O que aguarda um país que abre mão do conhecimento científico?
Ainda em meio à pandemia do novo coronavírus, que deixou o mundo inteiro de joelhos, a sociedade brasileira foi surpreendida com a notícia de que o Governo Federal vai cortar 92% dos recursos que seriam investidos na ciência, com a aquiescência do Congresso Nacional. Isso mesmo: de todo o montante de recursos que estavam previstos para serem investidos em pesquisa, restarão apenas R$ 55 milhões. Não é preciso ser matemático para deduzir rapidamente que isso vai significar a suspensão de estudos importantes já iniciados por falta de verba.
O realocamento de recursos da ordem de R$ 690 milhões foi feito a pedido do Ministério da Economia, cujo titular Paulo Guedes, ainda não explicou à sociedade brasileira como pode manter contas bastante rentosas em paraísos fiscais e comandar a economia sem que haja conflito de interesses. Também não esclareceu porque a política de preços da Petrobrás está atrelada ao dólar, favorecendo os interesses dos investidores estrangeiros, quando mais de 80% do petróleo consumido no Brasil é produzido e refinado aqui mesmo.
O fato é que não há possibilidade de um país prosperar sem ciência. Se o agronegócio hoje é uma das grandes fontes de riquezas do país, foi graças a anos de pesquisas agropecuárias, feitas pela Embrapa, estatal reconhecida internacionalmente pela competência de seus quadros e trabalhos na área de inovação tecnológica e sustentabilidade. Também foi a ciência que possibilitou a descoberta do pré-sal, um vasto campo petrolífero armazenado sob uma espessa camada de sal nas águas profundas do litoral do Rio de Janeiro, que passou a despertar cobiça no mundo inteiro.
Não é possível haver salto civilizatório sem ciência. Como uma sociedade pode encontrar soluções para seus problemas sem recorrer à tecnologia, à pesquisa científica? A ciência foi a candeia na noite escura, quando os homens ainda viviam à mercê dos humores da natureza e só tinham os deuses e deusas a quem suplicar ajuda.
Foi o conhecimento científico acumulado que permitiu a cientistas de várias partes do mundo encontrar rapidamente mais de uma vacina para nos livrar do flagelo da covid. Antes disso, na Idade Média, populações inteiras sucumbiram diante da peste justamente pela falta desse conhecimento.
O que aguarda um país que abre mão do conhecimento científico? Além de perder autonomia, percorre um caminho inversamente proporcional ao do progresso, em direção às trevas medievais. Um sintoma de que já estamos no rumo do retrocesso é a fuga de muitos cientistas para o exterior. Quando um país perde suas cabeças pensantes, além de desperdiçar o investimento feito nelas, anula a possibilidade de qualquer progresso futuro. Como dizia o filósofo Sócrates, a vida sem ciência é uma espécie de morte.
Edição: Vanessa Gonzaga