com o avanço das ondas do nazifascismo cheias de ódio é preciso inventividade intelectual e afetiva
"Eu vou fazer uma canção pra ela. Uma canção singela, brasileira. Para lançar depois do carnaval. Eu vou fazer um iê iê iê romântico. Um anticomputador sentimental. Eu vou fazer uma canção de amor. Para gravar num disco voador. Eu vou fazer uma canção de amor. Para gravar num disco voador. Uma canção dizendo tudo a ela. Que ainda estou sozinho, apaixonado. Para lançar no espaço sideral"
Caetano Veloso canta na sua música “Não Identificado”, gravado por ele em 1969 e um ano antes, por nada mais nada menos pelo corpo e voz de Gal Costa, que ele, o filho de Dona Canô, ia gravar um disco não numa gravadora e tão pouco lançar na rádio ou na televisão. Esse cara é genial! Conectado lá e, que o diga, logado mais aindaagora no seu último álbum. Tá ligado? Penso e sinto o mesmo. É preciso inventar e se reinventar o tempo todo, principalmente desde de agosto de 2016 pra cá. Precisamos mais do que a lua se reinventar nova, crescente, gibosa, cheia, minguante. Teimosamente se inventar cotidianamente com o sol. Esta canção se tornou para mim como um hino de ano novo.
Mais do que nunca, com o avanço das iníquas ondas do nazifascismo cheias de ódio é preciso inventividade intelectual e afetiva proposta por esta canção. Igualmente, como aumento da pobreza e o desequilíbrio ecológico pautados por uma agenda econômica ultra neoliberal, é necessária muita criatividade cheia de amorosidade, sabedoria e força para o enfrentamento das injustiças ecosociais que a humanidade clama e a terra geme. Ao mesmo tempo, como adoençamento físico, psíquico e espiritual que nos entristece e nos angustia, que nos deprime e causa ansiedades e outras dores,a gente tem que ter mesmo esse engenho de gravar um disco voador e lançá-lo no espaço sideral com uma canção de amor, brasileira.
Cantar de Caetano a Dalva de Oliveira que naquela “Marcha de quarta-feira de Cinzas” não via mais ninguém a sorrir, a se abraçar, a se beijar, a cantar e a dançar cantigas de amor, mas, nos juntamos agora eu e você, leitora e leitora amiga/a a essa Diva, e cheia de esperança entoavafortemente que, no entanto, é preciso cantar “Mais que nunca é preciso cantar. É preciso cantar. E alegrar a cidade. A tristeza que a gente tem. Qualquer dia vai se acaba. Todos vão sorrir. Voltou a esperança. É o povo que dança. Contente da vida feliz a cantar”. Das folhas cibernéticas deste artigo ainda que o ódio, mesmo que as agressões e mesmo assim com tantos opressores e oprimidos no país e no mundo, nós, sem alienação, “enquanto houver espaço, corpo, tempo e algum modo de dizer não, eu canto”, Belchior, pois a gente via sorrir de novo. “Vê, como é bonita a vida.Vê, há esperança ainda.Vê, as nuvens vão passando.Vê, um novo céu se abrindo.Vê, o sol iluminando.Por onde nós vamos indo”.Que tal a gente escutá-las em uma dessas plataformas digitais?
2022.Vamos gravar num disco voador, muita criatividade. 2022. Vamos lançar músicas no espaço sideral, bastante inventividade. 2022. Vamos cantar uma canção de amorcopiosas engenhosidades. Canta, Santo Amaro! Melhor, canta, Natal! Canta, Recife! Canta, Brasil e mundo inteiro porque “a verdade e o amor se encontrarão, a justiça e a paz se abraçarão” como na canção tão antiga e tão nova do Salmo 85. A frase de começo desta canção de amor será a mesma do início do livro bíblico dos Cânticos dos Cânticos, do Amado cantando para Amada, “beija-me com os beijos de tua boca”. Quando a gente estiver cantando e dançando em ciranda e coco, frevo e maracatu, samba e bossa, baião e xaxado, funk e rap, reggae e brega, clássica e pop, forró e rock roll e toda diversidade musical, me lembrarei dos salmistas bailando com címbalos sonoros o Salmo 25 “Quando o Senhor reconduziu nossos cativos, parecíamos sonhar; encheu-se de sorriso nossa boca, nossos lábios, de canções”.
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Edição: Rani de Mendonça