O fim das coligações proporcionais criou um grande desafio para muitos presidentes de siglas no estado. O modelo, já experimentado nas eleições municipais de 2020, será testado pela primeira vez numa eleição nacional e estadual. Se antes os “donos” dos partidos uniam suas siglas com outras para aproveitarem o “caldo” de votos dos aliados para se eleger, agora cada sigla precisa montar uma chapa própria competitiva para superar o coeficiente eleitoral e conseguir eleger alguém. Mas essa parece não ser uma preocupação do Partido dos Trabalhadores.
Em conversa com o Brasil de Fato Pernambuco, o senador Humberto Costa (PT) se mostrou otimista com a ampliação das bancadas estadual e federal do partido. “Estamos trabalhando para ter uma chapa própria competitiva, que nos permita aumentar o tamanho da nossa bancada – e vamos conseguir fazer isso”, garantiu. O PT tem hoje três deputados estaduais (Doriel Barros, Teresa Leitão e Dulcicleide Amorim) e dois federais (Marília Arraes e Carlos Veras). Mas há a expectativa de que a candidatura de Lula (PT) à Presidência da República atraia mais votos para o partido.
Muitos partidos não devem conseguir montar chapas competitivas. Mesmo um partido tradicional e de porte nacional como PSDB não conseguiu viabilizar sequer uma chapa para vereadores no Recife e acabou abrindo mão da disputa. A corrida para ocupar os cargos de deputados estaduais e federais será ainda mais difícil, principalmente nos partidos menores. A estimativa é que cada partido precisará atingir um mínimo de 90 mil votos para eleger um deputado estadual e 150 mil votos para eleger um federal.
Isso deve levar deputados a abandonarem suas siglas e buscarem partidos que lhe deem garantia de superar o coeficiente eleitoral. “Logicamente estamos abertos à discussão com outros partidos e pessoas de outros partidos que desejem estar conosco nessa disputa eleitoral. Mas até o presente momento não há nada de muito concreto a não ser a vinda do ex-prefeito [do Recife] João Paulo (hoje deputado estadual pelo PCdoB). Mas outros nomes por enquanto não”, diz Humberto.
Ele menciona a “discussão com outros partidos” deixando aberta também a possibilidade de algum acordo partidário para driblar o impedimento das coligações ou, ainda, o novo instrumento da “federação partidária”: uma fusão temporária de partidos com duração de quatro anos, em que os partidos precisam estar unidos em todo o território nacional e nas casas legislativas. Há a possibilidade de o PCdoB formar uma federação com o PSB ou com o PT.
Chapa majoritária
O PT traçou para 2022 o objetivo prioritário de eleger o ex-presidente Lula para o Palácio do Planalto, mesmo que para isso seja necessário “sacrificar” candidaturas a governo para viabilizar alianças locais. É o caso das conversas com o Partido Socialista Brasileiro (PSB), que tem em Pernambuco sua maior força. O PSB tem sinalizado para um apoio a Lula, desde que seja retribuído com um apoio do PT em Pernambuco e noutros estados. O PSB comanda o governo local há 16 anos (desde 2006), com uma ampla frente chamada “Frente Popular”.
Entre idas e vindas ao longo desse período, o PT está fora da frente desde as rusgas da eleição municipal do Recife, disputada entre João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT), vencida pelo primeiro. Alguns membros do PSB sinalizam para uma reaproximação com o PT de Lula, outros dizem preferir o PDT de Ciro Gomes, já João Campos faz jogo duplo sobre o tema. Fato é que o PDT ainda tem esperanças de ter o apoio do PSB, que por sua vez não demonstra pressa em decidir, o que dá margem para especulações sobre uma candidatura do PT ao Governo do Estado.
Humberto deixa as possibilidades abertas. “O PT está aberto a qualquer cenário: seja apoiar a candidatura de outro partido pela Frente Popular, seja uma candidatura do PT apresentada para encabeçar a aliança política da Frente Popular, ou ainda uma candidatura isolada. Estamos preparados para tudo isso”, diz o senador. Os nomes mais cotados para assumir uma possível candidatura são os de Marília Arraes (hoje opositora do PSB) e o de Humberto Costa, que tem trabalhado pela aliança nacional com o PSB.
Pelo lado dos socialistas o nome prioritário é o de Geraldo Julio, ex-prefeito do Recife e hoje secretário estadual de Desenvolvimento Econômico. Ele tem histórico de declarações antipetistas e teve o PT como adversário nas suas duas eleições: contra Humberto em 2012 e contra João Paulo em 2016. Com a reaproximação do PSB com o PT, Geraldo passou a “fugir” das aparições públicas de negociações eleitorais e tem dito que está desmotivado para uma candidatura, mas o partido garante que o nome é o dele.
Além do PSB e provavelmente o PT, a Frente Popular reúne outros partidos grandes, como PP, PSD, MDB e Republicanos. Todos competem entre si para ocupar a vaga de senador e a de vice-governador na chapa majoritária, mas garantem respeito à liderança do PSB na condução do processo.
Edição: Vanessa Gonzaga