Para Bolsonaro, mentir faz parte da forma de fazer política
Tem um ditado popular que diz que uma mentira repetida por várias vezes pode se tornar verdade no consciente popular. As fake news, que sempre foram uma das armas para as elites políticas se manterem no poder, foram ampliadas pelas redes sociais, distribuídas para milhares de pessoas simultaneamente, repetidamente. Ao mesmo tempo em que a mensagem se espalha com intensidade, ela também assume um caráter de agressividade, principalmente se a mensagem chega no formato de pequenos vídeos.
A grande maioria das pessoas, de forma quase espontânea, sem questionar conteúdo, compartilham a mentira. Este tipo de mensagem distorcida da realidade assume mais rapidamente uma ideia de uma mensagem verdadeira. As pessoas assimilam mais rapidamente, quase que em tempo real, ao momento em que a mensagem é criada ou em, tempos digitais, clicada.
Na movimentação contrária, esse comportamento tão espontâneo e automático não ocorre. Quando alguém fica sabendo que a informação compartilhada, tratava-se de uma fake news, dificilmente, conseguimos fazer o mesmo caminho de volta, para desmentir a mensagem ou informar que a mensagem não era verdadeira, com a mesma velocidade. A esta altura, a mensagem compartilhada já ganhou o mundo e causou tanto efeito e estrago que fica impossível de consertar. A mensagem já está tão difundida que dificilmente é possível mensurar suas consequências.
Compartilhar este tipo de mensagem tem se transformado em caso corriqueiro. Para muitos, utilizar as redes sociais para espalhar fake news parece normal, se esconde atrás da tecnologia sem receio. Quase sempre por maldade, intencionalidade ou até por ingenuidade. No mínimo, esta atitude é falta de ética, e de responsabilidade. Pior ainda, quando se trata de uma autoridade política que ocupa o maior cargo político do País.
O presidente usa as redes sociais para espalhar mensagens falsas, ódio, intolerância, preconceito e negacionismo. Justamente ele, que deveria dar exemplo de responsabilidade. Diferente da maioria da população que compartilha fake news por ingenuidade, no caso do presidente, ele cria e compartilha intencionalmente as mensagens que faltam com a verdade, por ideologia neofascista e conservadora, com objetivo de confundir a população, criando um ambiente nacional de desconfiança, divisionismo, de ódio, de preconceito e desesperança. A ideia que se tem é que Bolsonaro vive e se alimenta de mentiras virtuais.
Para Bolsonaro, mentir faz parte da forma de fazer política. Ele ganhou as eleições de 2018 espalhando notícias falsas ou enganosas. A família Bolsonaro governa o Brasil com mentiras e provocou um genocídio, com mais de 610 mil mortes, em consequência da pandemia do Covid-19. Aliás, ele próprio e seus filhos, já são, por si só, uma grande mentira. A facada das eleições de 2018 poderá se transformar, na hora que houver uma investigação séria, na maior mentira da história republicana, que levou Bolsonaro a ganhar as eleições. A reabertura do processo autorizada pelo TRF1 poderá esclarecer primeiro se houve de fato a facada, como também se ela foi proposital por uma ação individual de Adélio Bispo, ou se havia uma intencionalidade para alterar o processo eleitoral.
Em outubro, viralizou nas redes duas mensagens: a primeira, criada por ele ou pelo seu núcleo ideológico, vinculava as vacinas contra o coronavírus à probabilidade contrair o vírus HIV. Esta fake news, poderia levar a população a um prejuízo social e sanitário devastador, se o governo não estivesse com tanto descrédito. Pois bem, por mais que toda imprensa nacional, cientistas e muitas autoridades tentaram reagir contra e desmentir a mensagem, a informação já tinha circulado em todas as redes e grupos. Alimentando nos bolsonaristas, ainda mais, o negacionismo e mais argumentos falsos contra a vacinação.
Neste texto vou me referir diretamente a uma mentira compartilhada por Bolsonaro que atingiu diretamente o MST. Demonstrando que o presidente está se superando na qualidade das mentiras criadas e compartilhadas. Neste caso, um militante bolsonarista publicou um vídeo supostamente denunciando a destruição de casas do Residencial Cruzeiro, em Santa Cruz do Capibaribe. Segundo o vídeo, as casas foram invadidas e destruídas pela MST. No vídeo, algumas casas aparecem destruídas e algumas até queimadas. Diante da mensagem, caberia ao presidente, ao receber o vídeo, repassar as denúncias para os órgão competente para a devida investigação, de destruição contra o patrimônio público.
Uma atitude correta para uma autoridade republicana. A atitude do presidente foi totalmente ao contrário. Ao receber o vídeo, certamente deu uma gargalhada e comentou em tom de deboche: agora eu “lasco” com estes comunistas do MST e do PT. E em seguida, sem analisar o conteúdo do vídeo, compartilhou em suas redes sociais e seus seguidores compartilharam nos grupos de WhatsApp. Em poucas horas a mensagem escandalosamente mentirosa estava circulando por todo o Brasil seguidas de perguntas irônicas e debochadas. O MST sempre assume a responsabilidade das atividades realizadas. A nossa marca é a bandeira no mastro. Neste caso do Residencial Cruzeiro, não tinha mastro, muito menos a bandeira. Qualquer um consegue identificá-la em uma ação do MST.
Os nossos amigos, preocupados, nos enviavam o vídeo buscando informações para se contrapor nas redes. Mas, até você reagir, buscar informações do local, certificar a origem e a motivação da denúncia, leva um bom tempo e é quase impossível fazer com que uma contra mensagem circule e faça o mesmo o caminho de volta com a informação verdadeira. A grande maioria da população, que recebeu o vídeo, não vai receber notas explicativas, dando conta de que não se passava de mais uma mentira, criada por um “bolsominion” de carteirinha para se promover politicamente. Descarregando no vídeo o que é próprio do comportamento neofascista, uma enorme carga de ódio, de preconceito contra o povo e as organizações políticas e sociais.
Felizmente, neste caso do vídeo da suposta denúncia da destruição do Residencial Cruzeiro, a mentira criada foi tão absurda e carregada de tanto ódio, que a maioria das pessoas acabaram entendendo o exagero das informações e a fake news caiu logo em descrédito. Da mesma forma, o autor do vídeo e o presidente, que ao compartilhar, foi cúmplice desta mentira, também caíram no descrédito da população. Mentiras digitais em tempos de fake news também podem ter efeito bumerangue. Pior que criar uma mensagem digital mentirosa é compartilhar propositalmente.
Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.
Edição: Vanessa Gonzaga