Pernambuco

Coluna

Nova organização para as Igrejas e para o mundo

Imagem de perfil do Colunistaesd
"Não adianta o papa Francisco denunciar o clericalismo, se este é o próprio sistema atual e se sustenta pela divisão entre clérigos e leigos" - ALBERTO PIZZOLI/AFP
O Vaticano é a única monarquia absoluta que ainda persiste no ocidente

O papa Francisco convoca a Igreja Católica para que, no mundo inteiro, comunidades católicas, assim como padres, religiosos/as e bispos, aprofundem um processo de consulta e diálogo, em preparação à XVI sessão ordinária do Sínodo dos Bispos. 

O papa propõe um caminho em três etapas. Até abril de 2022, deve ser a fase diocesana, constituída por ampla consulta das bases. A segunda fase, de abril a setembro deste ano, será nacional e depois virá a continental, até abril de 2023. Finalmente, o processo confluirá no encontro mundial dos bispos, em Roma em outubro de 2023. A proposta do papa é que a sinodalidade se torne o modo novo de viver a fé. Em grego, o termo syn odos significa caminho em comum. 

Nos séculos mais recentes, é a primeira vez que um papa enfrenta oposição aberta de cardeais, bispos, padres e grupos eclesiásticos. O papa Francisco convive com isso. Mesmo entre os que o aceitam, muitos o ouvem e até o citam, mas não colaboram com o seu projeto. O papa  sabe que bispos, padres e religiosos/as são preparados para obedecer ou mandar. Não são educados para o  diálogo e para caminhar juntos. O Vaticano é a única monarquia absoluta que ainda persiste no ocidente. Sua política continua arbitrária e sem transparência. 

Em nome do papa, o Vaticano nomeia bispos; os bispos nomeiam os padres e, nas paróquias, os padres só precisam prestar contas ao bispo. Não adianta o papa Francisco denunciar o clericalismo, se este é o próprio sistema atual e se sustenta pela divisão entre clérigos e leigos, criada no século IV. Enquanto este sistema não for estruturalmente transformado, falar em sinodalidade parece brincadeira para disfarçar a sobrevivência do autoritarismo eclesiástico.   

A proposta que o papa faz à Igreja corresponde à democracia participativa e direta que os movimentos populares fazem à sociedade civil e aos Estados. No mundo, os sistemas políticos também estão em crises. Os partidos parecem desacreditados e os governos precisam mostrar que não são apenas gerentes credenciados pelas empresas e pelo capitalismo financeiro para administrar os países a serviço do dinheiro e dos lucros da elite. 

Desde algumas décadas, na América Latina e na África, os povos originários propõem a toda a humanidade o paradigma do bem-viver, centrado na primazia da vida, no respeito aos bens comuns e na comunhão entre as pessoas, entre os povos e com toda a natureza. Se as Igrejas cristãs se converterem ao caminhar juntos como modo de viver o discipulado de Jesus, finalmente, poderá se tornar verdade a afirmação de um pastor da Igreja do século IV quando afirmou: “A Igreja cristã deve se organizar, como um ensaio do mundo do jeito, que Deus quer que o mundo seja”.

Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.

Edição: Vanessa Gonzaga