O município de Ipojuca é conhecido pelas praias paradisíacas, como Porto de Galinhas, Maracaípe e Muro Alto. Mas muita coisa mudou desde a instalação da Refinaria Abreu e Lima (RNEST) no Complexo Industrial e Portuário de Suape. A refinaria é uma das maiores do mundo e possui capacidade de produção de 230 mil barris de petróleo por dia, segundo informações do site da Petrobrás.
As cerca de 3 mil pessoas que moram nas cercanias da RNEST reclamam que desde a instalação da empresa, em 2014, passaram a sentir sintomas de doenças respiratórias, irritações na pele e nos olhos e até problemas gastrointestinais, que associam à intoxicação por emissão de gases.
“Eu já desmaiei. Estava eu e minhas filhas em casa, logo nos primeiros dias. A gente não estava sabendo do que se tratava. Eu só sei que eu tive crise de vômito e tudo, fiz até xixi nas calças. Quando eu acordei o SAMU já estava aqui em casa”, afirmou Yara marques, moradora do bairro Vila Califórnia e técnica ambiental.
Ela já chegou a ser internada duas vezes com problemas respiratórios e gastrointestinais. “A pele queima. Eu sinto por dentro como se eu tivesse passado pimenta nos meus órgãos, sinto ardor, aquela 'quentura' por dentro. A pele, a garganta, os olhos. E não é só em mim. Eu não sei mais o que fazer”, lamenta.
Entre as instituições que dão suporte à comunidade está o Fórum Suape, uma organização que defende os direitos territoriais e socioambientais das comunidades atingidas pelo Porto de Suape. O Fórum tem acompanhado a luta e as denúncias dos moradores junto à refinaria, ao Poder Executivo e ao Poder Judiciário. “O Fórum Suape tem recebido há alguns anos denúncias de moradores, principalmente do município de Ipojuca, de vazamentos de gases da Refinaria Abreu e Lima”, diz Mariana Vidal Maia, assessora jurídica da entidade.
“Tempos atrás poderia ser até um vazamento menor, com efeito passageiro, mas que causava problemas. Mas temos notado que, talvez de 1 ou 2 anos para cá, esses vazamentos estão se intensificando, se repetindo mais e estão mais fortes. É como se houvesse um descontrole ainda maior em relação ainda maior sobre esses vazamentos”, conclui Vidal Maia.
A situação tem feito com que muitas pessoas deixem o local para proteger a sua saúde e a de seus familiares. “Tudo o que nós tínhamos, investimos aqui na compra deste apartamento. Tudo! Não sobrou reserva nenhuma. Investimos em um sonho, ‘vamos morar bem, viver bem’. E muitos moradores abandonaram seus apartamentos. O que mais tem aqui é apartamento vazio, pessoas que foram embora por conta do gás”, relata Yara, que investiu todas as suas economias e as do marido no sonho da casa própria para morar junto com as filhas, que hoje moram com a avó na Bahia por causa das reações aos gases.
O Ministério Público do Estado de Pernambuco (MPPE) entrou com ação civil (nº 2357-28.2021.8.17.2730) que está em tramitação na 2ª Vara Cível de Ipojuca em desfavor à Petrobras sobre os danos ambientais e à saúde dos moradores. Em nota, o MPPE informa que foi solicitada uma perícia médica nos moradores e uma auditoria externa das instalações físicas e dos dados de emissão da refinaria.
“A gente precisa atentar para a localização das estações de monitoramento. As estações de monitoramento que, segundo a CPRH estão indicando que as emissões atmosféricas vindas da refinaria estão dentro dos parâmetros legais, talvez essas estações não estejam localizadas nos pontos ideais de acordo com a direção dos ventos, para onde os ventos direcionam mais esses poluentes. Então temos que ficar atentos à forma que essas medições estão sendo feitas”, alerta a assessora jurídica.
A principal cobrança dos moradores é a finalização da construção do SNOX, a Unidade de Abatimento de Emissões, que ao que consta foi 70% construída, mas nunca finalizada. Este é um equipamento de filtragem que minimiza a propagação dos gases, o que impediria esses efeitos nas comunidades.
“Porque a nossa vida não está tendo prioridade aqui? Quantas crianças vão continuar ficando órfãs aqui? Quantas mães vão estar chorando no caixão do filho? Quantas pessoas vão continuar sendo hospitalizadas? Porque até então quem está pagando o alto preço com a própria vida é povo”, reclama Yara, vizinha da RNEST.
Em nota, a Petrobras alega que “a Refinaria Abreu e Lima (RNEST) opera conforme padrões internacionais de saúde, segurança e meio ambiente. A companhia monitora a qualidade do ar do seu entorno em tempo integral e as análises demonstram que a refinaria opera dentro dos padrões ambientais estabelecidos pela legislação. A refinaria opera normalmente e não há registro de nenhuma intercorrência na operação da unidade que possa colocar em risco a saúde da comunidade do entorno”.
Edição: Vinícius Sobreira