Nos próximos meses, entre janeiro e abril, é considerado o período invernoso no sertão nordestino. Isto porque é nestes meses que se concentram as chuvas mais fortes na região e são os mais favoráveis para o plantio.
Na região, as mudanças climáticas não são pensadas somente através da meteorologia, mas também a partir dos chamados profetas das chuvas, também conhecidos como guardadores de experiências. São homens e mulheres que fornecem previsões para as suas regiões a partir da observação da natureza.
“Ser profeta das chuvas é uma grande experiência que fazemos com a natureza. Observando o tempo, observando os ventos, observando os animais, as plantas, a floresta, as formigas, todos os seres vivos da terra nós temos que ter observação”, é o que sente Antônio Zeferino, profeta das chuvas e agricultor da zona rural do município Pedro II, no Piauí, que já vem observando os sinais da natureza para as próximas chuvas. “A gente viu que quando a chuva passou agora em novembro, ela marcou chuva para o mês de dezembro. Ela ficou pendida e estamos esperando chuvas para dezembro”, prevê.
O ano de 2021, apesar de ter tido um volume de chuvas considerado dentro da média pelos meteorologistas, ainda assim não foi um ano bom de chuvas na região, com o aumento das áreas de seca grave nos estados do Piauí, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Bahia, segundo dados do Monitor das Secas do Brasil.
“Embora o volume de chuvas tenha sido dentro do esperado, esse esperado é pouco para a região. Só pra você ter ideia, devido à insolação, devido à evaporação que ocorre, ou seja, o aquecimento faz com que toda a água evapore. Então, a evaporação anual é em torno de 2.000 milímetros. No mesmo ano em que chove 600 milímetros, a evaporação anual é de 2.000 milímetros. Então, essa água toda vai se perder - vai evaporar - se não for consumida rápido”, aponta Roberto Pereira, meteorologista da Agência Pernambucana de Águas e Clima (APAC), que é parceira do Monitor de Secas do Brasil
Ainda que as informações científicas e os conhecimentos populares nem sempre estejam em concordância, os camponeses e moradores do sertão nordestino estão atentos à todas as informações para estarem sempre prontos para começar o plantio, aliando as informações científicas da meteorologia e os saberes populares dos profetas das chuvas e da observação da natureza passada de geração em geração.
“Isso é um fato que a gente vem acumulando: medir chuva, observar o tempo, observar os fenômenos da natureza, os insetos, o movimento das formigas, das abelhas, isso tudo ajuda a gente a somar o popular e o científico nesta questão da ciência também, da ciência do cotidiano, da experiência das famílias com o estudo científico que as universidades fazem”, como afirma o agricultor agroflorestal Vilmar Luiz Larmen, da região da Chapada do Araripe, no município de Exú, em Pernambuco.
Para a meteorologia, o próximo inverno sertanejo em 2022 deve apresentar chuvas acima da média, devido ao fenômeno do La Niña. “Devido às condições oceânicas que a gente está enfrentando para o ano que seria o La Niña, que estaria acontecendo no Oceano Pacífico e é um esfriamento das águas superficiais do oceano Pacífico na parte equatorial e uma temperatura acima do normal no Oceano Atlântico, isso favorece as chuvas, principalmente no sertão. Então, dentro dos modelos que são programas de computador que a gente coloca as variáveis e tenta estimar como vai ser o comportamento nos próximos meses, ele está dando que vai ter chuvas em torno do normal com a tendência de ser um pouco acima do normal”, avalia o meteorologista.
Também os profetas das chuvas indicam que o próximo período invernoso deve ser abundante, a partir dos sinais dos ventos e da lua. “Vai apresentar um verãozinho no final de janeiro para fevereiro, mas depois o inverno continua. Fevereiro, março vai ter chuvas finas e chuvas grossas pelo meio uma das outras, conforme o vento que a gente observou”, indica Antônio Zeferino. “Então, vai ser o inverno médio, igual a este que passou, um inverno bem temperado, um inverno criador. Que os lavradores tenham fé, acunhem as enxadas para fazer o plantio com muita fé, muita perseverança”, conclui.
Edição: Vanessa Gonzaga