdade econômica, gerando desenvolvimento e renda, respeitando os direitos humanos e o meio ambiente. A pesca, a agricultura orgânica e de base familiar, o turismo, a indústria da tecnologia, as matrizes energéticas de menor impacto ambiental, além da economia criativa, apontam possibilidades que precisam ser fomentadas.
Dos tatuís do litoral aos tucunarés do São Francisco, todo mundo em Pernambuco sabe que o bolsonarismo aqui não se cria. De sua parte, o PSB, grupo que há mais de década controla o Estado, originariamente eleito ‘pela esquerda’, já faz tempo que anda em cima do muro quando o assunto é ousar para garantir direitos. Falta de democracia, arroxo no funcionalismo público, privatizações têm sido palavras cotidianas demais nos governos desse partido que trouxe avanços importantes, mas que hoje tem na palavra ‘socialismo’ uma mera alegoria – quando muito.
Se, por um lado, a ‘tarefa’ nacional de retirar a milícia negacionista do poder é urgente, ela não pode escamotear nossos sonhos. A necessária união democrática pelo Fora Bolsonaro não pode impedir que nosso estado, politicamente estacionado há tanto tempo, ouse avançar – correndo um sério (e lindo) risco de ser vanguarda nacional no pós-bolsonarismo.
Enquanto abro o jornal dos donos de sempre, me pergunto até quando vamos escolher as dinastias de sempre, com os sobrenomes de sempre, para seguir fazendo o que sempre fizeram (mesmo que uns façam um pouquinho melhor que outros).
Se ousadia está no nosso DNA e coragem nunca nos faltou, já passou da hora de a gente sonhar seguir em frente – e à esquerda.
Edição: Vanessa Gonzaga