Há mais de 50 anos a família da arquiteta Renata Eskinazi, no Recife, fazia uma festa antes do Natal para confraternizar. Mesmo nos momentos mais difíceis que a família enfrentou, como a morte de entes queridos, os quase 70 parentes se reuniram, acreditando na máxima que diz que a união faz a força. Mas no ano passado não teve jeito. A pandemia da covid-19, no entanto, fez com que a tradição de meio século fosse quebrada em 2020 pela primeira vez.
Atentos ao isolamento social, o melhor que puderam fazer foi uma reunião remota – em que todos compareceram. Agora, com todos os membros vacinados, a família é uma das muitas que se reencontram presencialmente depois de tanto tempo longe, em festas adaptadas para minimizar as chances de contaminação pelo coronavírus.
Os Eskinazi se reuniram no último dia 11 de dezembro. Veio gente do Rio de Janeiro, do Ceará e até da Europa. “Todo mundo que pode, vai. A comemoração acontece antes do Natal para que todos possam ir.”, conta a arquiteta de 53 anos. “É como se fosse um dia sagrado. Quem está trabalhando dá um jeito de ir. É um momento de extrema importância para a gente, para estarmos juntos. Todo mundo se prepara para isso. É um encontro muito especial, o sentimento que predomina é de união”, define.
Dada às circunstâncias, a reunião deste 2021 foi ainda mais comovente. “A gente ficou muito emocionado de conseguir se encontrar de novo. Foi maravilhoso”, celebra Renata. Para torná-la viável, os organizadores atentaram para implementar algumas mudanças a fim de garantir a segurança dos participantes.
A começar pela comida, que antes ficava disposta em uma grande mesa. Dessa vez os seis núcleos que compõem a grande família comeram cada um em sua mesa separada. A festa também ficou mais curta e foi realizada em local aberto. Quem não pôde comparecer pessoalmente se fez presente por vídeochamada. “A expectativa é no próximo ano estar mais parecido ao que era antes”, espera a arquiteta.
Outra família que também vai se reunir pela primeira vez é a da advogada Eugênia Simões. “Quando meus pais estavam vivos a gente sempre se reunia no interior, em Alagoinha [no Agreste] ou em Afogados da Ingazeira [no Sertão de Pernambuco]. Depois que eles faleceram, eu assumi a tradição e faço aqui na minha casa, no Recife”, relata.
Desde então, há cerca de 15 anos, Renata, o marido e os dois filhos recebem no dia 24 as famílias do irmão dela e dos três irmãos dele - casais e filhos -, somando 21 pessoas no total. A exceção foi em 2020. “Naquele momento a recomendação era não reunir mais de 10 pessoas, então a gente se dividiu. O meu núcleo familiar (quatro pessoas) foi para casa de uma amiga, onde havia mais três amigos”, recorda.
Mesmo estando cercada de pessoas que ama, a advogada não pôde evitar sentir-se abalada. “Não era só a separação de não fazer a festa, mas o momento de muita tristeza que estávamos vivendo. Tivemos sorte porque não perdemos ninguém, mas você sente por não estar todo mundo junto”, comenta.
Tanto Renata quanto seu filho mais novo, de 19 anos, tiveram casos leves de covid-19 antes do Natal de 2020. “Durante as festas de fim de ano eu fiquei mais sensível, chorava com qualquer coisa, principalmente pensando nas outras pessoas. Agradecendo por ter passado sem grandes problemas, mas no sofrimento do coletivo”, recorda.
Este ano todos estão imunizados – pelo menos 5 com a terceira dose –, o que deu segurança para retomar a ceia na casa de Renata. “Quero dizer: se a ômicron deixar”, ri. A advogada já planejou adotar algumas medidas de segurança para a ocasião. “Eu costumava servir castanhas e outros petiscos em que cada um botava a mão. Agora vou botar porções individuais. Também não vou colocar todo mundo na mesa. Vai cada um ficar no canto para não ficar muito próximo. Só uma pessoa vai servir [a ceia], para que não fiquem todos pegando nas colheres. E um álcool em gel sempre à mão”, elenca.
Independentemente dos cuidados, ela tem certeza que a festa vai ser uma farra. “Natal já é uma época que eu gosto muito, por ser um momento de juntar a família. E depois de dois anos sem ter, vamos comemorar com mais força, porque passar por tudo isso e chegar até aqui, a gente tem que agradecer mesmo e celebrando”, afirma.
Edição: Vinícius Sobreira