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É urgente que a ONU represente toda a humanidade e não apenas os governos

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A ONU completa 76 anos no próximo dia 24 - ONU
"Aquilo que diz respeito a todos deve ser tratado e decidido por todos"

Neste próximo domingo, a ONU comemora o seu aniversário. Recorda o 24 de outubro de 1945, quando foi proclamada a Carta das Nações Unidas. Agora, 76 anos depois, a ONU continua necessária para regular as relações entre os Estados. No entanto, cada vez mais, é urgente que a ONU represente toda a humanidade e não apenas os governos. A paz, a justiça entre os povos e o cuidado que a humanidade deve ter com a terra são questões por demais importantes para serem deixadas apenas aos cuidados de técnicos e governantes. Um princípio jurídico dos tempos antigos afirmava: "Aquilo que diz respeito a todos deve ser tratado e decidido por todos". 

Nas últimas décadas, a humanidade caminhou nessa direção. Em junho de 1992, enquanto a ONU reunia os chefes de Estado na Rio 92, movimentos e organizações se encontravam no Aterro do Flamengo na "Cúpula dos Povos". A partir do levante dos indígenas do Sul do México em 1994, os zapatistas organizaram em Chiapas três edições do Encontro da Humanidade pela Vida e contra o Neoliberalismo. Em 2001 começou o processo dos fóruns sociais mundiais. Depois de mais de vinte anos, esse processo continua vivo, embora também exija constante renovação e adaptação às novas realidades do mundo.  

O protagonismo dos povos originários e a redescoberta da riqueza de suas culturas nos revelam que o Bem Viver, ideal comum a muitos povos indígenas, pode ser paradigma de civilização e relações de paz e justiça eco-social para toda a humanidade. 

No dia 04 de outubro, festa de São Francisco de Assis, reuniram-se no Vaticano 40 líderes de diferentes religiões do mundo e emitiram um apelo à ONU em defesa da terra e para deter as mudanças climáticas. Essa declaração é importante porque compromete as mais diversas tradições religiosas no cuidado com a mãe terra. Entretanto, todos sabem que se não se mudar o sistema econômico que  domina o mundo, dentro de algumas décadas, não haverá salvação para a vida no planeta Terra. É urgente que os governos não se comportem como meros gerentes das empresas multinacionais. 

Neste mês de outubro e em novembro, a ONU fará duas conferências mundiais, uma sobre biodiversidade e outra sobre mudanças climáticas. Nestes dois encontros de cúpula, os governantes e seus representantes poderão aprovar algumas medidas de proteção ecológica, desde que essas não toquem nos interesses e lucros da elite financeira internacional. É preciso que a ONU retome a sua função e possa ter mais força. Para isso não pode permitir que as organizações que dirigem os destinos da humanidade continuem sendo o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. A maior parte da humanidade concorda com o papa Francisco quando este declara: Este sistema mata!

A sociedade civil internacional se mobiliza em campanhas e lutas em defesa da água como bem comum da humanidade e direito universal de todos os seres vivos. Organizam-se fóruns e coletivos como a Ágora dos Habitantes da Terra e a Conferência Internacional dos Povos para que se desmonte o aparato armamentista que ameaça a vida no planeta.  

É urgente que as igrejas cristãs e as religiões compreendam que essa luta pacífica da humanidade pela paz e pela justiça eco-social corresponde ao que, no evangelho, Jesus propõe como "vida em plenitude", ou vida de qualidade (Cf. Jo 10, 10).

 

Edição: Vanessa Gonzaga